Alguém formulou a pergunta: “Qual é a melhor forma de passar o tempo se estiver sozinho?” E esse mesmo alguém respondeu: “Jogue sua tv pela janela; desligue o seu celular; e rasgue seus livros. A melhor forma de passar o seu tempo é tão inusitada, que você talvez não acredite.” Em seguida, o mesmo personagem tece considerações, começando por antever o surgimento de alguns inimigos, em consequência de sua proposta tão radical, em contraposição a outros que a validam e poderão agradecer-lhe pelo conselho, mas, que independentemente de qual seja a reação de cada um, que se ponha em prática o ensinamento, antes de dar a sua opinião, “pois ele pode ser um divisor de águas em sua vida.”
O nosso misterioso personagem nos lembra que muitas pessoas, ao se descobrirem ociosas, sem tarefas importantes para realizar, entram em desespero e, como se coagidas, procuram algo com que se ocupar, vendo qualquer bobagem na televisão, bicando o celular, nas redes sociais ou, melhor, lendo um livro. Para essas pessoas, o estar à toa, sem fazer nada, parece ser crime ou grande pecado; que a ociosidade só se é aceita durante o sono regular e, mesmo assim, parece haver quem considere pesadelo o sonho menos “produtivo”. Por isso se consomem tantos jogos de palavras-cruzadas! O questionador, depois de análise desse comportamento, chega à conclusão de que se trata de medo inconsciente de ficar sozinhas consigo mesmas; tais pessoas têm medo de que possam começar a pensar, especialmente, sobre verdades desconfortantes, que se preferem evitadas e ignoradas. Por isso, ao menor sinal de nada por fazer, naquele momento, imediatamente, smartphones são retirados dos bolsos por essas pessoas, passando então a passear pelas redes sociais, ou a se distrair com vídeos, muitas vezes, sem qualquer significado válido.
De acordo com o autor da pergunta e das respostas, o que se quer é buscar distrações para evitar esses pensamentos; ignorar o que o interior tem a dizer. Mas, ele mesmo chega à conclusão de que aqueles problemas, persistentes na mente, mas evitados com alguma ocupação e distração, devem ser encarados de frente, embora com muitas dificuldades.
Essa técnica, creio eu, pode funcionar para uns, porém não para outros, cujo mundo pessoal pode ainda mais se complicar. Seria como cutucar a onça! Pessoas reagem de forma diferente ao enfrentar questionamentos em seu íntimo. Essa técnica de enfrentar pensamentos, que se querem evitados, apenas substitui as muletas referidas, pois a mente continua ocupada com problemas do mundo objetivo. Estar, por alguns momentos, desligados de tudo não tem nada de errado, mas, ao contrário, uma prática saudável e recomendada, ocasião em que a mente pode descansar, se possível, ao som de música suave e tranquilizante. Em outro momento, em alternância com o do desligamento, a mente deve se ocupar de pensamentos positivos/construtivos, podendo até ser um tanto fantasiosos, porém de acordo com desejos sinceros voltados à realização do bem, tomando o cuidado de não ingressar no terreno daqueles pensamentos conflitantes. Além desses dois momentos especiais, que não precisam ultrapassar quinze minutos cada um, pensamentos de natureza negativa/destrutiva devem ser banidos a qualquer momento que surgirem; e a melhor maneira de fazê-lo é cantar ou assoviar uma música, ainda que mentalmente. Deixados de lado aqueles problemas, que se querem resolvidos, suas soluções virão de forma natural, sem quebra do equilíbrio na vida de quem quer que seja.
Ao explorar essa prática de se permitir parar e ouvir, cada qual dá conta de algo extraordinário: a riqueza existente dentro do indivíduo. É-se condicionado à busca de respostas lá fora, em livros, gurus e outras fontes, pondo-se de costas ao portal interior, de onde provêm as respostas mais sinceras, aquelas que realmente transformam a nossa trajetória de vida. Por meio dessa prática, alcança-se a liberdade de estar só, consigo próprio, sem imposições externas e prontos para o exercício do pensamento, faculdade concedida por Deus, para que o ser humano, de acordo com a sua natureza, seja o melhor a partir de si próprio. Estar só, a exercitar o pensamento positivo/construtivo, longe de ser ociosidade, é uma dádiva que só um ser pensante tem direito!