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Encaminhamento de pacientes para cirurgias em Tarumirim, no Leste de Minas, gera repercussão negativa em Itabirito

Encaminhamento de pacientes para cirurgias em Tarumirim, no Leste de Minas, gera repercussão negativa em Itabirito

Imagem: Freepik / Victória Oliveira

Após denúncia de vereador, município e hospital se manifestam sobre encaminhamentos e atendimentos

Na última semana, a circulação de um vídeo e de relatos nas redes sociais levantou um debate sobre a realização de cirurgias de moradores de Itabirito em outras cidades e indignação e questionamentos de moradores. A denúncia partiu do vereador Renê Butekus (PSD), que, impossibilitado de utilizar a Tribuna Livre da Câmara Municipal, optou por fazer uma transmissão ao vivo em suas redes sociais, apresentando as mesmas questões que levaria ao plenário.

Na live do dia 24 de novembro, o vereador apresentou aos seguidores o caso de um grupo de pacientes de Itabirito que foi encaminhado para o município de Tarumirim, a cerca de 352 km de distância, para realização de cirurgias eletivas, incluindo procedimentos ortopédicos e procedimento cirúrgico de laqueadura. O trajeto, que pode levar cerca de seis horas, foi um dos principais pontos de preocupação levantados pelo parlamentar, especialmente por envolver pacientes em período pós-operatório. O vereador teceu críticas pela distância, à ausência de profissionais da saúde acompanhando a viagem, e ainda reverberou reclamações sobre as condições de atendimento no hospital.

Durante a live e nos comentários da publicação, moradores de Itabirito se identificaram como os supostos pacientes e confirmaram o desgaste e desconforto que passaram. Houve também casos em que a cirurgia não foi autorizada e foi necessário esperar ainda assim pelo retorno.

Percurso de Itabirito a Tarumirim. Imagem: Google Maps

Relatos de atendimento e caso de emergência no trajeto

Embora os acompanhantes tenham sido autorizados, Renê destacou que muitos pacientes optaram por não os levar devido aos custos envolvidos, já que despesas de hospedagem e alimentação são de responsabilidade individual. O vereador também afirmou que não havia profissional da área da saúde, como técnico de enfermagem, acompanhando o retorno dos pacientes no período imediatamente posterior às cirurgias, o que é especialmente sensível quando se trata de deslocamentos tão longos.

Renê também relatou que alguns pacientes disseram não ter sido ouvidos ou adequadamente orientados pela equipe do hospital, chegando a relatar que não foram informados nem mesmo do nome do médico responsável.

O parlamentar descreveu ainda um episódio envolvendo uma paciente que teria passado mal durante a viagem de volta. Diante da ausência de um profissional capacitado no ônibus, o motorista parou em um restaurante à beira da estrada e acionou o resgate. A paciente foi encaminhada ao hospital mais próximo, enquanto os demais passageiros aguardaram por cerca de uma hora até o término do atendimento, segundo o relato.

“Aonde que a coordenação da saúde está com a cabeça? Aonde que o prefeito, que é médico, está com a cabeça? Isso é muito sério.”, disse o vereador no vídeo publicado, que já ultrapassa 15 mil visualizações.

Resposta da Prefeitura de Itabirito

Procurada pelo O Liberal, a Prefeitura de Itabirito, por meio da Secretaria de Saúde, negou que cirurgias deixaram de ser realizadas no município ou na Região dos Inconfidentes. Em nota, explicou que o envio de pacientes para Tarumirim é uma alternativa para reduzir o tempo de espera por procedimentos eletivos e integra o programa estadual Opera Mais, Minas Gerais, regulamentado pela Resolução SES/MG nº 9.860/2024.

A Secretaria informou que os pacientes mantêm o direito de optar por realizar o procedimento em Itabirito, caso prefiram, e destacou que a decisão não é exclusiva do município, mas sim uma política temporária adotada pelo Governo de Minas Gerais para diminuir filas em todo o estado.

Sobre a segurança e o acompanhamento, a Prefeitura afirmou que:

● todos os atendimentos em Tarumirim seguiram normas técnicas e sanitárias;

● não houve registro de erros médicos ou complicações;

● um servidor da Secretaria acompanha integralmente cada deslocamento;

● todos os pacientes têm direito a acompanhante e transporte gratuito;

● o hospital envia relatórios regulares e realiza pesquisas de satisfação no pós-operatório.

A administração municipal reiterou o compromisso com a transparência e com a ampliação do acesso a cirurgias eletivas sem prejuízo à qualidade e à autonomia dos pacientes.

O que diz o Hospital São Sebastião, em Tarumirim

Também procurado por outros veículos da região, o Hospital São Sebastião, responsável pelos procedimentos, divulgou nota esclarecendo que realizou uma busca ativa com os 17 pacientes operados naquele dia, vindos de diferentes municípios. A maioria relatou satisfação com o atendimento.

Entre os moradores de Itabirito, porém, o hospital admitiu que houve queixas direcionadas à equipe de enfermagem do período noturno, citando suposta negligência e dificuldade no acompanhamento. Segundo a direção, todos os relatos foram enviados à Secretaria Municipal de Saúde de Tarumirim.

O médico e proprietário da unidade, Dr. José Ronaldo Ambrózio Pires, afirmou que foi aberta uma apuração interna para avaliar as manifestações, reforçando o compromisso da instituição com a ética e melhoria contínua. O hospital também explicou que:

● dores leves, desconfortos abdominais e incômodos nas incisões são esperados no pós-operatório, especialmente em casos de laqueadura tubária;

● esses sintomas são manejados com medicação adequada e não impedem a alta;

● três pacientes de Itabirito não puderam realizar a laqueadura por falta de documentação prevista na Lei nº 9.263/1996 e na Lei nº 14.443/2022, incluindo exigências específicas para pacientes sem filhos.

A instituição reafirmou sua missão de oferecer atendimento igualitário a todos os usuários, independentemente da origem, e disse estar aberta ao diálogo para aperfeiçoar seus processos.

Reação na Câmara e intensificação das divergências

A repercussão cresceu novamente após a reunião ordinária desta segunda-feira, 1º, quando o vereador Pastor Anderson Martins (PL) exibiu uma nota oficial durante sua fala e afirmou que a não realização das cirurgias por parte de algumas pacientes poderia até representar um “livramento”. Em publicações feitas anteriormente, havia também acusado Renê de praticar “terrorismo político”.

Mulheres que viajaram para realizar a laqueadura estiveram presentes na reunião da Câmara e discordaram da defesa do vereador à secretaria, mostrando descontentamento com o encaminhamento à cidade.

Renê reiterou que seguirá com a denúncia e afirmou que pretende encaminhar o caso ao Ministério Público. Ele destacou ainda que continua em contato com pacientes e segue acompanhando novas reclamações sobre a saúde no município.

Renê durante a última reunião ordinária da Câmara. Imagem: Câmara Municipal de Itabirito

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