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A necessidade ética do pedido de desculpas I

Diz-se, comumente, que só não erra quem não trabalha. Da mesma forma, pode-se dizer quanto à possibilidade de uma pessoa ofender, causar danos, prejudicar, ainda que involuntariamente, outra pessoa; só não faz isso quem não convive, não interage com outra pessoa, ou já morreu. Todos somos propensos a atingir o semelhante, de forma a magoá-lo em alguma circunstância: uma pisada no pé, um esbarrão, uma palavra inoportuna, uma palavra ríspida, um gesto grosseiro, um atraso no compromisso, um esquecimento, entre os casos comuns e mais simples, pois há os graves e específicos.

Para todos os casos, a ética, o bom senso e as normas de civilidade impõem ao causador um pedido de desculpa à pessoa ofendida. O pedido de desculpas é manifestação de humildade e reconhecimento de falhas, sejam estas voluntárias ou involuntárias. No âmbito ético, a importância de um pedido de desculpas transcende a simples formalidade e se configura como um ato de responsabilidade e consideração pelo próximo.

O conceito de ética está intrinsecamente ligado ao comportamento humano e às interações sociais. Quando uma pessoa, mediante palavras, gestos ou ações, causa danos a outra, a ética impõe a necessidade de um pedido de desculpas. Esse gesto é a forma de reconhecer o erro e buscar a reparação, demonstrando respeito e empatia pela pessoa afetada. Nos casos do dano ou ofensa ter sido causado intencionalmente, em nada adiantam o reconhecimento e o arrependimento em relação ao erro, se o sincero pedido de desculpas não é dirigido â vítima que, por sua vez, em gesto de boa vontade, deve aceitá-lo, em qualquer situação da ofensa, voluntária ou involuntária, necessário se faz o pedido de desculpas, porém, no caso voluntário, a necessidade do pedido tem mais peso e exigível, se a ofensa é de domínio público, judicializada ou não. Nesses casos, a necessidade de um pedido de desculpas é mais premente. Ante palavras ou atos contra a imagem pública de uma pessoa, o pedido de desculpas é o mínimo, sem prejuízo dos direitos, garantidos por lei, que a vítima pode pleitear junto à Justiça. A esfera pública adiciona certa camada de gravidade, em decorrência de o impacto ir muito além e não se restringir as duas   personas primeiras; e a parte ofendida fica exposta aos olhos dos demais, culpada de algo, do qual é inocente.

Conta-se que um padre, ao ouvir um penitente, em confissão, que este havia disseminado uma inverdade a respeito de outra pessoa, deu-lhe a seguinte penitência:  que, no domingo seguinte, em sua casa, quando fossem preparar o franguinho (do terreiro) para o almoço, fossem coletadas todas as penas e, depois de devidamente secas, fossem colocadas num saco. Posteriormente, deveria ele, o penitente, subir ao alto da torre da igreja e, de lá, derramar ao vento todo o saco de penas. Depois de feito isso, deveria ir em busca de cada pena, uma a uma, sem a perda de qualquer delas. – Mas, isso é impossível, padre! – Exclamou o penitente – Pois é, meu filho, todas juntas, as penas disseminadas ao vento representam a reputação da pessoa ofendida. Embora ao inocente baste sua consciência tranquila, mil pedidos de desculpas ou perdão não reconstituem, junto ao público, sua reputação destruída pela palavra caluniosa, por exemplo. A confiança, pilar fundamental nas relações humanas, uma vez quebrada, pode ser difícil de se restaurar.

Todo este discurso em torno da necessidade do pedido de desculpas, quando necessário, se justifica pelo declínio do senso de responsabilidade pessoal com relação ao semelhante. Há uma clara perda de noção do que é certo e do que é errado; erros que, além de não reconhecidos, são debitados à conta de outros. Para levar vantagem vão além do “jeitinho”, pois escrúpulo e ética são mandados às favas, em tentativas de reverter, em desfavor do semelhante, situações em que elas próprias se meteram, e, mediante isso, ainda tentam auferir lucro. Infelizmente, a decadência moral faz assaltantes a honra e direitos de quem lhes aparece, não deixando escapar nem quem, de alguma forma, os beneficia. É também este texto um preparo para o que vem, nas próximas semanas, algo a sugerir valores invertidos em mundo paralelo, no qual se tenta extorquir semelhantes, de forma legal.

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