Nylton Gomes Batista
Um dos pontos, que bem caracterizam o Homem como ser social, é o cumprimento ou saudação pessoal configurada no “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite, conforme a linha do tempo, dentro das vinte e quatro horas que formam o dia. É a mais simples, porém não menos importante forma interativa humana, a carregar um significado, nem sempre bem compreendido e que, por isso mesmo, deixa de ser bem aproveitado por uns e outros, no dia a dia. Aos primeiros sinais de sol do novo dia, dar um “bom dia” generoso, carregado de otimismo, a quem encontrado no caminho, seja para o trabalho, para uma viagem ou numa simples caminhada terapêutica, revigora o espírito e prepara nosso eu para as realizações, nas próximas horas; também ao chegar ao trabalho, à escola, à igreja e qualquer local, onde pessoas se reúnem, a saudação matinal se reveste de grande importância para quem a emite e para quem a recebe.
O “bom dia” sincero carrega consigo uma carga de generosidade que transcende a mera troca de palavras. É mais do que simples saudação; é reflexo do desejo sincero de que o semelhante à frente tenha um dia profícuo em boas realizações e, consequentemente, geradoras de bem-estar. Traduzido em forma material, cada bom “bom dia” desejado/recebido é como algo a reforçar cada ponto da enorme malha, que é a sociedade humana com todas as diversidades possíveis. No fundo, aquele “bom dia” tem valor de uma oração, em favor da pessoa em apreço, ainda que, possivelmente, desconhecida. Não interessa quem seja ou qual sua posição sociocultural-econômica, mas é gente, membro da comunidade humana!
Contudo e lamentavelmente, nem todos entendem e compartilham esse sentimento de interligação, diferente daquele que une seres coletivos, possivelmente carregado de solidariedade, sob o princípio do livre arbítrio. Embora não se deva julgar, precipitadamente, é importante lembrar que cada pessoa carrega consigo uma história única, e que a maneira como responde aos cumprimentos é apenas pequena parte do que cada indivíduo é. A receptividade à saudação pode variar amplamente, a depender da personalidade. Há os que respondem com sorriso e brilho nos olhos, retribuindo com a mesma energia positiva. Para essas pessoas, o “bom dia” pode funcionar como um catalisador de emoções positivas, um lembrete de que cada dia é uma nova chance, um novo começo. Dessa forma se manifestam agradecidas e valorizadas, prontas para transmitir e suscitar em outros a mesma empatia.
Mas, nem sempre é assim porque, cumprimentadas, muitas pessoas deixam de responder, como se a resposta dependesse de grande esforço ou que a língua pudesse cair-lhe da boca; ou, quando respondem o fazem de má vontade, algumas com uma espécie de grunhido. Com relação a outras, a falta de resposta ao cumprimento deve-se, talvez, à distração, falta de atenção. Vive-se num mundo dominado por chamativos eletrônicos, prontos para desviar atenções, tornando fácil a perda de momentos simples, porém importantes, que são os pequenos gestos de cortesia. Há também a considerar pessoas que podem estar a lidar com questões pessoais ou emocionais, que as tornam menos receptivas à interação social. Fecham-se em si mesmas, a remoer pensamentos e descartam o mundo à sua volta, felizmente sem lhe votar qualquer sentimento negativo, ao contrário de pequeno grupo que tem o mundo como seu inimigo e, por isso, não cumprimenta e não quer ser cumprimentado. Para essas últimas pessoas, o ato de cumprimentar pode parecer uma formalidade vazia, desprovida de significado real, quiçá, até uma provocação, uma vez que se sentem vítimas de todos, sem levar em conta o que lhes polui a mente.
Consideradas essas características, próprias da espécie, que não falte, a cada um, disposição para a saudação pessoal, desejando, sinceramente, ao semelhante encontrado, que o dia seja frutuoso e pleno em bem-estar. Que se possa entender a importância desse gesto e o poder que ele tem de transformar momentos, dias e, quiçá, vidas. Mesmo que o retorno não seja o esperado, que se continue a semeadura dessas sementes de gentileza, pois nunca se sabe quais delas florescerão. Num mundo cada vez mais acelerado, o valor de um “bom dia” se amplia. Ele se torna um ato de resistência contra a indiferença, um convite para desaceleração e valorização do outro. Seja um “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”, cada saudação é uma ponte que se constrói entre o indivíduo e o mundo, um sinal de que, apesar de tudo, escolhem-se a gentileza e a empatia como guias.