A esta altura da série de argumentos apresentados pró computação dos votos nulos e pró extinção dos partidos políticos, dando vez a uma democracia aberta, seria interessante que cada um refletisse sobre alguns pontos; mas, refletisse mesmo, deixando de lado, por alguns momentos, outras questões de menor importância. É preciso que o cidadão aprenda a pensar em relação às estruturas políticas em que está inserido, porque sua vida se desenvolve de acordo com o que se decide acima, na maioria das vezes, sem se levar em conta as condições gerais, como carências, capacidades, potencialidades e dificuldades da coletividade que deve acatar e cumprir.
É desejo de cada cidadão viver uma vida, na qual obstáculos possam ser superados por si próprio, na busca do melhor, para si e para os seus mais próximos, em consonância com os ideais coletivos de prosperidade que devem nortear a administração pública, da localidade, do município, do estado e do país. O imposto que ele paga deve retornar em forma de bons serviços, para que ele, dentro da coletividade, seja um bom cidadão, em todos os aspectos, capaz de evoluir e contribuir para que seu semelhante também o faça. Entretanto, politicamente, não é isso que acontece, porque a máquina pública está atrelada a interesses de grupos, a começar dos partidos políticos que, longe de representar a população, representam a si próprios e seus integrantes mais proeminentes. O cidadão, lembrando em primeiro lugar que do seu bolso sai o dinheiro para custear tudo o que aí está, deve considerar que cabeça não é para cultivar cabelo e criar piolho; cabeça é parar pensar e deve parar para pensar sobre essas questões, por alguns momentos, ao longo do dia.
Durante a recente campanha eleitoral, vínculos familiares se abalaram, amizades foram arranhadas ou se desfizeram, em nome de uma disputa da qual o povo acaba sendo vítima, depois de cada cidadão explorado psicologicamente, em seu íntimo, para que desse o voto a este ou àquele candidato. Torturado com mentiras maquiavélicas em torno de um e de outro candidato, o povo se dividiu como se entre Deus e o diabo, alternando-se as duas figuras antagônicas entre os dois candidatos, de acordo com a visão de cada um. Insanamente, pessoas agrediram-se, ofenderam-se pelo que se diz direito de escolher seus governantes; “direito” que, na verdade, é obrigação. Nessa coisa, tida e havida como democracia, o único direito que o cidadão tem é o de espernear… mais nada!
Antes de entrar em discussões estéreis e ofensivas, deixando de lado o diálogo maduro e saudável, melhor seria que cada qual pensasse em, por exemplo: o que é democracia? Repetindo o que se diz a teoria, “democracia é o regime político em que a soberania é exercida pelo povo”; ou, “é um regime político em que o poder pertence ao povo”. Na prática, ou na hora do “vamo vê”, a coisa é bem outra. Como e quando a soberania é exercida pelo povo, ou, o poder pertence ao povo?
Dirão os defensores do sistema que o povo está no poder por meio de seus representantes nos parlamentos (câmaras municipais, assembleias legislativas estaduais e Congresso Nacional); acreditarão os ingênuos, os simplórios, que aceitam todo o dito de cima para baixo; acreditarão os que não pensam e seguem a manada do “sim senhor”. A chamada representação popular é uma farsa, pois os parlamentares representam, tão somente, a vontade de seus respectivos partidos políticos. Logo, quem está no exercício da soberania e tem o poder são os partidos e seus “caciques”. Em seguida, conclui-se que o regime tido como democracia, não o é, porque o povo não participa do poder. Na verdade, é uma ditadura partidária com possibilidade de rodízio entre os partidos existentes. Além de toda enganação, o mais triste é ter toda a população envolvida numa briga, que leva ao nada ou a situações piores que as antecedentes; é ter a sociedade cada vez mais dividida, em razão da vontade de uns poucos que querem o poder.
A verdade nua e crua é que a verdadeira democracia ainda não é praticada! Assim como o verdadeiro comunismo nunca chegou a existir, apesar de todas mentiras disseminadas e de todo o sangue que seus defensores fizeram correr, também a verdadeira democracia ainda não existe, apesar de todos os discursos apelativos e emocionantes. Não existe nem nos Estados Unidos da América, a chamada maior democracia do mundo! Não existe pelo unipartidarismo (partido único), onde prevalece a vontade de um único grupo e não existe pelo pluripartidarismo (vários partidos) onde ela é mascarada com possível rotatividade do poder entre os partidos, sem a participação do povo. A única participação do povo, no Brasil, está nas eleições, mediante o voto obrigatório!