Mauro Werkema
O Brasil vem apresentando indicadores sócio-econômicos positivos mas este crescimento não se traduz, até agora, em benefícios reais quanto ao custo de vida. Ou seja, não facilita o maior acesso das populações de menor poder aquisitivo aos principais meios de consumo, em especial à alimentação, segundo apontar relatório do IBGE. A rigor, se o poder aquisitivo da população melhora e seu poder de compra aumenta, por uma lei básica da economia os preços deveriam baixar para favorecer a venda e a movimentação dos negócios. No entanto, no Brasil, apontam os economistas, os preços em geral seguem uma antiga e enraizada conduta especulativa e gananciosa de aumentar os preços mesmo quando é maior a oferta dos produtos, especialmente na cesta alimentar.
É o que qualquer cidadão pode verificar quando vai ao comércio e, de modo especial, na compra de alimentos. Todas as ofertas estão reajustadas em gananciosa resposta à elevação do poder aquisitivo da população, determinado pelo aumento dos empregos. No momento, a taxa de desemprego caiu para 6.2%, tida por alguns economistas como pleno emprego. E o crescimento macro-econômico deverá alcançar 3,2% ou até 3,5%, neste 2024, índices muito relevantes mesmo perante o cenário internacional. A inflação, pressionada pelos preços especulativos, sobe para o limite da meta, de 4,5%, justamente pelo caráter especulativo dos preços que compõem mercadorias básicas e serviços.
O reajuste de preços, de mercadorias básicas da alimentação, mas também dos serviços, é prática automática. Serve mais à especulação gananciosa do que a lei da oferta e da procura que, em situação normal de competitividade, deveria ser regida pela disponibilidade de produtos. O que vemos, e de maneira clara nos últimos dias, é uma constante elevação de produtos básicos da cesta alimentar, desde o arroz e o feijão, carnes e especialmente vegetais, folhas e, exponencialmente, frutas. Esta é uma realidade antiga e que, de maneira clara, ultrapassa a justa necessidade do comércio de ter preços que remunerem sua atividade e pague seus custos.
Estão nos jornais dados divulgados pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras): aumento médio de 12,4% nos preços das festas de Natal nos últimos dias. O bacalhau subiu 18.4%, o pernil 15,3%, a carne bovina 13,5%. Outros componentes típicos da ceia natalina subiram mais de 10% nos últimos dias, preços meramente especulativos que se aproveitam do espírito natalino. E os preços de produtos importados, que tem impacto pela elevação do dólar, cresceram muito mais, com maiores lucros embutidos para aproveitar a valorização da moeda estrangeira e que, por sua vez, subiu por especulação oportunista do chamado “mercado” . Instituição que, no Brasil, serve ao capital especulativo. E não tem compromisso social mas apenas com os lucros possíveis no ritmo das crises econômicas e políticas brasileiras.
Em meio a esta realidade especulativa e socialmente negativa, o governo federal tentou baixar e controlar custos, em programa considerados insuficiente e de pouca consequência efetiva. As grandes injustas da sociedade brasileira não foram abordadas e privilégios, de setores que ganham muito, com outros que vivem da especulação e do Tesouro Público, não são atingidos. Reduzir custos públicos é fundamental até para que o governo tenha recursos para seus programas sociais. Conseguirá cortar os altos salários de funcionários públicos, cortará os privilégios extraordinários que oneram os cofres públicos? Conseguirá reduzir as vantagens excepcionais do Poder Judiciário, dos militares, das emendas parlamentares, dos multimilionários do capital especulativo?
A indagação básica é: conseguia impor responsabilidade fiscal, onde o equilíbrio entre receita e despesa seja capaz de termos um orçamento realista e exequível, com justa distribuição de recursos, cortados os privilégios e com pagamento realista de uma dívida consolidada que já alcança R$ 8 trilhões? E conseguirá, com a mudança do Banco Central, uma taxa Selic bem menor, hoje em 11.25%, que paralisa a economia para conter a inflação? Paraíso dos especuladores, o Brasil é complexo, rico pela natureza, mas difícil.