Por Nylton Gomes Batista
A natureza humana traz em si, entre outras características nem sempre bem-vistas, o defeito da presunção e, dentro desta, manifesta-se, com relativa frequência, a presuposição favorável de algo, em função de suas presumidas qualidades. Por isso, ouve-se a todo momento “fulano é meu amigo”, “fulana é minha amiga”. No fundo, no fundo, isso significa que a pessoa se julga o rei ou rainha da cocada e, a partir daí, pressupõe que todo mundo é seu amigo.
Por teoria, amigo ou amiga é pessoa ligada a outra por laços de simpatia, lealdade, disponibilidade para ajudar o outro ou outra em tudo que esteja ao seu alcance. A pessoa verdadeiramente amiga não é só sorrisos e tapinhas nas costas, convites para festas e presentes, pois quando necessário ela franze o cenho e se manifesta com franqueza e contundência a respeito de algo, que precisa ser corrigido. O amigo ou amiga se alegra com o sucesso do outro ou da outra e se coloca no lugar deste ou desta, quando há um problema a requerer solução. O verdadeiro amigo é um suporte para todas as ocasiões. Isso é na teoria, pois, na prática e maioria das vezes, além daquele sincero, o amigo pode ser circunstancial ou interesseiro; circunstancial quando envolvido por circunstâncias, tais como local de trabalho, escola, atividade profissional, vizinhança. No caso último, o vizinho é a pessoa com a qual há que manter o melhor dos relacionamentos, sem, entretanto, “viver enfiado” em sua casa. A importância do vizinho, na vida de uma pessoa, está no fato de que ele pode ser o parente “mais próximo”, em casos de necessidade, casos de emergência. Os interesseiros, os menos desejados entre amigáveis, são os oportunistas, que se aproximam e mantém posição enquanto lhes convém, segundo fatores como por exemplo, posição socioeconômica, status social, etc. No caso de revés, são os primeiros a se afastar.
O indivíduo, psicologicamente normal e menos introvertido, anseia por ter amigos, no maior número possível, pois é também da natureza humana manter contato e relacionamento com os da espécie. É por isso que ele viaja, vai a festas, ingressa em associações, participa de atividades coletivas, faz de tudo recomendado para que esteja em evidência, descontados aí alguns pontos de vaidade. A pessoa passa a ser conhecida e elogiada por seu largo círculo de amizades, evidenciando-se isso por ocasião de sua morte, no velório e funeral. A família então se consola: mas, como tinha amigos! Ele/ela era, realmente muito querido(a). Mas será que são todos amigos? É aí que a “porca torce o rabo!” Há controvérsias! Há algo que comprove? Não! Ser amigo circunstancial não invalida uma amizade, ainda que não genuína. Ser simplesmente interesseiro, também não, embora se saiba ser esse tipo de amizade a mais instável. Mas a pergunta continua: são todos amigos? Ainda há controvérsias! No caso de pessoa vítima de violência humana, autoria desconhecida, comentários mais frequentes são: ele não tinha inimigos, todo mundo era seu amigo! Quanta ingenuidade! Assim como não se sabe quem é amigo, pode também não se saber que é inimigo, desde que disfarçado em amigo.Digo agora o que pode chocar a muitos: ninguém sabe quem é, verdadeiramente, seu amigo! Dirão: – eu sei que fulano é meu amigo. – Ah! é? então prove. Nada, absolutamente, nada que uma pessoa faça por outra prova sua amizade por ela. – Mas, eu tenho um amigo assim, assim e assado, que eu conheço muito bem. – Conhece coisa nenhuma, a menos que dotado de superpoderes, que lhe permitam ler a mente, a alma do semelhante.
Conforme visto até aqui, o amigo nem sempre é aquela pessoa sorridente, extrovertida, de mãos estendidas, presente em todas as festas, assim como inimigo nem sempre é a pessoa de cara feia, poucas palavras, introvertida, que às vezes nem cumprimenta. É pura presunção nominar amigos! Uma pessoa pode, com certeza, dizer-se amiga de outra, mas, nunca que a outra parte seja sua amiga, ainda que se comporte como uma santa! O amigo realmente existe e podem ser muitos na vida de uma pessoa. Entretanto, não se sabe quem nem quantos. Entre esses, autênticos e sinceros, pode ser até que haja quem chegue a se ofender com o aqui dito, mas é porque não sabe haver verdadeiros “artistas”, que fingem ser tudo o que é o verdadeiro amigo, mas não o são; e por longo tempo! O amigo é, verdadeiramente, um tesouro: mas, um tesouro oculto! Quem acredita, piamente, que todos os ditos amigos são, de fato, o que dizem e aparentam ser, precisa conhecer melhor a natureza humana.