O Liberal
Últimas Noticias
Carta aos Tempos
4 min

Tiradentes permanece vivo aos 230 anos de sua morte

Mauro Werkema*

Ao completar 230 anos de seu enforcamento, em 1792, no Rio de Janeiro, o perfil humano e revolucionário de Tiradentes permanece com imensa e significativa atualidade na memória dos brasileiros. O alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, em uma só frase, demonstra sua permanência na histórica e na ideologia e que se aplica aos nossos dias: “Se todos quisessem, poderíamos fazer do Brasil uma grande nação”. Tiradentes, mártir e líder maior da conjuração de 1789, subiu ao cadafalso, no Rio, exatamente no dia 21 de abril de 1792 e, desde então, só consolidou e ampliou sua reputação de herói popular. Pagava com a vida, aos 46 anos, por suas ideias republicanas, anti-colonialistas e libertárias. 

Contestado pelo regime colonial, mas glorificado pela História, o revolucionário mineiro, com seus companheiros inconfidentes, poetas, padres, militares e comerciantes, pregaram a liberdade pelos caminhos de Minas e se tornaram os precursores da Independência Brasileira de 1822, ocorrida justamente 30 anos após sua execução. Nos Autos da Devassa, por suas palavras e confissão de sua pregação, Tiradentes reafirmou suas convicções e aos companheiros: Foi traído mas “não traiu jamais”.

Vida e ação de Tiradentes e a Inconfidência Mineira continuam produzindo debates e estudos elucidativos, com atualização de pesquisas históricas. E que ampliam a dimensão contemporânea da Inconfidência Mineira: “O Tiradentes”, de Lucas Figueiredo, e “Ser republicano no Brasil Colônia”, de Heloisa Starling, ambos de 2018, são dois exemplos de historiadores mineiros. O primeiro resulta de amplas pesquisas, em obra bem completa, revelando aspectos da vida do alferes e suas andanças por Minas. O segundo revela a primazia da Inconfidência Mineira no ideal republicano e seus significados nos movimentos nativistas brasileiros. Os dois livros expõem as mazelas do regime colonial português e os modos de vida em Minas no Século XVIII, especialmente em Vila Rica, sempre rebelde e resistente à opressão, em meio a um surto artístico e cultural despertado pelo Iluminismo libertário dos inconfidentes e um catolicismo tridentino severo e opressivo.

Apaixonado por Aleijadinho e o Barroco Mineiro, Germain Bazin, diretor conservador do Louvre, de Paris, diz que “a descoberta das minas enriquece Portugal mas também traz o fermento que o fará perder a colônia”. Já o o filósofo Sérgio Rouanet, estudioso do Iluminismo, diz que importante são as ideias, circulantes em Vila Rica, e que discutiam a Independência Americana de 1776 e a Revolução Francesa de 1789. Numa reveladora coincidência histórica, a 14 de julho, em 1789, caia a Bastilha em Paris e eram presos, dias antes, os inconfidentes em Vila Rica. Com Tiradentes, aliados pelo mesmo ideal, foram presos Claudio Manoel da Costa, Tomas Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, que completam o drama lírico-romanesco da Inconfidência. 

Ao relembrar o sacrifício de Tiradentes não há como deixar de pensar na trajetória e na atualidade de Minas Gerais. Nasce da riqueza do seu subsolo, que povoa seu território, conforma sua sociedade e sua identidade, mas também atrai e sofre ciclos de espoliação econômica, dos Ciclos do Ouro ao Ferro, que distinguem sua História Social e Econômica. Nos nossos dias seria justo esperar melhores retribuições à exploração da nossa riqueza natural. E sofremos barragens e lamas, reveladoras desta nova herança mineral. A Inconfidência, Tiradentes, nos convidam, indesviavelmente, a pensar que poderíamos ter melhores condições para os mineiros. Exaltar a confidência, sua inspiração e ideário, é também lembrar, na contemporaneidade, das tragédias de Minas.

*Jornalista e escritor mwerkema@uol.com.br

Todos os Direitos Reservados © 2024

Desenvolvido por Orni