Vamos, agora, à Vila Alegre que, pelo lado mais próximo ao Pastinho, tem início na Rua 6, ao lado da unidade de serviços médicos que, equivocadamente, chamam de UPA, e, mais próximo ao centro, tem início pouco acima da capela de São Francisco. As primeiras edificações, naquela região, são do início dos anos 60 e, devido ao alto grau de dificuldade, para ali chegar, acrescido da falta do básico (água, esgoto e luz) para ali morar, o então nascente bairro era, jocosamente, chamado pelo povo de “vila vaiquemqué”. Em tempo de seca era muita poeira e no tempo chuvoso, um barro vermelho escorregadio como quiabo! Aos poucos, o bairro se desenvolveu, ganhou nome adequado e, hoje, até ostenta alguma atividade comercial.
Entretanto, há um equívoco quanto ao território de abrangência do nome Vila Alegre, porque o altiplano, acima da torre de celular, tem denominação antiga, talvez ainda do período colonial. Aquela região sempre foi denominada Cruz dos Monges ou Cruz do Monge. Crê-se mais correto o nome Cruz do Monge pois, na verdade, seria apenas um monge que ali habitou, marcando o local com uma cruz; daí o nome da região. Até início dos 60, quando se ergueram as primeiras moradias, bem cá embaixo, na região Cruz do Monge havia somente um morador, ao lado da capela de São Sebastião. A população daquela região é, praticamente, composta de imigrantes internos, portanto desconhecedora de tal peculiaridade, o que a exime do equívoco, que precisa ser reparado. Cabe às autoridades municipais fazê-lo; e, fazendo, estará a respeitar o sentimento de cachoeirenses, que não querem o desaparecimento de suas memórias históricas. Como se não bastasse, além desse equívoco de abrangência da denominação “Vila Alegre” sobre o território da “Cruz do Monge”, outro se registrou no livro Igrejas e Capelas, publicado pela Editora Ouro Preto, em 2016. Na referência à capela de São Sebastião consta que o local se denomina Cruz dos Monges, porque um monge teria, ali, morrido, pendurado pelo estribo e arrastado pelo cavalo que montava. De fato, o fato ocorreu, não longe dali, porém não com o monge e, sim, com um coadjutor ou irmão leigo salesiano, bem distante, no tempo, do citado monge. De acordo com relato no livro Memórias do Cinco Lustros das Escolas Dom Bosco, a tragédia ocorreu, na manhã do dia 26 de outubro de 1920. Grupo de visitantes das Escolas Dom Bosco, padres, bispo e autoridades civis, dirigia-se a cavalo para a estação Henrique Hargreaves (nome anterior da estação Dom Bosco) onde embarcariam para seus pontos de origem. A cerca de um quilômetro do colégio, no início de uma ladeira, defrontaram, de longe, com a figura de um cavalo em disparada, no sentido contrário ao deles; preso pelo estribo, um rapaz estava sendo arrastado. Era o irmão leigo e professor, José Thelles Brandão, que tinha saído à frente, a conduzir malas. Embora não tivesse nenhuma fratura, seus órgãos internos foram abalados e muito sangue ele perdera. Resistiu ainda por vinte e quatro horas. Desde então, aquela ladeira em forma de “C” invertido ficou conhecida como Morro do Brandão. Próximos no espaço, porém distantes no tempo, os dois relatos se misturaram e somaram mais um equívoco à história do bairro Cruz do Monge.
A histórica, autêntica e popular denominação Cruz do Monge precisa ser resgatada, se não se quiser ter outros marcos importantes do passado cachoeirense também desaparecidos. Dói, na alma, por exemplo, quando serviços burocráticos da CEMIG refugam o nome Cruz do Monge, alegando que isso não existe. Parece que os cachoeirenses se perderam em casa, não sabem onde nasceram, cresceram, estudaram; onde constituem famílias e educam filhos. Têm que ouvir alguém que, de fora, vêm lhes ensinar o que é isso ou aquilo que eles próprios criaram ou realizaram. Essa questão já foi levada a alguém, que então tinha assento na Câmara Municipal, mas, assim como tantos outros assuntos, não menos importantes, não mereceu consideração da edilidade. Espera-se que este rogo, de forma pública, gere resultados favoráveis.
Mais à frente do bairro Cruz do Monge, cujos destaques são a capela de São Sebastião e o CAIC, está a região do Madureira, marcada pela capela de Santo Antônio, tendo ao lado o mais novo cemitério local. A denominação Madureira também deve ser preservada.