Creio não ser fácil, a uma grande parcela da população, manter-se afastada de suas atividades rotineiras; atividades que, de uma forma ou outra, lhe garantem o sustento a cada dia e também lhe proporcionam satisfação pessoal, alegria, sentimento de realização. Estava tudo bem ou a caminhar para isso, quando entrou em cena um minúsculo, invisível e, à primeira vista, insignificante “serzinho”. A tal coisinha saiu lá dos confins da China e, valendo-se do indivíduo humano como veículo, avançou pelo mundo, país por país, cidade por cidade, para bagunçar a vida em todo o planeta.
Sem lhe conhecer a natureza, meios diretos e eficazes de combate a medicina não dispunha e ainda não dispõe para contê-lo, razão pela qual a forma de evitar o contágio reside no não contato entre pessoas, uma vez que à simples vista não se detecta o contaminado. O distanciamento social recomendado levou à paralização das atividades humanas. Praticamente tudo ficou paralisado, tudo de pernas pro ar, como nunca, talvez, tenha acontecido. Em casa, ainda que alguns continuem a trabalhar graças a novos recursos tecnológicos, a insegurança, ansiedade, falta de perspectivas e sentimento de impotência diante da situação dominam o pensamento das pessoas. Destas, muitas podem acabar doentes, sob ação indireta do novo coronavírus, mesmo não sofrendo a COVID-19. É necessário bom equilíbrio psicológico, para que o estado mental dessas pessoas “confinadas” não lhes cause outro mal, ou interfira negativamente na vida doméstica, desarmonizando-a, em momento que mais se requer harmonia; para que o estado depressivo não se aposse da pessoa e lhe faça mal pior. O ser humano sofre de várias formas, o que se constata com mais clareza em situações como a atual. Sofre-se pela perda de parentes, de amigos, de valores humanos dentro das empresas. Sofrem, nos hospitais, os pacientes vitimados pela COVID-19, e todo o pessoal envolvido em sua assistência e possível salvação de vidas, o que é conseguido na maioria das vezes.
Entre estas últimas, destacam-se vítimas de idade avançada que, ao contrário do esperado, vencem a COVID-19 e saem sorridentes a contar sua experiência extremamente dolorosa que, felizmente, não lhes tirou a vontade de viver. Em comparação com o pressuposto estado de saúde na idade avançada, são muitos os velhinhos, alguns a contar mais de cem anos de vida, que chegam à UTI e dela saem a viver como antes! Suas saídas dos hospitais causam comoção de alegria, em contraste com angústia contagiante de pessoas que, em isolamento preventivo dentro de suas casas, podem estar a sofrer, no espírito, mais que os doentes de fato sofrem no corpo físico. Esse é outro efeito negativo provocado pelo novo coronavírus, em pessoas suscetíveis e extremamente impressionáveis, ainda que fisicamente saudáveis!
Estes últimos merecem atenção especial em relação ao aspecto psicológico, enquanto os anciãos, vítimas e sobreviventes, deveriam ser objeto de pesquisa com vistas a ações, no futuro, contra outros possíveis e semelhantes casos de epidemia. Por trás da resiliência de alguns idosos, na atual situação, podem estar fatores ainda desconhecidos que, identificados, poderiam contribuir para ampliar, na população, a possibilidade de cura. Um dos fatores conhecidos é o grau de imunidade, que cada indivíduo possui, quanto a doenças contagiosas, mas outros podem haver com forte pontuação na capacidade de superação que, presumivelmente, possam ser portadores alguns organismos entre os mais idosos. Pesquisa em seus modos de vida, superação de outras doenças, hábitos alimentares, tipo de trabalho exercido, atitude mental, poderia levar à identificação de algo mais que os torna menos vulneráveis a certa doenças.
A pandemia da COVID-19 traz sofrimento ao corpo, ao espírito e provoca desarranjos nas atividades socioeconômicas, mas pode ser também oportunidade de estudos, revisão de conceitos e tomada de novas atitudes em relação à vida.