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Ponto de Vista do Batista
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Poder paralelo domina o Rio

O ano, que ainda não encerrou o primeiro quadrimestre, tem sido o das tragédias, cada qual a comover e arrancar mais lágrimas da população já desgastada por incúrias na área político-administrativa, onde reina a corrupção. Entre as últimas, que incluíram chuvas torrenciais no Rio de Janeiro, destacam-se desabamentos de dois prédios residenciais, cuja primeira impressão, a qualquer pessoa sem prévio conhecimento da situação, poderia ser relativa a prédios de apartamentos, edificados regularmente, como manda o figurino. Mais um pouco de atenção no noticiário, toma-se conhecimento de que não é bem assim e não há muita surpresa no caso, em se tratando de Brasil, onde o errado é que está certo e onde tudo pode acontecer… de ruim!
A tomada aérea mostra grande conjunto de prédios de cinco a dez andares, mas o repórter informa que tudo aquilo não passa de invasão de área de preservação ambiental, construções irregulares, sem responsabilidade técnica, sem licença da prefeitura, etc. Afora o fato de estarem os blocos quase colados uns aos outros, de longe parecem edificações sólidas, bem construídas, o que não se confirma de perto, mediante vistoria superficial. Em resumo, a coisa é uma favela; uma favela vertical! – Mas, como? – pode-se perguntar, sabendo-se que para construção de tal porte requer-se uma série de providências, na área legal e na área técnica e, uma vez em andamento, a obra fica sujeita a fiscalizações. Pelo volume de construção, que requer investimento de altas somas, é quase certo que instituições financeiras estivessem envolvidas, no negócio, com financiamento, etc. Mas, nada do que se requer para edificações, especialmente as de grande porte, fez ou faz parte do processo das edificações.
A contracenar com o marginalismo de todo o conjunto, há rede elétrica nas ruas cujos nomes não se sabe e, nos blocos de apartamentos, há quadros de força com medidores instalados; também há rede de água e quanto ao esgoto, parece ter sido lançado cladestinamente na rede oficial. – Ah! construções clandestinas existem em todo o Brasil – dirão empedernidos defensores do ilegal em função do social – Há, sim, porém, em caráter pontual e não com a cara empresarial cujas diretrizes, logo a seguir, sabe-se serem de organizações criminosas; milícias ou grupos paralelos, armados, que a pretexto de combater o crime, também enveredam pela criminalidade.
E agora? Este país é Republica, constituída dentro de estado de direito, ou a “casa-da-mãe joana”, governada por safados? O conjunto habitacional marginal da Muzema é caso muito mais grave do que se imagina, pois não se trata de apenas edificações clandestinas, porém o retrato vergonhoso em que caiu o estado brasileiro. A coisa só veio a público porque ruíram dois prédios e pessoas, quase duas dezenas, morreram. Só por isso, o público veio a saber. Entretanto, autoridades sabiam, políticos sabiam; ou virou prática padrão autoridade não saber de nada, desde os tempos do “mensalão”? Como podem ser construídos prédios de apartamentos à margem da lei, sem que órgãos públicos e autoridades tenham conhecimento? Só neste país, onde a corrupção a tudo domina; onde o estado de direito anda a reboque do estado paralelo do crime!
Há muito que se diz, neste espaço, que o sistema político brasileiro é totalmente corrupto e necessita, urgentemente, de mudanças; mudanças radicais, não reformas paliativas, que mantêm, camuflados, os mesmos vícios de sempre, Só mesmo uma mudança radical no sistema político, mediante democracia aberta, o que equivale à eliminação de todos os partidos, poderá garantir aprimoramento das leis e consequente modernização do estado brasileiro. Enquanto em vigor o atual sistema, o futuro será sempre pior que o presente e continuarão a se ouvir asneiras como justificativas para a incompetência das autoridades.
Entre blá-blá-blá do povo, choro das vítimas e explicações dos técnicos, o prefeito do Rio destacou-se ao dizer besteiras. Segundo ele, no ano passado, a Prefeitura do Rio mandou interditar os prédios, cuja construção era irregular, mas o ato de interdição foi derrubado por uma liminar judicial. Pergunta-se: ficou só nisso? Para livrar a cara de bandido ou evitar a prisão de político corrupto, há sempre uma instância superior ou recurso do qual se valer, mas quando se trata de defender a população, garantir sua segurança e resguardar responsabilidades do próprio estado, abaixa-se a cabeça diante do primeiro não. Por que será? Para completar, o mesmo prefeito alega que o poder público não tem condições de enfrentar as milícias. Que raio de autoridade é essa? Já deveria ter pedido o boné! A bandidagem deve ter comemorado com disparos para o alto enquanto, lá fora, riem ou choram por nossa desdita. Tamo na mão de calango!

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