Pelo que se vê, a inteligência artificial acendeu, em torno de si, uma fogueira com combustível a queimar por muito tempo, a julgar pelo que se lê e se ouve, na web. As chamas começaram a crepitar, cá embaixo, no nível do consumidor, do usuário ou, para ser mais preciso, do trabalhador comum, que se viu, de repente e novamente, ameaçado em seu emprego pela máquina. Quando surgiu o computador ainda aquela geringonça enorme em sala refrigerada, foi mais ou menos a mesma coisa; muito gente a se sentir superada por aquela coisa medonha, prognósticos de demissões em massa e mais outras tantas previsões sombrias e trágicas, em decorrência do uso daquela coisa. Só não foi igual à situação de agora, porque a comunicação, ainda restrita a poucos privilegiados, não chegou ao grande público com o mesmo impacto causados nos meios profissionais.
Com o surgimento do computador pessoal (PC), nova onda de apreensão, mas aí, o computador deixará de ser o monstro enclausurado, abrindo possibilidade de fazer parte da vida de todos, democraticamente, depois de possibilitar o surgimento e ascensão de novas profissões. A IA, a cada dia, mostra novidades, no rumo de alteração da realidade em que vivemos e, se causa euforia de um lado, traz preocupações e assusta do outro. Enquanto situada na base, a polêmica era e é natural; funções no mercado de trabalho tendem a desaparecer, algumas profissões também podem ter o mesmo destino, sem falar em “espertezas”, mina de ouro dos que fogem do mercado de trabalho à luz do sol. Com a inteligência artificial, a tendência é para a valorização da autenticidade, do original, descartando-se a mediocridade e, sobretudo, a intermediação em muitos negócios, que poderão ser feitos, diretamente, pelas partes envolvidas. O que for bom, autêntico e necessário, permanecerá, mas o que não corresponder a esse perfil estará sujeito ao descarte. Daí o sorriso de uns e o ranger de dentes de outros!
Contudo, ainda que muita gente possa ser afetada na base, discussão noutro sentido e mais preocupante, segundo a óptica deste escriba, é a que se acende no topo da pirâmide. Boa parte dos que, de uma forma ou de outra, estão envolvidos no processo do desenvolvimento tecnológico, aponta para pretenso perigo na inteligência artificial. Na visão desse grupo, a inteligência artificial, a prosseguir e se desenvolver no mesmo ritmo, fará a máquina superar e dominar o ser humano, dentro de pouco tempo. Segundo o grupo, a IA está no estágio restrito, isto é, faz o que a mandam fazer, mas chegará ao ponto em que decidirá por si própria e, assim agindo, passará a controlar quem a criou. Dizem parecer coisa de filme, mas, não, o perigo é real, asseguram.
Esse tipo de reação à IA seria normal e compreensível no meio popular, onde avanços científicos e tecnológicos são vistos com desconfiança, por falta de conhecimento. A corrida espacial foi muito e ainda é criticada por pessoas comuns, que não vêm proveito em tais experiências e nem sabem que muito do que hoje usufruem se deve às viagens espaciais. Ao contrário, em pessoas pretensamente esclarecidas, tal reação é muito estranha e dá o que pensar. Não é segredo, pelo menos, para boa parte da humanidade que a inteligência humana é infinita; ela se expande à medida que a espécie evolui. Portanto, dizer que a IA pode superar a inteligência humana é jogar por terra todo o conceito da origem divina do Homem, espécie criada à imagem e semelhança de Deus, segundo o Gênesis. A inteligência humana é uma projeção da inteligência divina e assim sendo, não pode, nunca, ser superada pela inteligência artificial, sua criatura. É insensato, ilógico e inacreditável, vindo tal reação de onde vem!
Assumida com convicção, tal posição causa espanto pela notoriedade dos que a propalam, sem que consequências maiores advenham. Mas, por trás pode haver um propósito definido, e, isso acaba por deixar-nos com uma pulga atrás da orelha. Recém-saído de uma pandemia, na qual tentou-se o estabelecimento do pânico geral, o mundo ainda guarda alguns resquícios do medo, e, outra onda de medo, agora, só viria ajudar aqueles que têm por meta o domínio da humanidade. O medo natural é uma defesa eficaz contra o perigo iminente, mas o medo, artificial e psicologicamente incutido, é arma perigosíssima, quando se quer alguém de joelhos no chão! Há que lembrar a dualidade, positivo e negativo, bom e mau, presente em tudo neste plano, da qual também não escapa a inteligência artificial. Ela pode ser boa ou má, de acordo com seu uso, aplicação e propósitos definidos, mas não terá vontade própria sobre quem a criou!