Nada mais surpreende a ninguém, pelo menos entre os conectados, que procuram estar algo atualizados. Entre as novidades, recentemente anunciadas, destaca-se a dublagem automática, demonstrada por Mark Zuckerberg, proprietário fundador da Meta (Facebook e Instagram). Vai ser uma grande reviravolta no setor do audiovisual; isso se a coisa der certo mesmo, porque nem sempre o sucesso está garantido. Veja-se o AI Pin (para brasileiro seria “Aipim”), anunciado no fim do ano passado e que resultou em tremendo fiasco, antes mesmo de o grande público dele tomar conhecimento.
Considerada hipótese, no presente caso, futuramente, o ouvinte poderá não saber em que idioma um áudio foi gravado, a menos que se obrigue citação do idioma original; poderá, talvez, nem saber que se trata de dublagem, pois a dublagem incluirá a sincronização labial. Embora seja o mandarim (língua chinesa) o idioma mais falado no mundo, o inglês é o mais difundido e a língua da internet, razão pela qual a maioria dos internautas fica restrita a conteúdos em sua língua nativa, no caso dos brasileiros, por exemplo, presos ao português. A novidade se desenvolve nos domínios da Meta, mas isso não quer dizer que ficará restrita a ela, devendo abranger toda a internet. Alguém já imaginou o alcance dessa prática? O que ela poderá significar? Em texto, muitos sites já traduzem, automaticamente, seu conteúdo para o idioma de quem o acessa, porém o público leitor é, de longe, bem menor que o público ouvinte, razão pela qual se valoriza e se consome tanto conteúdo em vídeo. Com essa facilidade para entender, diretamente, tudo o que é dito no mundo, ouço, por antecipação, vozes contrárias, os eternos pessimistas a protestar, pois estarão a perder seus empregos os professores de línguas estrangeiras, especialmente o inglês. Para frustração dessas aves agourentas, não há nenhuma ameaça ao ensino de línguas; dubladores, sim, poderão ser dispensados, mas não professores de línguas, pois o conhecimento de outras línguas não perderá importância e continuará sendo, cada vez mais, necessário. Com o estreitamento das relações humanas decorrente do encurtamento do fator espaço/tempo, proporcionado por meios de transporte mais eficientes, somado ao avanço nas comunicações, a busca pelo aprendizado de línguas estrangeiras tende a crescer. O que a dublagem automática fará é facilitar a divulgação de produtos audiovisuais que, hoje, têm pela frente o custo da dublagem individualizada, no idioma do país onde se querem divulgados os produtos. Imagine-se plataforma como o You Tube, por exemplo, aberta à compreensão de todo o mundo. Em português, idioma ao qual a grande maioria brasileira está restrita, o conteúdo da plataforma já é imenso; como então reagirá o público internauta, em todo o mundo, ao entender, no vernáculo, produtos audiovisuais produzidos em qualquer país? Com o novo sistema, o público poderá ouvir, se não uma tradução fiel, pelo menos mais aproximada da fala original, ao contrário do que se ouve, atualmente, muitas falas com sentido, completamente diferente e, eventualmente, denunciadas pelas próprias legendas.
À primeira vista e aos desavisados pode parecer uma coisa boba, sem importância e que não exercerá qualquer influência na vida do indivíduo comum. Quem assim pensa é, mais ou menos, o mesmo que, diante do anúncio de aumento nos preços dos combustíveis diz: “isso não me afeta, pois não tenho carro”, esquecendo-se de que tudo o que ele faz, consome e possui depende dos combustíveis, além dos impostos que paga. Há ainda a outra da face da moeda. Não se trata apenas do consumo, pois quem produz também poderá ser beneficiado, ou não, a depender da qualidade do produto que, a partir de então, vai requerer mais atenção de produtores. Na internet, houve o tempo em que a compreensão de sites, em inglês, e a comunicação pessoal estavam ao alcance, tão somente, de pessoas que leem e escrevem em inglês. As primeiras páginas traduzidas eram horríveis, cheias de equívocos, ao contrário de hoje, bem mais confiáveis. Com o áudio, em tradução automática, deverá ser, mais ou menos, a mesma coisa, mas as correções deverão se processar em menor tempo, abrindo caminho para disseminação e intercambiamento do conhecimento humano, em todas as áreas. Para produtores de cursos em vídeos, o mercado brasileiro parecerá um mundinho, uma vez aberta a porteira para todo o mundo. Contudo, haverá que muito se aprimorar na linguagem. Imagine-se, por exemplo, em outras línguas, a corriqueira expressão, “vou vir aqui”, em cursos pela internet!