Mauro Werkema
Os governos, federal e estaduais, não tem como agir para evitar a elevação de preços na cesta alimentar. Assim como na cadeia de serviços. As causas dos reajustes nos preços dos principais alimentos, assim como nos combustíveis gasolina, óleo diesel e gás de cozinha, decorrem de causas variadas mas de difícil remoção a curto ou médio prazo, pois estão atrelados, em sua maioria, a fatores externos e da conjuntura econômica em que está inserido o Brasil. Esta confissão vem do próprio Ministério da Agricultura, principal controlador de vários ingredientes da cesta alimentar brasileira. E, no caso dos combustíveis, os preços são dependentes de elevações internacionais do petróleo, o que é a principal desculpa da Petrobrás que, mesmo pressionada e cobrada, não se dispõe a alterações no seu sistema de formação de preços.
Na verdade a crise atual na cesta alimentar, pelos altos preços, expõe várias mazelas da economia brasileira e a falta de planejamento de mais longo prazo, com identificação de deficiências variadas. O Brasil já produziu trigo mas descuidou da sua produção e passou a importar da Rússia e da Argentina, com quantidade próxima de 60% do consumo nacional. Com a guerra, além do trigo, o Brasil não terá condições de continuar importando insumos para fertilizantes, principalmente o fosfato, que não produz, embora tenhamos jazidas, inclusive em Minas Gerais, conforme apontam vários estudos. O Brasil não desenvolveu uma indústria forte na produção de fertilizantes, essenciais à agricultura, que também deverá sofrer queda de safras, conforme previsões em curso.
O Ministério da Agricultura informa que o Brasil tem estoques de alguns grãos pra dois meses. Mas a importação reguladora, para formar estoques preventivos, está praticamente impedida no mundo atual, em que os países produtores também estão com dificuldades, com a guerra, sanções econômicas, retenção de exportação. E os estoques estrangeiros disponíveis também estão com elevações de preços. Então, a conclusão do próprio Ministério, é que o Brasil não tem, no momento, meios para baixar os preços dos alimentos. A queda na produção de graõs é danosa à alimentação brasileira e reduz também a exportação, hoje forte fonte de divisas pra o país.
Estatísticas divulgadas nos últimos dias mostram que os principais alimentos consumidos no Brasil tiveram aumentos superiores a 50%, como massas e pães dependentes do trigo, produtos do milho e soja, arroz e feijão, carnes e muitos outros que integram a cesta básica alimentar do brasileiro. A previsão, portanto, é que a disparada de preços continue tendo novas altas no decorrer de 2022. Se a situação dos brasileiros de maior renda já está se tornando difícil, pior ainda para os de baixa renda, que já vivem insegurança alimentar. Para os mais pobres, a situação pode ser de fome, o que infelizmente é a previsão que já se revela.
As elevações de preços alcançam também o setor serviço, que garantiu, em 2021, um desempenho melhor do PIB brasileiro, de 4,1%. Dificilmente 2022 repetirá esta performance, em meio a um conflito internacional que leva meio mundo a precaver-se até ver o quanto se estenderão as ações bélicas e também as restrições econômicas e financeiras impostas à Rússia, mas também tem consequências no Brasil.
Semana passada o IBGE divulgou que o desemprego recuou de 12% para 11,2%, menor taxa desde 2016. Mas informou também que a renda do Brasileiro desabou em 10% em 2021, restringido seu poder aquisitivo. O governo federal, pensando nas eleições, anuncia uma série de “bondades”, como antecipação do 13º salário aos aposentados, liberação de recursos do FGTS e outros, ajudando os mais necessitados. Mas a situação exige ações, no âmbito familiar, de controle de gastos para suportar a carestia ou mesmo falta de alguns produtos. Triste e lamentável, mas é a realidade que vivemos, exigindo condutas preventivas nos gastos de todos.
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