Nylton Gomes Batista
Antes que corram ao Google, quando deveria ser ao dicionário, fonte correta e legítima de informações sobre significado, classificação, posição e função das palavras, dentro da Língua Portuguesa, explica-se que toponímia é o “estudo linguístico e histórico da origem dos nomes de lugar”, conforme registra o Aurélio. É disso que se pretende tratar, mediante alguns artigos, antes que o tempo e as transformações, que ele traz, levem de roldão muitos dados e detalhes da cultura e história cachoeirenses.
Cachoeira do Campo passa por uma transição, que inclui crescimento demográfico (aumento da população) e expansão do comércio que, a médio prazo, poderá situá-la como polo regional do setor. A portar identidade anterior à de Ouro Preto (Vila Rica foi criada em 1711), Cachoeira do Campo que, em 1708, por ocasião da Guerra dos Emboabas, já era paróquia de curato ou missão, tendo como padroeira Nossa Senhora de Nazaré, já perdeu muito de suas referências históricas, eclipsadas que são pela sombra fora do foco concentrado em Ouro Preto. Que não se deixe perder o que ainda resta! Embora vila, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), como sede de distrito do mesmo nome, já se configura como pequena cidade, dotada de todos os serviços básicos, de que necessitam os cidadãos. E, por ter se expandido além do mínimo, perante o qual se permite que todos seus moradores se conheçam entre si, a localidade já se divide em bairros, objeto da primeira abordagem.
Inicia-se esta exposição, subindo ao ponto mais alto, ao Alto do Beleza, denominação vista por muitos como erro de concordância, daí a indevida correção para “Alto da Beleza”, conforme se vê até nos mapas do Google. Esclarece-se aqui, aos mal-informados que Alto do Beleza nada tem a ver com a qualidade do belo descortinado daquele local. Ao contrário, a denominação é antiga e está ligada ao nome ou apelido de uma pessoa, vivente nos primórdios de Cachoeira, quando aquela região era morada exclusiva de cobras, lagartos e gafanhotos. Estão de parabéns seus moradores, que preservam o nome original! Abaixo do bairro Alto do Beleza, vem o do Tombadouro, mas como é, praticamente, constituído por uma só rua, dele se tratará quando forem abordadas as ruas e, enquanto isso, vamos ao bairro dos Metalúrgicos. Se preservado o nome original, o bairro dos Metalúrgicos teria sido denominado “Marmelada”. Esse era o nome daquela região, onde se situava o principal reservatório de água e do qual, por gravidade, a água era levada até outro reservatório no, hoje, bairro Dionísio, de onde era distribuída, também por gravidade, para a população. No passado, alguns presumiam que o nome era devido ao cultivo do marmelo que, outrora, ali teria sido praticado. Entretanto, crê-se mais provável como origem a marmelada ou “marmelada de cachorro”, fruta silvestre, outrora bastante comum nas capoeiras desta região, assim como gabiroba, araçá e outras. A marmelada tem formato esférico e tamanho médio equivalente ao da jabuticaba. Sua polpa é constituída por uma massa cremosa marrom, que inclui sementes bem miúdas. A marmelada era bastante apreciada e, por isso, um bom “quebra-galho” para as lenheiras famintas, antes que chegassem em casa, para o almoço a ser preparado. Este autor sabe o que diz porque, em sua adolescência, também foi lenheiro e apreciador de frutinhas silvestres.
Até aqui falou-se de bairros novos, surgidos há menos de cinquenta anos. Ao contrário do Alto do Beleza e do bairro dos Metalúrgicos, a região do Pastinho é bastante antiga como tal. A princípio era constituída por única rua (Rua João Bastos Filho) com poucas casas mas, hoje, abrange dois novos condomínios. Ao conhecer tais condomínios, muitos podem pensar que se trata de bairro novo, o que é engano. O Pastinho era, sim, um ponto isolado, tendo ultrapassado essa condição mui recentemente com a expansão urbana. Era pelo Pastinho que entravam pessoas vindas de pontos mais distantes e era numa bica, ali localizada, que lavavam os pés e calçavam sapatos, por ocasião das festas religiosas, casamentos etc. Para moradores do meio rural, calçar sapatos era um tremendo suplício. Quanto ao porquê do nome nada se sabe. Entretanto, pode ter tido origem na atividade tropeira que, antes do transporte mecanizado, foi importante base da economia local. Como já foi dito, em outras oportunidades, daqui partiam muitas tropas, que alcançavam até estados vizinhos, levando produtos da região e, na volta, trazendo o que aqui não se produzia.