Tempo de crise e de recessão econômica é momento para reflexão, para repensar, reorganizar e planejar. É hora, portanto, de Ouro Preto, que vive as dificuldades da grande maioria dos municípios mineiro, do Brasil e de Minas, abrir uma discussão sobre seu futuro. Poucas cidades tem, como Ouro Preto, tantas publicações sobre sua tricentenária história, na Colônia, no Império e na República, abrangendo os mais variados aspectos, suas lutas de afirmação, o surto artístico-cultural do Século XVIII, sua preservação. Mas muito pouco sobre o seu futuro, sobre o planejamento do desejável e do possível, a partir de suas potencialidades, vocações, oportunidades.
Sabemos que os governos federal, estadual e municipal, os órgãos de patrimônio cultural, as instituições acadêmicas, os empresários, preocupam-se com a cidade tricentenária e seu futuro. E certamente participariam de iniciativas que possam identificar projetos viáveis e busca recursos. Mas sem planejamento não há visão de futuro, não há como evitar ou sair do imobilismo. É resignar-se à estagnação, perder oportunidades e condenar a que se repitam os erros e omissões.
Pensar no futuro de Ouro Preto começa, indesviavelmente, pela indagação: quais as vocações da cidade e quais são condições diferenciais ou facilidades para pensar seu futuro? O que impede que se tornem em efetivas fontes de riqueza, trabalho e renda? E, é claro, preservem o patrimônio histórico e cultural? São, obviamente, o turismo, nas suas diversas modalidades, e a educação, duas riquezas de Ouro Preto e que são excepcionais atividades do mundo contemporâneo. Ambas oferecem amplas perspectivas de expansão e desenvolvimento de atividades integradas ou complementares. Estas duas vocações já foram apontadas por diagnósticos em diferentes ocasiões, como também por especialistas em planejamento urbano e desenvolvimento econômico, como vocações de Ouro Preto. Só que não estão colocadas em um planejamento efetivo.
O turismo se distingue positivamente como a atividade que mais estimula o consumo de bens e serviços e a giro rápido. É hoje atividade cobiçada por todo o mundo. E é ambientalmente limpo, gerador de trabalho e distribuidor de renda, com boa capacidade de integração social. E, no caso de Ouro Preto, não exige grandes investimentos porque a cidade já possui bons e variados equipamentos turísticos na hotelaria, na gastronomia, no transporte e muito mais. Conhecida internacionalmente, abriga acervo raro patrimonial, de história e arte, atrativos cada vez mais cobiçados em todo o mundo por visitantes. O fluxo de turistas cresce em torno de 5% a cada ano, mundialmente, segundo a Organização Mundial de Turismo (OMT), proporcionalmente ao crescimento da educação, da demanda de ofertas culturais, a busca de lazer e entretenimento e pelas facilidades de deslocamento. É preciso ir além do turismo sazonal e elevar a qualidade dos fluxos turísticos. O Centro de Convenções, criado para incentivar o Turismo de Eventos e Negócios, o segmento mais rico, precisa ser mais competitivo.
Existem no Brasil vários exemplos de cidades que reorganizaram seu turismo e hoje se tornaram destinos conhecidos e visitados. A metodologia de planejamento e gestão do turismo é conhecida. Exige ação integrada entre o setor público e o privado. Exige a preparação da cidade para o acolhimento do visitante, com recepção adequada, organização e qualificação dos equipamentos turísticos, qualificação de recursos humanos, boa oferta cultural e promoção do destino não só por sua divulgação, mas pela realização de atividades culturais, como também congressos, convenções, reuniões diversas nos ramos de eventos e negócios gerais. É preciso ter presença nas redes internacionais a que estão ligados operadores e agências de turismo, instituições que organizam eventos.
Ouro Preto abriga uma universidade que cresceu muito nos últimos anos. E que hoje possui cursos que poderiam ter papel importante no planejamento ou variados campos de intervenção, como Engenharia, Arquitetura, Economia, Medicina, Comunicação Social, Museologia, História. A UFOP se beneficia da cidade, seus serviços públicos, seus espaços. Além dos empregos que oferece, ou dos recursos que entram na cidade, a UFOP pode fazer muito mais por Ouro Preto.
Um estudo sobre o que a UFOP poderia fazer mais por Ouro Preto traria surpreendentes ideias até para reduzir as dificuldades da convivência entre o campus universitário aberto e a cidade cultural e turística. Convivência que às vezes se torna difícil e até antagônica.
Qualquer agenda positiva sobre Ouro Preto teria que começar por estas duas vocações. O royalty do minério de ferro, que agora dobra com a alíquota de 3,5% sobre o faturamento bruto, foi constituído para isto, ou seja, busca de atividades alternativas para a mineração, que é finita. Ouro Preto, com a reputação que tem, mundial, tendo bons projetos, legitimados pelo apoio da sociedade e por uma instituição universitária, pode conseguir apoio e mesmo recursos com muito maior facilidade.
*Jornalista (mwerkema@uol.com.br)