Por Mauro Werkema
Esperamos que a “marcha da insensatez” que parece recrudescer no Brasil a propósito desta disputa eleitoral polarizada não cause outros episódios dramáticos como este de Nova Iguaçu, entre outros ocorridos nos últimos dias. As mais credenciadas opiniões predizem que esta escala de violência precisa ser contida agora. Senão, a guerra ideológica, radicalizada, poderá não só nos levar a novas mortes e agressões como descambar para conflitos maiores, inclusive os que acabarão por atentar contra o resultado das eleições e o próprio regime democrático. As mais abalizadas opiniões, de analistas políticos, de jornalistas especializados na cobertura política e mesmo de políticos, é que o Brasil corre um risco real de retrocesso político com atentados à ordem democrática e desrespeito às urnas de 2 de outubro próximo.
Não se trata de mera exaltação decorrente das mortes de Nova Iguaçu, episódios típicos da ideologia radical que certos setores do atual panorama político praticam. E que, nos últimos dias, produziram vários atentados, em atos de intolerância ideológica, de desrespeito aos que pensam diferente. E ainda não começou oficialmente o prazo para a disputa eleitoral, conforme dispõe a legislação. Teremos, então, pela frente, nos próximos menos de três meses, o aumento dos eventos da campanha. Certamente acirrando debates, disputas, confrontos ideológicos e, inevitavelmente, confrontos.
Esta eleição tem aspectos diferentes. É marcada por intensa e radical polarização. E parece que a democracia brasileira, notoriamente imatura, não está ainda acostumada ao debate civilizado entre contrários. E, em meio aos atos eleitorais e entre os militantes, existem notórios radicais, que não aceitam ideias contrárias. O radicalismo que leva à agressão é um desvio sociológico que decorre da imaturidade de setores mais radicais, que não estão acostumados ao debate, à convivência democrática e pacífica. Partidos e candidatos têm responsabilidade direta em evitar confrontos. Como também a Justiça Eleitoral, nas suas diversas instâncias.
Vivemos tempos novos com a extensão da Internet e seu imenso poder de difusão de notícias, verdadeiras ou não, agressivas, insultuosas. É uma nova realidade, cujas consequenciais ainda estão sendo avaliadas. Mas, certamente, conforme a opinião dos especialistas, tem o poder de estimular conflitos e divergências, e de maneira inconsequente e irresponsável. O fenômeno das fake-news, usadas intensamente no pleito de 2018, parece renascer em 2022 e, certamente, é um fator preponderante e estimulador de radicalismo.
O debate político aprofundado e esclarecedor de ideias é essencial à democracia. Candidatos tem o dever de expor suas propostas e seu pensamento, esclarecendo o eleitor. O bom debate enriquece o processo eleitoral e facilita a escolha do eleitor. É o que precisamos no momento em que o Brasil necessita, e muito, de debates, discussões, reflexões, sobre seu futuro, seus graves problemas. É preciso debater a fome que voltou ao Brasil, a remoção da pobreza, a redução das desigualdades, o retorno do desenvolvimento econômico e a geração de empregos, o apoio à educação, à ciência e à pesquisa científica, à cultura e conter a devastação amazônica. Não faltam assuntos.
Por fim é importante que as autoridades contribuam para apaziguar os ânimos. E cabe, fundamentalmente, ao presidente da República evitar as palavras de ódio, desestimular o uso de armas e afirmar que respeitará o resultado das urnas e que confia no sistema eleitoral coordenado pelo Tribunal Superior Eleitoral. É o que o Brasil espera, sem o que teremos novos episódios de ódio e mortes como o de Nova Iguaçu.
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