Conforme já dito, a diferença entre a ditadura de partido único e o regime dito democrático, que se pratica no mundo, é que neste último se permite alternância de partidos no poder, não querendo isso dizer que um partido não possa se manter por tempo indeterminado, ou “ad aeternum”(para sempre), mediante mutretas políticas ou golpe descarado, pois todo partido político carrega o germe do continuísmo.
Tanto nos regimes de partido único, quanto nos de pluralidade partidária quem manda é o partido dominante, ficando o povo à margem das decisões mais importantes. No pluripartidarismo, admite-se a oposição partidária, à qual caberia a função de apoiar, ponderar, equilibrar ou rejeitar programas e projetos, de acordo com avaliação à vista dos interesses coletivos, desde positiva, passando por gradações até a negativa. Esta seria a linha de ação da oposição, ao contrário do que se pratica, o puro estorvamento a tudo que se propõe, a menos que ela, a ala oposicionista, receba algo em troca. Então temos, nos governos de partido único, a vontade suprema do ditador, respaldada pelo partido, podendo este, em alguns casos, decidir sobre os rumos do governo; nos governos de sistema pluripartidário, temos o confronto de interesses partidários ou “balcão de negócios”, em ambos os casos com perdas para a coletividade. O executivo, para governar, tem que contar com ampla maioria no parlamento, ficando em caso contrário à mercê da oposição, que cobra “a peso de ouro” para aprovar matérias de interesse, Não se curvando a esse troca-troca, não se governa!
Como cúmulo do cinismo e do deboche, têm a coragem de usar a humildade e solidariedade franciscana: “é dando que se recebe”.
Esclareça-se aqui que, em interesses partidários, incluem-se os de natureza econômica ligados a políticos, beneficiários finais do objeto de decisão que, ao entendimento dos mal informados pode parecer benefício à coletividade. Teoricamente, na dita democracia o poder pertence ao povo, mas, na prática, a democracia é outra pois o poder está com os partidos, que fazem o que querem, embora seus membros, os políticos, finjam ouvir o povo. O povo, por sua vez, excluídas raras exceções, acredita piamente viver numa democracia; uns porque votam (obrigados), porque podem se candidatar a cargos eletivos (mas têm que se filiar a um partido mesmo que não se acredite em nenhum deles); outros porque há liberdade de imprensa, direito à livre expressão.
O cidadão, por si só, não tem nenhum direito político! Esse direito pertence aos partidos, que o concedem aos seus membros ou apaniguados do círculo mais interno, estes, sim, os detentores do poder, que a teoria democrática diz pertencer ao povo. O povo só tem direito a rir da própria desgraça (daí o humor negro na cultura brasileira) e chorar, enquanto não aprende a correr atrás do que é seu! O poder de anular eleição, por exemplo, o povo já teve, mas lhe foi subtraído por uma marotice político-jurídica porque, certamente, estava a cochilar, embebecido com o futebol ou com outras das mediocridades com as quais o distraem, nessas ocasiões. Do “panem et circenses”/pão e circo, política dos césares, em Roma, no Brasil sobra o circo (das mediocridades) com fartura, porque o pão mal dá para os ratos! E o povo ainda se gaba de viver numa democracia… Como somos enganados, como somos atrasados!
O Código Eleitoral ainda exibe o Art. 224 como sinal de algo que o povo já teve… é como cicatriz a denunciar um dedo amputado, diga-se, irresponsavelmente! Ele continua a dizer: — “Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.” —
A campanha eleitoral está nas ruas, todos a prometer o paraíso, como sempre. Também como sempre, muita gente, de ambos os lados, passou borracha na memória mais recente e está a acreditar no que dizem seus respectivos e preferidos candidatos. A fragilidade brasileira sob um estado desconexo e instável é crônica, embora pareça ter recuperado forças, em razão de terem sido abertas as portas da prisão, em acolhimento a alguns dos mais ilustres corruptos. Isso é apenas ilusão! Veja-se que condenado, em cumprimento de pena, não teria direitos políticos, mas, no Brasil, pode dar “pitacos” na campanha presidencial. É prova de que o sistema, em vigor, é o verdadeiro culpado da tragédia brasileira. Ainda que sejam presos, processados e condenados todos os corruptos, se persistir o sistema, tudo terá sido em vão!
Partidos políticos já fizeram mal demais à humanidade!