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O que não pode na inteligência artificial

                                                                                                               Nylton Gomes Batista    
Dentro do tema inteligência artificial, abordado na semana passada, muito há do que falar, mormente por estar a tecnologia em fase crucial de seu desenvolvimento, gerando expectativas, em dois sentidos, tais quais facas de dois gumes. Plataformas IA, destinadas à produção de textos, de gráficos, desenhos e até pinturas artísticas já existem há relativo tempo, se considerada a atual explosão provocada por uma das mais recentes, ainda em desenvolvimento em laboratórios avançados de empresas gigantes de tecnologia. Somente agora, a grande maioria do público presente na web tomou conhecimento da IA e do que ela pode fazer, no campo das atividades humanas, mas ela já estava no dia-a-dia das grandes corporações. É mais ou menos como foi introduzido o computador; antes ele era exclusivo de grandes empresas, um mastodonte instalado em sala refrigerada e operado por técnicos altamente especializados.
Com o avanço tecnológico, ele foi reduzido em tamanho, foi despido de sua complexidade, que fazia de seus operadores uma espécie de “deuses”, e se nivelou com o cidadão comum, que o traz no bolso sob a forma do corriqueiro celular. Assim, portanto, como o PC, no início, a IA não é novidade senão para o grande público que, com ela, está a fazer seus primeiros contatos. Nesses primeiros contatos estão a produção de textos e tudo o mais relacionado com a comunicação escrita. Por ser a redação, uma prática pouco desenvolvida por grande maioria, a produção de textos por IA tem levado comunicadores da internet a exagerar em suas afirmações sobre a capacidade da nova tecnologia, dizendo que basta apresentar um tema e a IA desenvolve o texto solicitado. Tem-se a impressão de que o texto vem exatamente como se quer. 
Não é bem assim e é pura ingenuidade crer que assim possa ser! O texto produzido é fraquinho, muito “água com açúcar”, não querendo isso dizer que, no futuro, não se produza algo melhor. Para os que não dominam a arte, a redação por IA pode ser um presente dos céus, mas mesmo deles e para eles, requerem-se intervenções, como correções e complementos no rumo de uma melhorada, cuidando ainda da verificação da presença de possível informação equivocada. Quanto a isso, a própria plataforma adverte. Dir-se-ia que a plataforma fornece o “esqueleto”, cabendo ao solicitante chegar-lhe carne, músculos, alguma gordurinha, para que o todo se configure como um corpo textual. Não dá para copiar o texto e dá-lo como pronto, e, por muito que se desenvolva a IA, nem no futuro, ela conseguirá se igualar a um verdadeiro profissional da escrita. Assim sendo, não há por que tanto se entusiasmar, pensando que a IA escreve tudo que se quer, como também não há por que se desesperar, porque ela nunca substituirá o bom profissional da área. 
Até aqui, nem se tocou num detalhe importante e melindroso: a censura. Sim, nas plataformas IA também há censura; não tanto quanto nos regimes totalitários ou candidatos a tal modalidade, mas há. Não se trata de assuntos, por si só, banidos como sexo, violência, drogas e apologia ao crime, em geral. Trata-se de assuntos perfeitamente aceitáveis e recomendáveis. Religião, por exemplo, é assunto que, em alguns casos, pode ser rejeitado. E não precisa doutrinar, descrever ou narrar algo religioso. Em plataformas de conversão de texto em vídeo, se o texto finda, por exemplo, com a expressão “fique com Deus”, ele pode ser rejeitado  como assunto religioso; como se Deus fosse propriedade de alguma religião! Se descrita a evolução de um avião no “céu”, a mesma coisa pode acontecer. A plataforma interpreta “céu” como fator religioso. Temas políticos também podem ser rejeitados, bastando conter palavras como “governador”, “deputado”, etc., para que o texto não seja convertido em vídeo. Diante de outras palavras e expressões (não precisam ser palavrões), contidas no “prompt” (pequena amostra do que se quer do texto a ser produzido), plataformas IA “escorregam como quiabo” e chegam a desviar do assunto, para continuar na produção do texto, cujo resultado acaba por não corresponder ao desejado pelo solicitante. 
Enfim, a inteligência artificial acrescenta, e muito, ao conhecimento humano e, de acordo com a opinião deste leigo, tem como objetivo auxiliar, facilitar, agilizar tarefas e possibilitar ao ser humano abrir novos caminhos  na senda do saber. Como tudo, neste plano, ela é dotada de duas faces, cabendo ao Homem  a escolha, usando-a para o bem ou para o mal. Ainda que haja leis a regulamentá-la, como ocorre em outros setores da vida humana, cabe a cada indivíduo, no uso da nova ferramenta, saber identificar suas consequências, na vida do semelhante. Se para o bem, que o uso seja bem vindo! Se, para o mal, que seja deixada de lado!
Cachoeira do Campo, 11 de março de 2023

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