O início do período chuvoso afasta, por enquanto, a grave ameaça de apagão no sistema hidrelétrico brasileiro e a possibilidade de interrupção no fornecimento de energia elétrica. E renova a esperança de que as chuvas possam interromper um já prolongado ciclo de estiagens com menor volume de chuvas, provocando uma crise hídrica que reduziu em muito o volume d’água dos reservatórios e lagos. O fenômeno atinge marcadamente o Sudeste brasileiro, onde estão os centros urbanos e os conjuntos industriais que são os maiores consumidores de energia elétrica. A chuva, portanto, é bem vinda, mas é importante, e oportuno, que algumas considerações e advertências sejam lembradas para evitar ou minimizar futuros problemas.
A primeira advertência que a crise hídrica nos faz é que é preciso, com urgência, reverter o modal hidrelétrico brasileiro no sentido de aumentar em muito o fornecimento de outras formas de energia, como já acontece em países europeus e economias mais avançadas. É preciso incentivar o uso de energias eólica e solar, processos já tecnologicamente avançados e muito mais baratos. O Brasil ainda está muito atrasado nestes dois inovadores processos de geração de energia e que tendem, a médio prazo, substituir também as fontes de energia poluidoras, como o petróleo e o carvão mineral, muito mais caras.
A indústria automobilística já começa a fabricar no Brasil o carro elétrico. E a gasolina e o diesel sofreram, nos últimos tempos, elevações de preços que trazem dificuldades para várias atividades, não só para os automóveis particulares, mas especialmente para o transporte por caminhões, que é dominante no Brasil por falta de vias ferroviárias. A crise hídrica provoca também a elevação das tarifas de energia elétrica, que praticamente dobraram em vários casos, passando a ser uma despesa extorsiva nas despesas domiciliares do Brasil. O mesmo acontece com o gás de cozinha, outra despesa quase que obrigatória e que ajuda a elevar a inflação no Brasil para 10%, indicador que mais expressa a grave crise econômica que vivemos.
Em meio à crise hídrica, o caso mais expressivo é o da Represa de Furnas, chamada de “o mar de Minas”. A sua cota normal, desde 1962, quando foi inaugurada, era de 762 metros acima do nível do mar, o que permitia o chamado “uso múltiplo do lago” para atividades turísticas, náuticas, esportivas, agropecuárias, através de várias iniciativas nos municípios lindeiros. A cota, com a crise, está hoje em 755 em quase todos os 34 municípios às margens do grande lago, o que levou à paralisação de 160 empreendimentos e a perda de 20 mil empregos. Toda a região do Lago de Furnas vive crise social e econômica sem precedentes e as reiteradas reclamações do Governo Mineiro, e de outras entidades, não encontram resposta das agências federas que controlam o sistema hidrelétrico brasileiro.
Furnas, criada em 1958 pelo então presidente Juscelino, aproveitando especialmente o imenso potencial do Rio Grande, cujo projeto básico foi elaborado pela Cemig, que fora criada em 1952, já previa o “uso múltiplo do lago” que se formaria, especialmente pelo turismo. Mas, além da crise hídrica, descobriu-se que Hidrovia Tietê-Paraná, que transporta cargas de grãos do Mato Grosso, Goiás e São Paulo, tira cerca de 8% da água do Lago de Furnas, com o conhecimento dos órgãos federais, mas em detrimento dos interesses de Minas Gerais. Enfim, um atentado contra Minas que não tem presença na diretoria de Furnas nem nas agências federais de controle do sistema hidrelétrico.
Temos, enfim, que aplaudir o regime de chuvas, mas estas advertências, ou recomendações, tem que ser lembradas para que sejam evitadas novas ameaças de apagões, custo elevado da energia, entre outras mazelas brasileiras, como o desmatamento que, segundo os especialistas, é uma das causas da crise hídrica. E que Minas Gerais desperte para reivindicar melhor seus direitos e tenha atitudes mais firmes na defesa dos interesses mineiros.
*mauro.werkema@gmail.com