Para refrescar a memória de quem acompanha esta série, resume-se aqui o dito ao final do texto anterior: No sistema unipartidário (partido único), a sociedade é dividida em duas correntes: os filiados ao partido dominante e os não filiados. Os filiados gozam de alguns privilégios, incluindo-se aí a subida na hierarquia do partido, de acordo com os “serviços” prestados ao mesmo. Aos não filiados cabe tão somente seguir, à risca, as normas ditadas, porque fora do partido não há concessão. No pluripartidarismo há possibilidade de revezamento periódico dos partidos no poder, variando-se então o modo de conduzir a administração pública, de acordo com a “filosofia” do partido vencedor nas eleições. Registre-se que possibilidade de revezamento dos partidos não invalida o desejo de continuísmo por parte do partido, eventualmente, dominante. Os partidos políticos, sem exceção, carregam o vírus da dominância continuísta, só não logrando êxito em razão da força de fatos antagônicos, que podem ser circunstanciais, imprevisíveis, ou provocados por forças políticas, também antagônicas, que nutrem o mesmo propósito.
Dizer que os partidos são necessários à democracia é a grande mentira do momento porque, na verdade, é o contrário; a democracia é necessária aos partidos, pois somente nela (ainda que perneta, fechada no âmbito dos partidos) se admitem os partidos. Ela pode existir sem eles, e, seria mais democracia sem a existência deles. Ela é tão necessária aos partidos que, por vezes, regimes de partido único se autodenominam “democracia”! Nenhum regime autoritário, ditatorial, se considera como tal! Como governo do povo, no sentido primordial da expressão, a democracia não necessita de partidos, mas do próprio povo, por intermédio de seus representantes, escolhidos livremente. O próprio termo “partido” carrega em si a marca da segregação, da separação de parte de um todo. É o que a agremiação política faz: separa, desune e joga uns contra outros, levando eventualmente até à divisão de famílias, devido ao radicalismo das ideias de parte e parte, sem nenhum proveito, ou pior, com os efeitos mais desastrosos para a coletividade. Cada partido cria, em torno de si, uma aura de integridade nas qualidades mais nobres, em colorido diferente, como meio de conquistar o eleitorado. No fundo mesmo, são todos iguais em seus propósitos de poder pelo poder, em tempo e espaço mais amplos possível, independente das carências mais agudas, que são apenas mitigadas, em nome da preservação do foco de interesse político.
Veja-se a diversidade de partidos e o número de políticos que passaram pelo poder, sem que tenham assumido compromisso de solucionar o problema da seca e promover o desenvolvimento do nordeste brasileiro. Todos se elegem mediante promessas, altamente valiosas como solução às carências do povo, mas que para eles são apenas miçangas sem qualquer valor! Na região de Ouro Preto, certo político elegeu-se deputado estadual diversas vezes, mediante colocação estratégica de máquinas à margem de estradas, necessitadas de pavimentação asfáltica. Passada a eleição, as máquinas desapareciam e o político também. Se não fossem os partidos, aos quais servem e são servidos, político nenhum faria tais manobras. Eles as fazem porque o sistema vigente lhes fecha os olhos e seus respectivos partidos lhes dão sustentação!
A boa política é feita somente quando considerada a coletividade, pela expressão da maioria sem que seja dividida em grupos a pretexto do que quer que seja. Essa Política, menos enganadora só é possível na democracia aberta, destituída de partidos políticos, na qual todos os cidadãos eleitores têm oportunidade de participar, sem abrir mão de sua consciência, de seu pensamento, de sua opinião, em favor de diretrizes previamente adotadas por grupos, aos quais o sistema dá garantias à revelia do que pensa o cidadão. À primeira palavra de abolição de todos os partidos, vozes se levantam, umas a dizer que seria a abertura para o autoritarismo, outras que isso seria o anarquismo e um terceiro grupo argumenta que a democracia aberta ainda não existe no mundo. O autoritarismo sem partido, embora já exercido por alguns, não teria sustentação por muito tempo, no mundo atual, mas o do partido único, sim, pode ter sustentação interna e garantias da política internacional, embora causador de conflitos; anarquismo nunca, pois este prega a abolição do Estado e suas leis, coisa que funcionaria somente em uma sociedade constituída exclusivamente por anjos; o fato de a democracia aberta ainda não ser praticada em nenhuma país não a invalida. Algum país a adotará e o Brasil poderia ser o pioneiro, se quisesse.
PARTIDOS POLÍTICOS JÁ FIZERAM MAL DEMAIS À HUMANIDADE!