A incerteza ainda domina as previsões sobre a evolução econômica e social do Brasil. E persistirá enquanto não tivemos vacinação em massa, capaz de garantir a imunidade segura de pelo menos 80% dos brasileiros. No entanto, há também concordância de que é necessário, já por agora, começar a discutir o pleno retorno das atividades de todos os setores. Persiste a opinião de que poderia ser possível, já pelo mês de julho, se tudo correr bem com a vacinação e os índices de contaminação e mortes tenham diminuído, planejarmos o retorno de várias atividades de menor potencial de contaminação epidêmica, mantidos os cuidados necessários de caráter preventivo, como distanciamento, uso de máscaras e menor exposição a contatos inseguros.
A discussão, que já se trava, é que é preciso, por agora, começar a pensar neste retorno de atividades, como já ocorre em vários países que já estão mais avançados na vacinação. Este retorno, principalmente em setores como o comércio, a educação, a promoção de eventos classistas ou artístico-culturais, já poderia ser debatido e programado com relação às medidas de maior cuidado preventivo contra a disseminação do vírus. Seria muito útil que as administrações locais, prefeituras e demais órgãos públicos, mas também a sociedade civil, com suas organizações classistas, começassem desde já a discutir este plano de retorno gradual às suas atividades, de maneira a termos um manual de orientação, objetivo, seguro, confiável.
Precisamos, portanto, em resumo, de uma agenda para o pós-epidemia, que orientasse a todos para esta travessia, permitindo segurança sanitária para todos, clientes, empresários, dirigentes de organizações. É possível que esta agenda se transforme em um efetivo instrumento coletivo de contenção do desemprego e o agravamento da miséria e da fome, impedindo a falência e o encerramento de empresas e atividades que criam empregos e receitas públicas. A verdade é que faltou ao Brasil, na falta de liderança do Ministério da Saúde, um documento de amplo acesso popular, contendo orientações claras sobre a epidemia, seu tratamento e como enfrentá-la.
É claro que o fechamento total de atividades é a medida mais eficaz para conter a propagação da doença. E que esta paralisação total produziu efeitos muito benefícos nas estatísticas de contaminação e mortes. Mas está evidente também que é possível, com boa orientação, conseguirmos o retorno de várias atividades, com rigorosos cuidados, seguindo os protocolos elaborados com apoio de todos os segmentos. Afinal, é preciso reconhecer, que não é possível fechar tudo por longo tempo, provocando falências além das que já ocorreram.
Há também, neste momento, a previsão de que o Brasil deve começar a pensar mais objetivamente sobre o seu nos pós-epidemia e que possa elaborar um “Projeto Nacional”. Admite-se que muitos investimentos retidos na epidemia poderão ter nova oportunidade. E novos negócios serão criados. E haveria um aumento das demandas de serviços, de produtos de alimentação, de uso pessoal, de turismo. Para isto será necessário, no caso brasileiro, que o debate político encontre caminhos de convivência democrática, que tenhamos o clima de negócios restabelecido, sem retrocessos. Sabemos que não é fácil pois o conflito político, com as eleições de 2022 tende a acirrar conflitos.
Mas, idealisticamente pensando, o Brasil precisa avançar, transformar a crise da epidemia em aprendizados, desenvolver novas ideias, incentivar a retomada dos negócios e a sua expansão, readquirir credibilidade, combater a miséria e a fome, adotar medidas de redução e desigualdades sociais, restaurar a atividade política como busca de consensos para o bem comum e não campo de busca de enriquecimento pessoal. E que possamos alcançar a definição de um novo modelo de desenvolvimento, que oriente o Brasil nestes novos tempos que virão neste pós-epidemia.
Em 2022, o Brasil vai celebrar 200 anos da sua Independência, alcançada a 7 de setembro de 1822. Seria momento para repensar o Brasil, com visão de futuro.
*Jornalista (maurowerkema@gmail.com)