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Crise mundial, o Brasil e suas consequências

Mauro Werkema

Ainda não é possível antever, com clareza, as consequências da guerra Rússia-Ucrânia. As análises, de especialistas, que acompanham e discutem exaustivamente o conflito e os seus desdobramentos para um novo contexto geopolítico mundial, apontam que mudanças e alterações em direção a uma multipolarização do poder mundial, em que a hegemonia dos EUA e seus aliados europeus, terão que conviver com ascensão de um novo polo, integrado pela China e Rússia e outros países satélites. O mais importante, no momento, e além do conflito bélico e suas muitas incertezas, são as implicações e alterações no campo econômico que o boicote internacional à Rússia poderá trazer para a Europa Ocidental mas também para a América Latina e, especialmente, o Brasil neste 2022. As sanções e restrições econômicas e financeiras que estão impostas à Rússia certamente atingirão a América Latina.

O fato concreto é que surge uma nova ordem de dificuldades, justamente quando estamos saindo de dois anos de epidemia que paralisou várias atividades, aumentou o desemprego e as desigualdades sociais. Não dá para avaliar o quanto uma recuperação econômica, que esperávamos para 2022, mesmo quando sabemos que muitas são as dificuldades em ano eleitoral, poderá efetivamente acontecer. A nova ordem política e econômica surgirá do conflito certamente vai alterar mercados internacionais, compradores do Brasil ou fornecedores de insumos e matérias primas essenciais à produtividade brasileira. A Rússia tem sido um dos principais parceiros do Brasil na balança comercial internacional. Investimentos estrangeiros, movimentações financeiras, são outras ocorrências possíveis.

As primeiras análises indicam que o preço do petróleo subirá e com o atual regime da Petrobrás, que obedece às variações do dólar, teremos certamente elevações ainda maiores da gasolina, diesel e outros produtos. E também o gás, que é essência a todos os domicílios brasileiros, deverá ter preços majorados. Prevê-se que o Brasil deixará de receber matérias primas para a produção de fertilizantes, que são importados da Rússia, especialmente o fosfato, que não temos no Brasil e que é essencial para sustentar a produtividade agrícola brasileira.

O Brasil, informam os analistas do mercado, já deveria há muitos anos ter investido na indústria de fertilizantes, reduzindo esta dependência, assim como de outros produtos que consumimos. E são insuficientes, também na opinião dos analistas, as poucas explicações que a Petrobrás dá para o alto preço do petróleo, quando temos quase auto-suficiência de produção de petróleo a partir do Pré-Sal. Agora, tudo indica, esta política terá consequências ainda mais danosas ao Brasil.

O mundo se reorganizou geopoliticamente depois da primeira mundial, em 1945. Surgiu a União Soviética. A partir de 1989, com a perestroika, desfez-se o grande poderio territorial russo. OS EUA e a Europa Ocidental, especialmente a Inglaterra, consolidaram sua hegemonia política e econômica, realizaram invasões e sustentaram influências. Nos últimos anos vimos a veloz ascensão da China, com extraordinário avanço tecnológico, industrial e comercial. E que é grande parceira do Brasil, como é da Rússia. Enfim, são vetores de um xadrez internacional complexo e incerto. E que exige, de países como o Brasil, maturidade e sabedoria para absorção das consequências de todas estas mudanças.

*Jornalista (mauro.werkema@gmail.com)

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