Mauro Werkema*
Duas datas, neste 2022, são importantes para a História do Brasil e também para Minas Gerais e, particularmente, para as cidades históricas mineiras, com destaque para Ouro Preto. A primeira é o centenário da Semana de Arte Moderna, que ocorreu em São Paulo de 11 a 18 de fevereiro de 1922, considerada um marco importante para a modernidade da cultura brasileira. A segunda, ainda mais importante, é o bicentenário da Proclamação da Independência do Brasil, ocorrida em 7 de setembro de 1822, determinada então pelo princípio regente brasileiro, dom Pedro.
Minas, com seu acervo histórico, artístico e cultural do século XVIII, está nos fundamentos do modernismo cultural brasileiro, conforme reconhecem historiadores e estudiosos da cultura brasileira. Em 1919, vem a Mariana, para visitar o poeta Alphonsus de Guimaraens, o líder da Semana de 22, Mário de Andrade. E conhece Ouro Preto, que relata como uma cidade “perdida entre montanhas de Minas”, e preservada, “histórica, artística e cívica”. E, em 1924, organiza a famosa caravana de modernistas a Minas, que passa por São João del-Rei e Tiradentes e vem a Ouro Preto. Dirá, então, que encontrou “uma autêntica arte brasileira”, com “autonomia cultural nas artes plásticas, na arquitetura” e no “conjunto da obra barroca mineira”.
Em 1928 Mário de Andrade publica artigo sobre “Aleijadinho” e dá início à divulgação do artista mineiro, até bastante desconhecido. Ouros modernistas também publicam textos que exaltam o século Dezoito mineiro e o acerco cultural produzido pelo surto artístico do Barroco Mineiro. Lourival Gomes Machado, especialista no Barroco Mineiro, que o estudou profundamente, dirá que “em Minas, no século Dezoito, manifestou-se artisticamente, pela primeira vez, uma autêntica cultura brasileira”. Como ele, inúmeros outros estudiosos exaltaram o patrimônio artístico e cultural mineiro e sua excepcionalidade.
Serão os modernistas que influenciaram o então ministro da Educação, o mineiro Gustavo Capanema, nomeado por Getúlio Vargas em 1934, a pedir a Mário de Andrade proposta de criação de um órgão de defesa do patrimônio artístico e cultural brasileiro. Daí surge o IPHAN, criado por Getúlio em 1937, entregue a um mineiro, Rodrigo Melo Franco de Andrade. Será em Minas que o IPHAN realizará os primeiros estudos de tombamento das cidades históricas e as ações e critérios de preservação e restauração do patrimônio cultural.
Escrevera Mário de Andrade que encontrou “na arquitetura religiosa mineira de orientação barroca – que é o amor à linha curva, aos elementos contorcidos e inesperados”, e que “passam da decoração para o próprio plano do edifício. Alí, os elementos decorativos não residem só na decoração posterior mas também no risco e projeção das fachadas, no perfil das colunas, na forma das naves”.
Dom Pedro I, então príncipe regente, pressionado pelas Cortes Legislativas Portuguesas, que comandavam o país a partir da Revolução do Porto, de 1820, determinaram a ida de Dom Pedro para Portugal, voltando o Brasil à simples condição de colônia. Antes, já haviam exigido o retorno de Dom João VI a Portugal, ocorrida em 1821.Dom Pedro recusou-se e veio a Minas em busca de apoio. Passou por Lafaiete e São João del-Rei e chegou a Vila Rica a 9 e abril de 1822, permanecendo por 12 dias. Aclamado pelos mineiros, saiu fortalecido e com apoio político para avançar nos atos de independência. De Minas foi a São Paulo e no retorno para o Rio, ao receber novas intimações das Cortes, proferiu o famoso Grito do Ipiranga. Em 1823, já imperador, dom Pedro I deu a Vila Rica o título de “Imperial Cidade de Ouro Preto”.
A influência destes dois episódios na formação brasileira são hoje reconhecidos pelos pesquisadores da História do Brasil. Cabe aos mineiros festejá-los devidamente pois dizem respeito a episódios importantes da alma, da história e da formação mineira. E que merecem maior debate, discussão e divulgação.
*mauro.werkema@gmail.com