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Ponto de Vista do Batista
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Obrigado Dom Bosco!

Finalmente, chegou ao fim a novela em torno do destino do antigo quartel de cavalaria (período colonial), posteriormente, início da República, “Escolas Dom Bosco” da congregação salesiana. Por pouco mais de cem anos, a partir de 1896, os salesianos, congregação fundada por dom Bosco (Itália), manteve as Escolas Dom Bosco, popularmente conhecidas como Colégio Dom Bosco. 
O destino do valioso imóvel histórico não foi selado de acordo com a vontade do público em geral, mas dos males o menor, pois será aproveitado por rede hoteleira portuguesa, que promete instalar um hotel de classe internacional, conservando-se a propriedade nas mãos dos salesianos. O desejo da maioria era que se desse, ali, continuidade à atividades educacionais, mas nem sempre querer é poder, especialmente em país que beija a bola e chuta a escola. Das autoridades e instituições da área, de onde deveriam partir esforços no atendimento ao clamor público, que teve à frente o movimento “O Dom Bosco é Nosso”, o que se ouvia era, mais ou menos, “vamos ver”, “estudemos alternativas”, “vai haver solução”, meras palavras alheias a qualquer vontade política e ações, de fato, direcionadas à questão. No muro subiram, e, em cima do muro permaneceram, até o fim! Com a decisão ultimada, nos primeiros dias deste abril, pelo menos, a edificação deverá ser preservada, seu entorno não mais fatiado, além do que já foi, e, a região ganha um hotel de alta classe, no incremento do turismo; atividade para a qual há torcimentos de nariz, mas pode ser o resgate econômico de qualquer região, desde que empreendida com lucidez. 
Por ironia do destino, de certa forma, é Portugal de volta ao velho quartel, edificado por ordem real portuguesa para a guarda do palácio residencial do governador da capitania de Minas. No mesmo quartel, serviu o líder da Conjuração Mineira (Inconfidência é sob a óptica portuguesa), o Tiradentes, preso, torturado, humilhado e enforcado, após o que teve seu corpo retalhado e exposto, para que servisse de exemplo aos mazombos, como eram chamados os brasileiros pelos portugueses. Na espiral histórica ascendente, talvez (quem sabe?), tenha chegado a hora da compensação! 
Quanto ao desejo inicial da congregação, simples venda do imóvel, mantendo-se a comunidade alheia ao assunto, foi lamentável e, infelizmente, deixou marcas negativas, sobretudo entre as recentes gerações, desconhecedoras da ação salesiana, na região, durante um século. Curiosamente, caiu sobre a congregação o que era motivo de advertência aos quartanistas pelo saudoso salesiano e professor Fábio Nogueira. Dizia ele: “tomem extremo cuidado com suas atitudes e comportamentos, neste último ano, pois a última impressão é a que fica”. 
Contudo, aquela falha de última hora não invalida, de forma alguma, a obra salesiana, em Cachoeira e toda a região. A influência dos “filhos” de Dom Bosco foi mais que positiva e gerações passadas, que viveram sob ela, têm muito a agradecer! As mais recentes, mesmo entre aqueles que lá estudaram, não conheceram a dinâmica da ação salesiana, na educação, cultura, entretenimento e até mesmo na economia local. Na área da cultura, por exemplo, basta citar que Cachoeira, àquela época, contava com três salas de teatro, Colégio Dom Bosco, Oratório Festivo e Orfanato Nossa Senhora Auxiliadora, todos os palcos dotados de equipamento e mecanismos apropriados a encenações. Cachoeirense da geração deste autor conheceram cinema no Oratório Festivo, numa época em que tal entretenimento só havia em cidades mais adiantadas. No Oratório não havia o conforto de uma sala de cinema, mas bons filmes eram exibidos e a garotada vibrava com as cenas do faroeste em moda. Interessante observar que víamos aqueles filmes recheados de violência, líamos os correspondentes gibis e, no entanto, nenhum de nós virou bandido! É que havia o contrapeso da educação! Aos domingos, as famílias não se preocupavam com atividades para crianças e adolescentes. Missa, diversão, brincadeiras e aulas de catecismo, meninas encontravam no Orfanato Nossa Senhora Auxiliadora e os meninos no Oratório Festivo. No Oratório, havia futebol, “spiriball”, “ping-pong”, jogos de mesa, poste gigante, balanços (os dois últimos utilizados até por adultos) e mais brincadeiras coletivas de todos os tipos. Depois da recreação, as aulas contemplavam religião, passavam pela educação geral, necessária à formação do cidadão, tudo emoldurado com aula de canto. Isso é apenas pequena amostra do que os salesianos realizaram em Cachoeira e por Cachoeira!

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