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Jovem é morto com tiro na cabeça por Tenente da Polícia Militar, em Ouro Preto

Jovem é morto com tiro na cabeça por Tenente da Polícia Militar, em Ouro Preto

A vítima foi atingida por um disparo na cabeça durante abordagem policial

Uma controversa abordagem policial terminou em morte na noite de sexta-feira (15). O jovem Igor Arcanjo Mendes, de 20 anos, foi morto por um Tenente da Polícia Militar durante a abordagem. O rapaz estava a caminho de um show da banda “Racionais” quando foi baleado na cabeça pelo policial. A polícia alega que foi legítima defesa, pois a vítima teria feito um movimento brusco no momento que recebeu ordem de descer do carro, o que fez com que um dos agentes acreditasse que ele sacaria uma arma de fogo.

O fato ocorreu por volta das 21h, quando o carro em que estava Igor Arcanjo, a vítima, foi parado por uma viatura da polícia, próximo ao Morro da Forca. “Assim que pediram para a gente parar, nós paramos. Todos os policiais desceram rápido do carro, com armas em punho. Dois policiais ficaram em volta de cada lado do carro e o policial que atirou no Igor estava na frente. Eles pediram para sairmos do carro com as mãos na cabeça. Todas as portas estavam travadas e a gente teve dificuldade de sair. Foi quando Igor conseguiu abrir a porta e o policial gritou para ele pôr a mão na cabeça. Quando ele levantou a mão nós só ouvimos um disparo”, conta uma das testemunhas.

As testemunhas contam que depois que saíram do carro eles foram separados da vítima, e tiveram os celulares apreendidos. “Por impulso, eu peguei meu celular. Nesse momento o policial disse que não queria ninguém ligando, nem contando nada, que era para ficarmos onde estávamos, assistindo lá de cima”, relembra em lágrimas uma das amigas. “Nem prestar os primeiros socorros eles deixaram. Disseram que se queríamos assistir, que ficássemos de longe. Foi terrível”, conta a outra amiga, que ainda revela que eles tiveram que deixar o local, acompanhados por outros policias. Uma das amigas teve que ser atendida na Upa, por causa dos estilhaços no pescoço. “Fui atendida sem ter nenhuma notícia do Igor. Voltamos para o local onde ele foi morto e não deixaram a gente sair da viatura, enquanto os policiais fizeram uma rodinha e começaram a conversar bem baixo e olhando pra gente. Depois, nos levaram para o quartel, onde ficamos até 3h da manhã e só depois fomos encaminhados para a delegacia. Foi lá que um homem, sem querer, avisou a gente que o Igor tinha morrido, pois ele perguntou: ‘vocês são amigas do menino que morreu né?’. Ficamos arrasados e tivemos de ir com os policiais na casa do Igor para dar a notícia à mãe dele”, relembra a jovem.

O motorista do carro que levava os jovens conta que “em momento algum hesitou em cumprir a ordem de parada, tanto que segundo ele, a viatura já chegou fechando o seu veículo e quatro policias já saíram armados”.

Versão da polícia

Por meio de uma nota à imprensa, a assessoria de comunicação do 52º Batalhão da Polícia Militar, disse que veículo o Fiat modelo Pálio estava com lotação superior à permitida, seis ocupantes, e com película escura nos vidros, o que gerou suspeição e acompanhamento da viatura policial. O texto ainda declara que a ordem de parada ao veículo não foi obedecida de imediato. O carro só parou, segundo a PM, em uma segunda iteração. “O passageiro que ocupava o banco da frente, no momento da ordem para descer do veículo, levou as mãos à cabeça e, em seguida, abaixou-se e tirando as mãos da cabeça efetuou movimento brusco com as mãos em direção ao porta-luvas do carro. O comandante da equipe policial, então, verbalizou e efetuou um disparo de arma de fogo na direção do passageiro, pois devido ao movimento brusco do jovem, o mesmo poderia atentar contra a integridade física dele e dos outros policiais militares”.

Por fim, a versão da polícia relata que no veículo e na roupa de Igor foram encontradas drogas: dois pinos de cocaína no carro e uma bucha de maconha no bolso da vítima, encontrada por uma enfermeira. A Polícia Militar informou que o motorista do carro, de 46 anos, foi detido por prática de transporte irregular de passageiros. O caso será investigado pela Corregedoria de Polícia Militar.

Manifestações

Igor trabalhava como jardineiro para ajudar a mãe e era muito querido no bairro onde morava, Morro Santana. Indignados com a situação, familiares, amigos e moradores protestaram pedindo justiça. “Perder alguém de uma forma tão cruel não é fácil, ainda mais para uma mãe, um filho de apenas 20 anos, que ela criou sozinha, não é fácil. Além do fato de eu perder o meu irmão e ver minha mãe sofrendo dessa forma. Esse policial acabou com a minha família”, lamenta a irmã Nayara Mendes.

Com cartazes, faixa, apitos, camisas e cruzes de madeira, os manifestantes fecharam as ruas do Centro da cidade pedindo por justiça na segunda (18) e terça-feira (19). Familiares e amigos também participaram da reunião de vereadores, na tarde da terça-feira, e cobraram apoio dos vereadores.

Uma nova testemunha também falou do caso, de quando a vítima chegou ao hospital. “Eu estava acompanhando meu filho, que estava internado, e vi o momento que o Igor chegou. Eles tiraram ele do camburão e ainda o deixaram cair no chão. O colocaram de qualquer jeito na maca e entraram correndo pela emergência. Fiquei me perguntando onde estava a família. Desci e ouvi os policiais falando que era bandido. Foi uma movimentação muito grande, depois chegaram muitos policiais ainda”, relatou a testemunha durante a palavra livre da Câmara.

Já na quarta-feira (20) ocorreu audiência pública na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, onde foram aprovados diversos requerimento, entre eles um pedido de transferência do atual comandante da PM na região, Tenente Coronel Winder Pinheiro, do 52º Batalhão, além de apoio psicológico e proteção às testemunhas.

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