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Ponto de Vista do Batista
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Quem sabe não treme

Nylton Gomes Batista
Pois é! Se falta inteligência humana em alguns setores, sobra inteligência artificial em outros, deixando muita gente com uma pulga atrás da orelha e outro tanto a por a barba de molho. Pelo menos, por enquanto, quem se dedica à escrita não vê ameaças, além do muito em que a novidade pode ajudar, porque isso não se nega; a inteligência artificial pode muito fazer.  Quem, realmente, produz texto pode ficar tranquilo, não havendo perigo de perder sua posição e, ao contrário, pode tê-la consolidada com a parceria da própria IA. Quem não produz, porém reescreve textos, acaba por ser mais favorecido, passando a ter apenas o trabalho de  conferir, pois, sabe-se não ser muito confiáveis tais textos refeitos. Alguma coisa estranha, assim como mosca caída no doce em preparo, pode surgir no novo texto. Depois disso, há que mais conferir, passando pelo detector de plágio, pois pode sobrar intacta alguma frase ou oração do texto original. 
E, ao falar em coisa estranha e plágio, vem-me à lembrança episódio vivido na redação de O LIBERAL, ainda no tempo do Noronha, fundador do semanário regional. Ele havia recebido, pelo correio, um texto, cujo autor pretendia sua publicação. Era muito comum tal pretensão, mas, raramente alguém passava pelo crivo. O texto foi passado para eu analisar. O primeiro parágrafo considerei suficiente para a rejeição: uma sucessão de palavras desconexas a formar um texto sem sentido. Contudo, prossegui na leitura. Ao contrário do primeiro, o segundo parágrafo era perfeito: escrita elegante e transmissora de conhecimento. O restante do texto  era igual ao primeiro parágrafo. Fiquei intrigado com aquilo: pedaço de filé mignon misturado à muxiba! É ser muito cara-de-pau, imbecil ou ingênuo demais, para acreditar que o texto passaria e seria publicado. Mas, em se tratando de Brasil, tudo pode acontecer e acontece, ainda pior! Fatos posteriores o comprovam, se é que me entendem! Minha curiosidade subiu às alturas. Tinha de saber de quem o safardana havia “surrupiado” aquele parágrafo. O Google pouco passava de novidade, no mundo das buscas “internetianas” e, pelo menos eu, o consultava sobre muitas coisas, mas não havia ainda lhe submetido um texto à consulta. Fiz o teste. A resposta foi imediata e surpreendente. Aquele trecho era parte de texto escrito por ninguém mais que o célebre físico, Albert Einstein! Cuidado, pois a pilantragem, que pensa poder enganar no mundo da produção de textos! 
Se para quem  produz texto não há muito que temer, o mesmo não se pode dizer quanto a quem ilustra o trabalho escrito. A inteligência artificial cai matando, no setor das artes gráficas. Basta saber dizer o que quer, para se obter qualquer gráfico, desenho, pintura (em qualquer estilo) de excelente qualidade. Por incrível que pareça, pode-se obter até foto de pessoa inexistente! E são fotos capazes de enganar qualquer pessoa! O escritor, liberto recentemente das editoras, podendo agora, ele próprio, editar seu livro, dispensa também o ilustrador. Ilustrador, daqui para frente, só em casos específicos e, consequentemente, pagando-se mais caro, pois no geral todos terão a inteligência artificial, por preço mais acessível. Falam que o pintor também perderá espaço e terá sua arte desvalorizada, mas com este pode ser diferente e, justamente, o contrário porque sua pintura é única, é arte e nenhuma obra mecanizada pode lhe igualar. 
Poderão perder espaço os picaretas, os enganadores, cuja obra é classificada e valorizada, artificialmente, por meio de influenciadores, ditos especialistas em arte, porém tanto enganadores quanto os primeiros. De  certa forma, a inteligência artificial porá fim à era da mediocridade artística; espera-se! Assim como no campo da escrita, onde talento e autenticidade são e serão as marcas do autor, nas artes gráficas, os mesmos valores permanecerão intangíveis. Há gente a aparecer como artista, que borra tela com qualquer bobagem e, porque um “especialista” lhe tece elogios, ganha notoriedade, entre néscios, formadores do grande público consumidor desse tipo de “arte”. Para essa categoria de “artista” , a IA marcará o fim da linha, porque seu público terá migrado para os produtos da mesma IA. Não lhe  restará outra alternativa  senão recolher-se à própria insignificância! 
Cachoeira do Campo, 25 de março de 2023

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