Nylton Gomes Batista
Já se viu que superstições constituem crenças descabidas, ilógicas, porque associam resultados bons, ou maus, q eventos ou objetos, cuja natureza nada tem a ver com o fato indesejado ou bem-vindo. Muitas vezes, no passado longínquo, coincidência entre um e outro se destacou, levando a mente humana a gerar associação de ideia, que acabou por persistir ao longo tempo. Tais associações de ideias, presumidamente geradoras de resultados, bons ou ruins, conforme o caso, se mantidas como curiosidades, sem qualquer relação com o agora, nada a opor, No entanto, o que se percebe é uma extrema dependência de pessoas com relação a tais crenças. Ao mesmo tempo, pessoas crentes de tais superstições se dizem religiosas e ligadas a uma igreja; nem percebem a incorrência no seu comportamento. Se crê em superstições, prática religiosa para quê? Se acredita em superstições é porque não acredita no que ensina a religião; se acredita em superstições é porque não confia na divindade, Deus, Ser Supremo, ou qualquer outro nome Lhe seja dado. Sua vida religiosa é apenas fachada. Escorada, na superstição, de forma obsessiva, a pessoa se torna vulnerável de circunstâncias negativas, por faltar-lhe o destemor proporcionado pelo pensamento positivo. Nada que almejam, tais pessoas realizam sem, em suas mentes, antecipar fracassos, que podem acontecer, porque no fracasso pensaram; acabam por terem reduzidos círculos sociais, porque que quem não absorve crença em superstições tende a se afastar de quem as absorve.
Certa vez, quando mais jovem, numa viagem rápida a Curitiba, busquei por hospedagem em pequeno hotel, já conhecido, mas ouvi da senhora, na recepção, que não havia vaga. Frustrado, agradeci e já saia, à porta, quando fui chamado de volta, A recepcionista então informou que, na verdade, havia um quarto, mas sempre temia oferecê-lo pois era o de número 13. Esclareci-lhe que isso não me importava e ela, ao me passar a chave, disse esperar que eu não fizesse nenhuma reclamação, caso sucedesse algo desagradável, O quarto era o único do térreo e mais barato que os demais devido ao seu número, o que muito me convinha, pois levava pouco dinheiro, numa época em que não cartão bancário e muito menos caixa eletrônico
Ao fim de dois dias, resolvidos os negócios, embarquei-me de volta, ocupando a primeira poltrona do corredor, logo atrás da cabina do motorista. Ao meu lado, sentou-se um bêbado, sujo e malcheiroso. Era uma noite chuvosa, mas só isso não explicava o fato de o desagradável passageiro ter os sapatos e barras da calça tão enlameados, pois nas proximidades da estação rodoviária não havia lama. Iniciou-se a viagem e prosseguiu meu suplício, iniciado com o embarque do bebum. Ele teimava em conversar, sem condições para tal e exalava o horror para quem tem bom olfato. O indivíduo começou mesmo a perturbar; até dormir no meu ombro ele quis. Solicitado, o motorista parou e acionou a patrulha rodoviária, que chegou imediatamente. Foi explicado que a retirado do passageiro só poderia ser feita com a autorização do motorista, que transparecia ser do tipo menos rigar e mais paciência. Ele me consultou se daria uma chance ao rapaz, com o que assenti. Se continuasse a perturbar, o motorista estava autorizado desembarcá-lo em qualquer ponto comunicar à Polícia Rodoviária. Pouco depois, houve descanso em ponto de parada e não mais que cinco minutos, depois do reinício da viagem, ouviu-se algo como grande explosão. Fui projetado contra a cabina, caí e me agarrei em algo no fundo veículo, enquanto este prosseguia desgovernado, saia da pista e deslisava pelo aterro abaixo, parando de rodas no chão. Felizmente, poucos feridos levemente, dos quais, os mais graves eram o motorista, que teve o rosto atingido por pequenos estilhaços de vidro, e, eu com pequeno ferimento na testa. O motorista esclareceu haver colidido de frente com uma kombi, que rodava na contramão. Na pista não havia kombi, porém, pequenos pedaços dela, espalhados por vasta área. O corpo do motorista, igualmente, foi recolhido aos pedaços e colocado num saco. Nenhuma roda da kombi foi encontrada no local. Mais tarde, explicou-se que a kombi transportava pequenos tarugos de ferro que, na batida, voaram como estilhaços de uma granada; daí o surpreendente destroçamento. Das rodas da kombi, nenhuma foi encontrada no local! Após passagem pelo pronto-socorro, o pequeno grupo de feridos foi conduzido à delegacia de polícia, para depoimentos. O bebum? Não, ele não sumiu! Depois do susto, comum a todos nós outros passageiros, teve a viagem interrompida! Falou demais ao delegado e ganhou dele um “curso de canário”! Somente, cerca de quinze dias depois, fui me lembrar do detalhe quanto ao número do quarto do hotel e também do diálogo mantido na recepção.