Ano novo, sob governo novo, do qual se espera muito, embora amarrado a um sistema arcaico, caduco e corrupto (no pior sentido), que em nada facilita a marcha da carruagem nacional, aqui estamos nós, passageiros da mesma, a torcer para que a viagem prossiga com menos solavancos e derrapadas que quase a levam ao abismo. Bem, isso é pra não dizer que não falei de espinhos ou, como queira, um introito para assunto diferente e um tanto lisonjeiro para o titular desta coluna, que completa trinta anos neste janeiro! Se o fato não é comemorado em reunião de fatiota, regada a “champanhota”, como diria o guerreiro Noronha, pelo menos, que se o registre para a posteridade. É o que fazemos, então!
Numa manhã de domingo, agosto de 1988, quem saia da missa na igreja-matriz foi surpreendido, à porta, por um carrinho de supermercado empurrado pelo casal, Noronha e Paula Karacy. O carrinho não continha gêneros alimentícios, porém exemplares, os primeiros do O LIBERAL, no qual ninguém pôs muita fé no início. Sem alarde ou qualquer anúncio de sua chegada, O LIBERAL passou a ser presença, de quinze em quinze dias, diante dos olhos de leitores da Região dos Inconfidentes, integrada pelos municípios de Ouro Preto, Mariana e Itabirito. Em dezembro daquele mesmo ano, quando o jornal atingiu a oitava edição, o Noronha chegou-se a mim e fez o convite para que eu integrasse o pequeno grupo de colaboradores, que então se formava. Rapidamente, fiz uma avaliação mental. O jornal entra na nona edição; é o tempo de eu escrever nove ou dez artigos e ele encerrar as atividades. Assim raciocinei com base no tempo de sobrevivência de outros veículos de imprensa regional: de doze a vinte meses, no máximo. Cheguei a publicar em alguns deles, incluindo-se um da Prefeitura de Ouro Preto, que desapareceu de forma drástica e deselegante por força de picuinhas políticas. O município estava em transição de governo. A edição que traria matéria sobre o futuro prefeito e prognósticos de sua administração, atrasou-se na gráfica e só chegou depois de instalado o novo governo. O novo prefeito nem deixou que se desamarrasse o pacote. Mandou incinerar tudo do jeito que chegou; coisas da politiquinha ouro-pretana e politicalha tupiniquim! Registre-se ainda que o novo prefeito havia sido eleito com apoio do seu antecessor.
Em janeiro de 1989, surgiu então, sob a minha responsabilidade, a nova coluna, intitulada OPINIÃO. No início, a vontade do Noronha era que a coluna fosse constituída de pequenos tópicos, a exemplo de outras seções do jornal, mas isso não me animava; preferia escrever em bloco único. Empaquei na minha posição, enquanto o Noronha, de vez em quando, me cutucava sobre a questão, até que um dia ele mesmo se convenceu de que o texto único era melhor. Valeu a minha teimosia! Se tivesse concordado com a sua ideia, talvez não mais estivesse na lista dos colaboradores do O LIBERAL. Não estou afeito à escrita em conta-gotas!
Àquela época, escrever era um sacrifício para quem não se ajeitava na produção de textos, diretamente, na máquina de escrever. Eu fazia os rascunhos manuscritos e só depois os datilografava. Havia que evitar erros, para não encher de remendos ou ter que tudo refazer. Não havia outro jeito, sem esquecer que havia a cópia carbono destinada ao arquivo pessoal. Algum tempo mais tarde, o computador pessoal veio resgatar os profissionais da escrita de muito sofrimento e chatices. A redação funcionava num quarto da casa do Noronha, onde eu comparecia para entrega dos originais e troca de ideias com o editor sobre assuntos diversos, enquanto o pau quebrava à nossa volta. Explica-se: o Paulo Felipe, hoje à frente do jornal juntamente com a mãe, era um pirralho, de cinco anos, no comando do fuzuê e da depredação doméstica, em parceria com a Labybe e a Sylvana (esta nem falava direito), suas irmãs mais novas. Paralelamente, a Paula fazia uma ginástica entre a administração doméstica, seu emprego na escola e o trabalho no jornal iniciante.
Quando adquiri meu próprio computador, dez anos mais tarde, o jornal já tinha instalações comerciais, e eu também a convite do Noronha estava integrado à equipe de redação. Noronha e eu tínhamos discussões homéricas, em torno de muitos assuntos, a ponto de eu, certa vez, no dia seguinte, levar a carteira de trabalho, para a devida baixa, pois estava certo que seria despedido, mas isso não aconteceu. Entretanto, quanto aos textos produzidos para a coluna, ele nunca interferiu, nunca fez crítica negativa, dando-me sempre completa liberdade para escrever. Registre-se que, num dos textos, ele foi alvo de minhas críticas veladas, mas fez comentário apenas depois da publicação, demonstrando ter entendido e aceitado o recado. Estou feliz por ter chegado aos trinta anos de publicação. Agradeço a Deus pela inspiração e aos leitores, pela honra que me concedem da leitura.