Aquela coisa, quanto mais nela se mexe, mais fede! Mas, já que fede, que feda mais! O importante é não deixar a coisa acontecer, sem que seja catucada, quando confronta o nosso pensamento crítico. O tema é o carnaval. Guardadas as devidas diferenças, uma profundamente religiosa e de merecido respeito e outra, profana ao extremo, aberta à irreverência comedida, o carnaval era igual ao Natal, em frequência: uma vez por ano!
A folia do “rei Momo I e único” era como um grande pomar, onde se encontravam todas as frutas, cercado por alto muro bem guardado, portão trancado a sete chaves e intransponível. Somente durante três dias, o portão era aberto a todos que quisessem, podendo mesmo saltar o muro os que assim considerassem mais interessante. No quarto dia, o pomar já estava fechado novamente, devidamente guardado para que ninguém ali penetrasse, antes da data convencionada, no ano seguinte. Seu momento no calendário eram os três dias, imediatamente antecedentes à Quarta-feira de Cinzas; nada fora disso.
Desde seu surgimento, o carnaval foi uma festa do povo, feita pelo próprio povo, para o povo, sem qualquer interferência das administrações municipais, à exceção da movida pelo zelo na manutenção da ordem pública, desde que não atentasse contra a moral vigente, eram ambiente e momento mais propícios a críticas de toda natureza, sob a forma musical, mediante uso de fantasias, caricaturas e alegorias diversas. Era o carnaval arte; pura cultura popular e muita diversão, a envolver a população dos oito aos oitenta! Tudo foi bem, enquanto não havia exploração e coação da arrecadação de direitos autorais, de um lado, e ingerência das administrações na realização do carnaval, simplesmente, não havia. Registre-se a farta distribuição de músicas próprias, das entidades representativas dos compositores às entidades promotoras do carnaval, o que cessou completamente depois de desaparecida a produção de músicas carnavalescas e implementada a cobrança, até abusiva, por sua execução. Isso determinou o carnaval em recintos fechados, pois os gastos antecipados obrigatórios podiam levar entidades ao suicídio financeiro.
O resultado foi a exclusividade ao carnaval de rua, o início de sua municipalização e a decadência da festa, transformada em evento de consumo de bebidas alcoólicas, mais drogas, sexo e muito barulho. Com a desculpa da pandemia, que impediu o carnaval em época própria, gestores municipais, sequiosos de arrecadação e notoriedade a se transformar em votos, partem para a promoção do carnaval, em qualquer momento, até mesmo na carona forçada de eventos religiosos. Desrespeito à população cristã e oportunismo safado do prefeito cearense, que promoveu evento carnavalesco durante a Semana Santa, valendo-se ainda de termos religiosos para fazer seu marketing. O povo não ousaria tal profanação, levada a efeito pelo político, naturalmente que inspirado pelo diabo!
Na semana passada, foi a vez das cidades do Rio e de São Paulo realizarem seu carnaval fora de época, felizmente não profanantes, sem deixar de ser oportunistas com vistas à maior arrecadação na onda de um feriadão. Embora fora de época, do Rio não há muito o que dizer sobre esse carnaval, pois o carioca é sempre carnavalesco! Quanto a São Paulo a coisa é diferente, pois no tempo do carnaval do povo, carnaval de fato, aquela capital não o tinha. Era realizado tão somente nos salões grã-finos! Nas ruas nem se viam sinais do carnaval. O povo tinha que trabalhar, em apoio à ufania besta e oficial, que dizia: São Paulo não pode parar! Municipalizado, como no resto do país, surgiu o carnaval paulistano, com sambódromo e tudo mais, num arremedo ridículo e presunçoso de se igualar ao do Rio; desejo nem cogitado em nível de povo, pois este, quanto ao carnaval autêntico, só pensa em diversão.
Carnaval fora de época, ainda que nos moldes autênticos, é um despropósito no calendário e, realizado na cidade de São Paulo, o cúmulo da impertinência político-administrativa, sobretudo, sabendo-se que a COVID-19 ainda está por aí, à espreita de oportunidades. Do paradoxal “fique em casa” ao “saia para a gandaia geral” está faltando prudente e gradual transição! Tudo isso acontece porque os políticos estão sob o guarda-chuva dos partidos, que roubam do povo o direito de estar no poder, conforme enuncia o conceito de democracia.
PARTIDOS POLÍTICOS JÁ FIZERAM MAL DEMAIS À HUMANIDADE!