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Ponto de Vista do Batista
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Quando o novo nos sorri como amigo

Num dia qualquer, durante bate-papo corriqueiro, desses que se estabelecem ao sabor das conveniências, pessoa do meu círculo, presumidamente amigo, direcionou a conversa para a área das novidades tecnológicas. Na qualidade de leitor, convicto e radicalmente avesso às tais novidades, ele expressou seu temor pelo desaparecimento do livro impresso, fadado a ser substituído pelo digital. Embora não tenha a minha estatura etária, não se pode dizer que ele ainda seja jovem, razão pela qual lhe disse não precisar se preocupar, porque, ainda que a substituição seja inevitável, ela se fará ao longo do tempo e não de forma abrupta. Além do mais, livros já impressos continuarão à disposição dos leitores, nas bibliotecas públicas e privadas, a menos que loucos públicos determinem a destruição de livros, repetindo tristes exemplos ao longo da história.
É o caminho do universo, em que tudo se transforma, à exceção de suas leis; nada é, hoje, o que foi, ontem! Se assim não fosse, a própria vida já teria sido extinta! Mas o amigo estava inconformado, exasperado mesmo contra o surgimento do computador, da internet, do celular e tudo o mais na mesma linha, dizendo-se completamente alheio a tudo isso. Pensei: curioso apego ao livro físico, quando se sabe que a imensa maioria jamais leu um livro, ou o teve nas mãos. Dos que podem e os têm em casa, poucos não são os que compram para preencher estantes, à guisa de decoração. A reclamação destoa da realidade tupiniquim, cuja população, em sua metade, é analfabeta funcional. Se essa realidade evoluir, esperemos que sim, os novos leitores deverão ler em dispositivos eletrônicos, porque tudo caminha para isso.
Grandes jornais já reduzem suas tiragens ou as suprimem, levando a edição digital a ocupar o espaço deixado pela edição impressa. O mesmo acabará por acontecer com as editoras. Fatores a favorecer a mudança são vários, desde imposição da própria tecnologia até a exigência dos novos leitores, passando pelos custos do papel, cujo uso se torna, gradativamente, restrito em função da preservação das florestas, além da própria indústria de impressão cujos custos ficam, cada vez mais, aquém da capacidade financeira dos autores. Hoje, um livrinho com pouco mais de uma centena de páginas requer, do autor, investimento mínimo de cinco mil reais, sem a certeza de venda. Se conta com edição bancada pelo editor, seu retorno em vendas é de apenas dez por cento sobre o preço de capa. Vê-se que, às dificuldades inerentes ao restrito mercado leitor brasileiro somam-se os custos e outras imposições de mercado nada favoráveis.
Se no mercado do livro impresso tem tudo contra si, no mundo digital o autor encontra todas as facilidades possíveis; é como sair do enfrentamento de furiosa tempestade, e, abrigar-se em local seguro e confortável. Parece exagero, mas não é. Se não depender de profissional que produza o texto (ghost writer/escritor fantasma), revisor de textos e outros, o autor publica sua obra, sem gastar um centavo, com exceção do seu trabalho. Até mesmo o capista, profissional que projeta ou desenha capa de livro, ele pode dispensar, desde que tenha habilidade suficiente no uso de recursos encontrados na própria internet. Ao contrário da edição impressa, que requer alguns meses para publicação, a partir da data de entrega dos originais, no mundo digital a publicação se faz em questão de horas. O autor é seu próprio editor, a usar uma plataforma amigável, por meio da qual sua obra é publicada, divulgada e comercializada; e não está limitado por fronteiras geográficas e/ou linguísticas. O mercado é o mundo!
Não se falou ainda no retorno financeiro, o mais importante e que mais interessa ao autor, pois ninguém vive da crítica amiga! A reversão em favor do autor se completa, pois, em contraposição aos dez por cento sobre o preço de capa, pagos pelo editor, na edição digital, o autor, que é também o editor (auto-editor) é pago com o mínimo de trinta e cinco por cento, podendo esse percentual chegar aos setenta por cento. Da parte do autor não há, portanto, razão para resistência à mudança, a menos que seja louco ou muito rico. Em sã consciência, ninguém quer perder! Ainda que tenha muito apego à sua obra, o livro físico, que queira vê-lo, apalpá-lo, cheirá-lo, como extensão do seu próprio corpo, o autor aceitará a mudança, a única a lhe trazer vantagens, até o momento. Creio que a maioria correrá atrás dela. Quanto ao leitor, pode estar descansado, os livros já editados continuarão disponíveis!

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