Iniciemos o ano de forma diferente. Substituamos o texto, comumente a expressar opinião pessoal, por relato mais jornalístico a explicar algo, antes que interpretações errôneas venham confundir a opinião pública. Vivemos época, em que novidades tecnológicas pipocam a cada instante; mal nos acostumamos com uma e já vem outra mais interessante. Como há um vazio de quinze dias entre o fato e esta edição, é possível que a grande mídia já o tenha explorado, anulando esta iniciativa de esclarecer o estranho “fenômeno” observado na madrugada, em torno das 3h20, de 27 de dezembro. Mas, vamos lá.
Por volta das 5h15, durante a caminhada matinal (acompanhado da Brisa, minha cadela labrador), chegava a portaria da RCM Stone (antiga OPPS) quando o Aparecido Miranda, funcionário daquela empresa, apressou-se em me fazer o relato. Disse-me ele que, das 3h20 às 3h40, mais ou menos, observou um estranho desfile de luzes no céu, no sentido oeste/leste. Segundo ele, as luzes eram fixas e se deslocavam em fila indiana, desaparecendo num determinado ponto e reaparecendo em outro, logo à frente.
O Aparecido se mantém bem informado como autodidata que é, fato que o fez descartar o observado da fenomenologia ufológica, mesmo porque é um estudioso do assunto. Dentro do que já assimilou da ufologia, percebeu logo que a coisa seria outra. Aviões também não podiam ser, já que não se mostravam luzes de navegação e nem era emitido ruído; drones, também não. Calculou ele que teriam sido uns cinquenta focos, quinze além dos trinta e cinco que contara. Ele imaginava que os objetos, a uma altura de mil metros e aparentemente luminosos, na verdade seriam iluminados pela luz do sol que surgiria dentro de duas horas. Concordei com o reflexo da luz solar, mas discordei da altura, observando ao Aparecido que, na hora da observação, o sol não seria visto à altura de mil metros. Os objetos deviam estar a uma altura bem superior; talvez, em órbita, pensei.
Despedi-me dele, prometendo dar uma “fuçada” no todo poderoso Google. Em outros locais, outras pessoas teriam também observado o fenômeno e o registro já teria sido feito. Já se foi o tempo em que era necessária a presença de um repórter, no local do fato, para registrá-lo e divulgá-lo. Qualquer pessoa, de posse de um celular, querendo, pode ser repórter! O furo, atualmente, chega a ser feito pela própria testemunha do fato, levando o repórter profissional à condição de “marido traído”, o último a saber!
Conforme o previsto, no Google foi encontrada a explicação. Trata-se de um projeto denominado Starlink, ligado à empresa SpaceX, fundada por Elon Musk, nos Estados Unidos. O Starlink, ao fim de sua instalação, será uma imensa rede interconectada de milhares de satélites. Segundo o próprio Musk, a ideia é lançar 11.943 satélites, em lotes de 60 unidades, um dos quais lançado dia 17 de outubro último. O projeto tem como objetivo expandir a internet banda larga a todo o planeta, eliminando os muitos pontos escuros ainda existentes na web.
No Rio Grande do Sul, 6 de dezembro, onde e quando se viram os satélites Starlik, pela primeira vez, pessoas ficaram um tanto apreensivas, muitas a classificar o fato como fenômeno ufológico. Ufólogos, por sua vez, inquietam-se com o lançamento de tais satélites pois, se aos primeiros lançamentos o impacto é dessa nível, imagine-se quando a rede cobrir todo o planeta. Pesquisadores da ufologia terão muito trabalho para separar óvnis de satélites ante pretensos contatos de primeiro grau. Astrônomos também reclamam contra a interferência de tais objetos em suas observações. Mas, cá pra nós, não serão picuinhas? O espaço, há muito tempo, está cheio de lixo; e tanto que os satélites Starlink estão programados, para evitar colisão com qualquer corpo estranho em sua rota. Quanto ao lixo, ao fim de sua vida útil (5 anos), cada satélite também é programado para se consumir inteiramente, sem deixar resíduos.
Fica aí o esclarecimento prévio. Se alguém, ao voltar da noitada, vir uma procissão de luzes no céu, aquiete-se; admire o novo fenômeno proporcionado por engenhocas humanas e vá para casa tranquilo(a). Não saia a gritar que está havendo uma invasão alienígena e, muito menos, que o mundo vai acabar!