Voltemos à Rua Santo Antônio, rota das tropas e boiadas, bem como dos viajantes em trânsito para ou de volta de Vila Rica (Ouro Preto) e outras paragens. De sua ala direita, logo abaixo da Praça Santo Antônio, surgiu, primeiro um caminho em direção ao Pastinho e, por consequência, à esquerda desse caminho, no início da baixada, abriu-se uma rua, que terminava na porteira de uma propriedade particular; era, portanto, rua sem saída. A rua tinha nome curioso, desconhecido pelas novas gerações, uma vez que foi trocado, nos anos 80 do século passado. O nome era Rua da Fonte Fora.
Desde a região da “marmelada” descia uma água, por estreito rego, que cortava os fundos de quintais, até chegar ao quintal de imóvel, então em ruínas, esquina das ruas “Santo Antônio” e “Fonte Fora”, hoje uma casa na qual funciona uma escola de condutores. O imóvel era, então, propriedade da Sociedade São Vicente de Paulo – SSVP e administrado por membros da família Viana, residentes no imóvel onde se localiza a lotérica. Em todo o quintal cultivavam-se hortaliças e, ao fundo dele o citado rego d’água tinha uma parte destinada a uma bica ou fonte, que servia à irrigação da horta e consumo da família. O rego atravessava a rua por tubulação subterrânea e, no outro lado, outro tanto era desviado para uma segunda fonte, desta vez em área pública. Devido a essa fonte, situada fora da área particular, que “Fonte Fora” virou nome da rua. Os quintais, do lado de baixo, eram desprovidos de árvores, porém todos aproveitados na horticultura, valendo-se da fartura da água, que minava, facilmente, em toda a região. Bem próximo à fonte que dava nome à rua, havia uma nascente circundada por um poço, onde muitas donas-de-casa ilham se abastecer Dado curioso, também atestado da solidariedade humana, então mais presente, era o fato de pouco se comercializarem hortaliças. Eram simplesmente permutadas por outras espécies de hortaliças, legumes, ou doadas a pessoas com dificuldades em manter horta própria, principalmente por não ter água em seus domínios.
Por ocasião das grandes enchentes, muito mais comuns, pelo menos duas ao ano, a Rua Fonte Fora só não ficava isolada porque a água não passava do pé da pequena ladeira, onde tem início a parte baixa da rua. Boa parte de cada quintal também ficava alagada, como consequência do represamento do córrego, que passa nos fundos, pela força das águas do Maracujá. O campo de futebol, nas proximidades ora pertencente a um clube desportivo local, era então propriedade do Oratório Dom Bosco, era conhecido como “campo da praia”; e o nome se justiçava. Por ocasião dos transbordamentos, as águas do Maracujá depositavam â margem direita, por toda a extensão do campo, alta camada de areia muito fina e branca; um convite à recreação própria desses locais! Se não do “campo”, bem que Cachoeira poderia ter sido da “praia”! Acredite-se se quiser, pois, coisas de um tempo quando fotografia era supérflua, capricho de rico, própria para solenidades e momentos muito importantes; dificilmente, areias do “campo da praia” serão vistas em foto!
De volta ao assunto principal, o rego d’água, depois da “fonte fora”, seguia seu curso nos fundos dos quintais até o antigo Largo do Bom Despacho, cujo nome se devia à capela de Nossa Senhora do Bom Despacho, ali existente; naquela pracinha, a água seguia, mais uma vez por suto subterrâneo, na parte mais plana, atravessava a “ladeira” (Rua Padre Afonso de Lemos), para servir à irrigação de outra horta mais além. Logo abaixo, atravessando a ponte, chegava-se a outra praça de apelido curioso, embora nome próprio já tivesse derivado de antigo e ilustre cachoeirense (Coronel Ramos) morador daquele local. Por muitos anos, chegando até os anos 60) foi conhecida como “garagem”. Ainda há poucos dias, por telefone, cachoeirense que, raramente, vem a Cachoeira, indagou-me se ônibus BH/OP fazia parada na “Garagem” e eu me embatuquei; naquele momento, não me lembrei de como era chamada aquela praça. A Praça Coronel Ramos, segundo o que pessoas mais velhas, era chamada “garagem” porque ali ficou guardado o primeiro automóvel chegado a Cachoeira. Quanto à ponte, que a liga ao antigo Largo do Bom Despacho, foi inaugurada em 1916 e não na data, que se vê na placa alusiva ao melhoramento recebido, ou seja, expansão na largura, possibilitando então a passagem de dois veículos, simultaneamente.