Virou rotina. Os escândalos de corrupção na área da saúde pública crescem na mesma proporção que o número de mortos e infectados pela COVID-19. Sem a obrigatoriedade de licitação para a compra de equipamentos, governos estaduais e prefeituras extrapolam nas práticas de superfaturamento e, ao invés de contribuir para o combate à pandemia, colocam o Brasil numa crise financeira e moral cada vez maior.
Os números não mentem e evidenciam o descaso com o dinheiro público e com a população, que precisa desses recursos como nunca. As compras sem licitação mostram gastos na ordem de R$ 400 bilhões em nível federal, segundo levantamento do Jornal da Band, que também relevou desvios na área da saúde em 21 estados brasileiros.
Esse valor supera de longe o total de recursos destinados à saúde no início de ano (R$ 138,9 bilhões), além dos R$ 39,3 bilhões em créditos extraordinários liberados por Medidas Provisórias para enfrentamento da COVID-19. Neste turbilhão de escândalos, o papel do Tribunal de Contas da União (TCU) e demais agentes fiscalizadores públicos é de extrema importância – especialmente em um momento de gastos descontrolados como o atual.
Governadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Pará e Santa Catarina já estão na mira Justiça pela aquisição de respiradores a preços muito acima das médias de mercado. A tendência é que mais escândalos sejam revelados até o fim da pandemia, reforçando a ineficácia no combate ao vírus e mostrando ao mundo que a prática de corrupção no Brasil não dá descanso.
Nosso papel é nos manter alertas e cobrar ações que ponham o fim da sangria, quase infinita, do dinheiro público. As eleições municipais estão chegando e temos a chance de nos livrar de muitos responsáveis pelo descaso, que só agrava a crise. A única certeza é que a conta da corrupção vai chegar, e será cobrada, mais uma vez, de quem mais sofre com todas as tragédias do Brasil: a população mais carente.
*Presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP)