Mauro Werkema
O Brasil é país das contradições e diversidades. E são muitas, nas condições sociais, nas desigualdades regionais, na economia, nas heranças humanas e raciais. Mas tais desigualdades nem sempre são negativas ou constituem empecilhos a um desenvolvimento socioeconômico mais justo e igualitário. Mas, nos últimos anos transparece, de maneira dramática e preocupante, o aumento da criminalidade, que se faz presente em todo o território brasileiro, mas com extremo crescimento no Rio de Janeiro e São Paulo. Amplia-se extraordinariamente o crime organizado, com ganhos extraordinário de dinheiro escuso e avançando, em ousada e contínua expansão, para o domínio de outros “negócios”, postos de gasolina, distribuição de gás, motéis, transporte coletivo, transporte de cargas, drogas, mortes encomendadas, e setores ainda não bem identificados.
E cresce também a criminalidade nas ruas, particularmente no Rio e São Paulo, com assaltos à luz do dia, especialmente por motos, com mortes. Todo dia, nos noticiários, nos surpreendemos com a ousadia e o crescente número de ocorrências, em escalada que permite prever que irá aumentar, apesar da presença de gravações de rua e mesmo da presença policial. Tal situação está a exigir reflexão, mas ampla e mais eficaz em razão da proporção que a criminalidade vem atingindo seja a mais organizada ou de jovens delinquentes das ruas. Afinal, o enfrentamento desta situação dependerá, para ter sucesso, apenas da repressão policial, ou de outras ações educacionais, preventivas, do combate à pobreza extrema, de ações psicossociais dos aglomerados favelados?
Está na hora de um enfrentamento mais amplo, competente, inteligente, preventivo, com ação social, com inteligência policial, de avanço dos meios de vigilância, controle e prevenção, sem o que a escalada do crime, de todos os tipos, mas, e especialmente o organizado, extrapolará Rio e São Paulo e se ampliará para outros Estados, como parece que está acontecendo. E que este enfretamento se sustente também na legislação, na punitiva e na preventiva-educacional, com base em reconhecimento das condições humanas dos próprios delinquentes e as origens de seus desvios para os crimes. Nos nossos dias as estatísticas da criminalidade assustam e já se tornaram calamidade pública grave, complexa, penosamente danosa à sociedade brasileira e aos seus esforços de evolução humana, social e humanitária.
Não é tarefa fácil nem de solução imediata, mas está a exigir ações imediatas, em esforço conjunto de governos, poderes Judiciário e Legislativo, organizações sociais e até o empresariado que também vai se tornando vítima desta perigosa realidade. Cabe ainda a reflexão que o combate à criminalidade não pode ater-se somente aos mais pobres, desvalidos da sociedade injusta, sem educação e meios de sobrevivência. Há maus exemplos no Brasil, entre os mais ricos e de fortuna fácil, aos políticos desviantes, nas dificuldades de acesso à educação, emprego e serviços públicos, nas injustiças de toda ordem de uma sociedade desigual.
Enfim: não se resolverá esta grave e urgente questão somente com a ação policial, mas com ações mais amplas, preventivas, identificando origens, causas básicas deste aumento extremo das criminalidades, a extensão preocupante para outras atividades além dos assaltos de rua. Mas é certo também que se não ocorrerem ações eficazes na prevenção, antes e além do combate policial, vão assistir, em não tempo muito distante, uma escalada terrível do crime, sobretudo do organizado, que tem se mostrado ousado e inteligente. E em contínua expansão já transbordando o Rio e São Paulo.