Por Nylton Gomes Batista
Por que ter amigos? É da natureza humana cada indivíduo viver em sociedade, ter em volta de si pessoas com as quais possa interagir, trocar experiências, buscar o melhor, desenvolver-se. O primeiro grupo de pessoas é o da família, mas ele o transcende, indo em busca não só de semelhantes na espécie, mas que se afinem também com suas ideias, ideais, aspirações etc. Essa coincidência entre duas ou mais pessoas as torna, supostamente, amigas. Ao longo da vida, de acordo com sua personalidade, extrovertida ou introvertida, o indivíduo procura expandir, mais ou menos, o seu círculo de amigos.
Por que tanto interesse em ter mais amigos? Primeiramente, por meio da corrente de amigos, ele pode obter sucesso naquilo que todo indivíduo busca, o próprio desenvolvimento; busca-se como aprender, onde aprender, com quem aprender, busca-se trabalho, busca-se conhecimento. Enfim, na interação com seu semelhante, especialmente se este integra seu suposto círculo de pressupostos amigos, o indivíduo amplia sua conectividade com o mundo. Em seguida, vem a vaidade, o orgulho ao se gabar de ter tantos amigos e poder nomeá-los na alta roda, nos pontos chaves do poder político-social-econômico. Pura ilusão! Pode-se até não encontrar amigos de verdade entre os muitos contados! Muito comum ouvir-se a expressão “não, ele(a) não tinha inimigos(as); sempre foi pessoa amiga de todos”, por ocasião de investigações policiais. Pura ingenuidade, pois um amigo falso pode ser o culpado! Dizer ser amiga, esta ou aquela pessoa, é pura presunção!
Aqui entra, mais uma vez, a questão da diferença entre o TER e o SER. Neste mundo material, muitas vezes prevalece a ideia de que o indivíduo vale pelo que possui, em valores e propriedades, razão pela qual muitos deixam a ética de lado e, ainda que legalmente, optam pelo acúmulo de bens, sem muito se importar com a sorte do semelhante que, de alguma forma, pode ser prejudicado. Nada de errado há em ter ou possuir tudo que a pessoa queira, desde que essa aquisição seja feita com base na ética, de forma honesta e a posse se mantenha sem que agrida os direitos de outrem. Nada há de errado em uma pessoa ser rica. O errado pode estar na maneira como a pessoa usa a riqueza ou se comporta com relação a ela. O errado está em, principalmente, considerar os bens acima dos valores humanos, que devem nortear a vida de uma pessoa, que se queira em harmonia com seu semelhante, em todas as esferas e quaisquer situações. Riqueza não é crime ou pecado e pobreza não é virtude! TER ou não TER não importa. Em qualquer condição social, o mais importante é SER!
Ao transpor esses conceitos para a área do relacionamento dito amigável, verifica-se que que a relação é a mesma, embora a realidade do TER bens e valores seja diferente do TER amigos. Enquanto se sabe o quanto tem ou possui em bens materiais, na área da amizade não se sabe quem é e onde está o amigo, pois conforme já esclarecido, nem sempre o considerado amigo o é de fato. Pode-se ter amplo círculo social, porém amizades verdadeiras pode até não haver. Mas isso não interessa ou não deveria interessar a qualquer pessoa. TER amigos, ainda que, com certeza, não se saiba quem, é muito bom, mas SER amigo é muito melhor. Para si próprio, as consequências favoráveis do SER amigo vão muito além das alcançadas ao TER amigo A amizade sincera pode alegrar a pessoa em foco ou contemplada, mas é muito mais benéfica a quem a vota ou oferece, na mesma proporção em que dar pode ser melhor que ganhar! Percebe-se, então, que também nas relações sociais, as pessoas tendem a inverter a orientação, do SER amigo para o TER amigos, assim como faz, do SER humano para o TER coisas materiais. SER amigo não implica, necessariamente, em manter relacionamento cordial e estar à disposição de alguém, dar-lhe suporte, etc., mas não é tão fácil de ser, dependendo isso da personalidade ou mentalidade da pessoa. Para ser amigo verdadeiro, há que ter desprendimento e não alimentar nenhum sentimento negativo, nem contra eventual inimigo declarado. Até esse inimigo merece atenção e ajuda incondicional, se necessária, da pessoa que não guarda raiva, rancor, ódio, desejos de vingança ou qualquer sentimento negativo contra quem quer que seja. Isso não implica em estabelecimento ou restabelecimento de relações, contrariando o princípio da sinceridade, uma das qualidades do amigo verdadeiro. O amigo verdadeiro rompe relações, no caso de ofensa grave, não se converte em inimigo e continua amigo do tipo universal, embora possa se conservar incógnito, não deixando transparecer sua condição de não guardar sentimento negativo contra qualquer pessoa e em qualquer circunstância. Por isso, o amigo verdadeiro é um TESOURO OCULTO.