A procura por alimentos naturais, que tem crescido ultimamente, é bom indício para a saúde, na maioria das vezes, desconsiderada na hora da alimentação. Alimentos processados deveriam ser exceção no prato, um agrado ao paladar, de vez em quando, mas nunca uma constante. Entretanto, o que se nota é o contrário, ou seja, o alimento industrializado a tomar o lugar da verdura, do legume e da fruta.
Esse crescente interesse por produtos naturais, felizmente, tem feito ressurgir plantas, conhecidas em cardápios mais antigos, que foram esquecidas e substituídas por outros alimentos, alguns de origem estrangeira e inconvenientes em nosso clima tropical. Um deles tem sido causa de muita intoxicação alimentar coletiva, especialmente em época de calor. Abstenho-me de dizer seu nome, para evitar polêmica, assim como faço também em relação ao seu consumo!
O Brasil, por sua posição geográfica, tem um clima bastante diversificado e, por isso, também agraciado com grande diversidade de plantas e frutos comestíveis, tanto nas hortas e pomares, quanto nos campos e nas florestas. Assim sendo, não há razão para deixar o natural pelo industrializado, senão esporadicamente, a bem da saúde. Ao considerar tudo isso, vejo com bons olhos o vídeo https://youtu.be/eeQ3iztjs_o que mostra o trabalho desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA em torno do cultivo do “ora pro nobis” (prefiro a grafia em Latim que dispensa o hífen), planta bastante conhecida em Minas Gerais. Embora não pareça, a não ser pelos espinhos pontiagudos, daí o nome científico “Pereskia aculeata”, o ora pro nobis é um tipo de cacto, aliás, o único que tem folhas verdadeiras. Em cidades mineiras, sempre foi cultivado nos fundos de quintais, em forma de moitas, de onde se colhem as folhas menos velhas para o refogado, que pode ser com frango do terreiro (nada de frango de geladeira), com carne de porco ou linguiça do gênero, ou até mesmo com bacalhau. Atualmente, o ora pro nobis é preparado com um desses tipos de carne, mas no meu tempo de criança pobre, o ora pro nobis era a própria carne! Comido com feijão preto e angu era um banquete! Na verdade, o ora pro nobis é agradável ao paladar da maioria das pessoas. Ao longo do tempo, ele subiu na escala social, ganhou status, chegando conhecido meu a quase passar vergonha, pois o preço da iguaria, no cardápio, quase superava o que ele tinha no bolso. De prato de subsistência do pobre, o ora pro nobis chegou ao topo do cardápio em restaurante chique e virou tema de festival culinário entre grã-finos. Hoje, pesquisas revelam o grande valor do ora pro nobis na alimentação devido ao grande conjunto de nutrientes, que apresenta, destacando-se o ferro, o cálcio, vitaminas A, B e C. Pesquisadores dizem que a proteína nele contida é superior à da carne! Devido a essa rica composição química, o consumo do ora pro nobis é, altamente benéfico à saúde, exercendo ações anti-inflamatórias, cicatrizantes, depurativas, revigorantes e regenerativas em nosso organismo. Interessante observar que muito antes da comprovação científica, o povo simples já o adotara como alimento, talvez por instinto ou intuição, o que reforça a convicção de que, no universo, forças colaborativas têm soluções, quando necessidades se lhes mostram.
Mas, o ora pro nobis, sem deixar a área da alimentação, pode exercer outra função, também importante, considerando-se a vulnerabilidade a que estamos expostos nos dias atuais. Graças aos espinhos, a planta pode ser usada como cerca viva, desde que não afete área pública, embora outra planta espinhenta esteja sendo usada em junto a caminhos públicos, sem qualquer medida impeditiva. Plantado atrás de muro, o ora pro nobis segura qualquer gatuno mais ousado!
Depois da surpresa representada pelo vídeo da EMBRAPA, tive contato com outra planta comestível, desaparecida das hortas, porém guardada em minha memória desde dois anos de idade. Creio que muita gente nem deve ter dela ouvido falar, a não ser pelo seu óleo de uso medicinal, que pode ser encontrado em farmácias! Nativa do sul da Europa e do oeste da Ásia, a borragem (Borago officinalis) era muito conhecida e cultivada aqui. Lembro-me que, quando morávamos na Rua Fonte Fora (quem se lembra desse nome?) a mamãe mantinha um canteiro de borragem na diversificada horta, que ela mesma plantava. De repente não mais vi e nem ouvi falar de borragem, até agora, quase oitenta anos depois. Será que estará de volta à mesa?