Alguns temas são predominantes nos debates contemporâneos brasileiros. Alguns antigos e outros emergentes e ou mais atuais, mas que se incluem entre as questões que dominam a evolução do pensamento crítico sobre a nossa realidade social, econômica, política e a evolução da sociedade em direção a transformações necessárias e desejadas. Entre eles destacam-se os debates sobre a desigualdade e a pobreza, que é uma questão central, a incapacidade dos governos, os desvios éticos dos políticos, o grave e cruel desemprego, a condenação do racismo e suas diversas formas e manifestações, a necessária valorização da mulher na sociedade, o reconhecimento dos direitos das populações negra e indígena, a valorização das ações em defesa dos direitos humanos e a prioritária, indispensável e urgente retomada do crescimento econômico. E muitas outras que despontam no Brasil e seus impasses contemporâneos.
A desigualdade no Brasil se apresenta sob muitas formas e ocorrências. Não é só a péssima distribuição da renda, com o imenso e extremo distanciamento entre os que conseguem sobreviver com um salário-mínimo e os abastados e milionários, que abarcam percentuais extraordinários da renda nacional. E não esqueçamos os milhares que passam fome ou que estão abaixo da linha da miséria. Se olharmos para os indicadores que integram o conceito de qualidade de vida, ou de acesso aos bens de consumo que qualificam a condição do viver saudável e civilizado, como ter trabalho regular, acesso aos serviços de saúde, moradia, educação, transporte público e, fundamentalmente, alimentação compatível com suas demandas de consumo. A verdade que decorre destas constatações é que são muitos no Brasil os desníveis pessoais e regionais de renda e que, indubitavelmente, esta é a principal questão que preocupa os que pensam a sociedade brasileira dos nossos dias.
Ao discutir estas questões é inevitável lembrar que estamos às vésperas de uma eleição que renovará grande parte dos poderes públicos elegíveis do Brasil. E que a retomada de um crescimento amplo, sustentável, socialmente justo, deve presidir os debates eleitorais. Candidatos à Presidência da República, governos estaduais, parlamentares, precisam pensar mais na sociedade e nos mais pobres e discutir, com responsabilidade e objetividade, a questão da redução da desigualdade brasileira. Esta deve ser a pauta prioritária quando se fala em retomada do crescimento econômico, como meio de criação do emprego, melhor distribuição de renda, incentivo aos empregadores, qualificações profissionais e todo um conjunto de providências que todos conhecem.
Mas, infelizmente, esta pauta não domina os debates político-eleitorais brasileiros. Vemos a classe política cada vez mais preocupada em ampliar seus privilégios, ganhos em orçamentos secretos e perpetuação de mandatos. Raramente ouvimos um pronunciamento objetivo e realista sobre o aproveitamento das imensas riquezas naturais deste imenso Brasil para a construção de novas iniciativas capazes de gerar trabalho, renda, retirada das populações mais pobres da situação de carência em que vivem. Não ouvimos também, a não ser em vozes isoladas, o debate sobre questões correlatas, mas que limitam o desenvolvimento brasileiro, como o combate à inflação que destrói empregos e salários, a regularidade das contas públicas e o constante déficit fiscal, a faltas de planos e programas efetivos de modernização dos serviços públicos, a governabilidade necessária à boa gestão dos recursos públicos. Não ouvimos discursos fortes que preguem a reforma do Estado para que caiba nos orçamentos cada vez mais minguados e sobrem investimentos que estimulem o crescimento econômico.
O fato, incontestável, é que a crise brasileira, genérica e complexa, se alastra e pode levar o Brasil a riscos ainda maiores de degradação e agravamento da desigualdade social. E mesmo a uma situação de completa e grave inação. A crise política, a deterioração do debate político, os conflitos que acabam por paralisar ações resolutivas, tem resultado em baixo crescimento, deterioração da moeda nacional, valorização do dólar, da inflação que já alcançou dois dígitos, o extraordinário aumento da dívida pública, desequilíbrio fiscal. Agrava tudo isto o fracasso da política econômica do atual governo federal, sem rumo ou ações consistentes, ou incapaz, no momento, de planejar e implantar reformas apontadas como necessárias e urgentes. A sensação é que o País se paralisa e o debate político não traz luzes ou caminhos.
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