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A Cidade e Eu
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Morreu o amigo dos presos

FOI UM EXCELENTE advogado que soube valorizar o ser humano como pessoa, como gente, ainda que estivesse no fundo do poço. Refiro-me ao ser humano criminoso! Normalmente visto como um fora da lei, e por isto afastado da convivência social, e, simplesmente, jogado nos fundos de um cárcere, onde expiasse seus erros, sua má conduta, seu crime.
A pena nada mais é do que a vingança do Estado, quando o indivíduo, devidamente julgado, com ampla defesa (hoje, após segunda Instância) fosse pagar sua pena, sua condenação. A sociedade o abandona, porque indigno de viver em seu meio, onde causa medo, preocupação, perigo, e, até mesmo repetição de seus primitivos instintos: o crime!
Esta é a Lei. Este é o resultado de uma sentença condenatória. Este é o destino do réu. A cadeia será seu domicílio, sua casa, sua cela, sua morada, até que ele pague a pena, a condenação aplicada pelo Juiz!
MÁRIO OTTOBONI, advogado, jornalista, nascido aos 11 de setembro de 1931 em Barra Bonita e falecido aos 14 de janeiro de 2019, tomado de grande espírito humano de amor e compreensão do estado do prisioneiro, criou, em 1972, um modelo de ressocialização de presos e do método de tratá-los, denominado APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados).
Para ele ninguém é irrecuperável. Seu óbito recente deixa o mundo mais pobre, pela sua ausência. Mas, a sua obra continua fazendo verdadeiros milagres em benefício dos condenados pela Justiça, mas sempre esperançosos de um retorno à sociedade com expectativa de possível reinserção no meio social, sem reincidência!
Ottoboni é autor de mais de trinta livros entre os quais citamos os seguintes: “Cristo Chorou no Cárcere”, “Cristo Me Marcou”, “Cristo Sorrindo no Cárcere”, “Ele e eu”, “O Mártir do Cárcere” e “Vamos Matar o Criminoso?”. Este, entendo como sendo a mais importante de suas obras, todas elas voltadas para a firme confiança que tinha em relação aos encarcerados.
Em Minas Gerais, mais de 30 cidades (incluindo Itabirito), possuem unidades da APAC, dando assistência com 3.708 vagas destinadas ao acolhimento de presos. O TJMG, Tribunal de Justiça de Minas Gerais, através de seu presidente, decretou luto oficial de três dias pelo falecimento do criador da APAC. Neste homem de fé, conhecimento, disposição e ação falaram alto: a inspiração divina, a emoção, a razão, o coração e a força de vontade posta à toda prova pelos inúmeros problemas que certamente encontrou e enfrentou com serenidade para criar tal obra.
EM SUMA, ele legou-nos frases de efeito, fé e confiança, como estas:
– “Não deixarei de estar espiritualmente em orações com os Apaqueanos e, onde estiver, estarei solidário com os irmãos de fé”.
– “A recuperação não depende apenas do aprisionamento, mas também do tratamento humanizado e oportunidade de trabalho”.
Afinal, Ottoboni foi o criador, condutor e nos legou uma obra que é um modelo de prisão em que, os detentos têm a chave da cela e assumem a gerência das unidades, quando se destacam pelo comportamento e se demonstram conscientes e praticantes das normas da APAC.
Ao notável advogado Mário Ottoboni, ora recolhido à eternidade, tendo passado sua vida em São José dos Campos, o agradecimento de todos os detentos deste Brasil. – Sua fé é a nossa esperança – .

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