Nylton Gomes Batista
Medo é como velho conhecido, que chega sem ser convidado, mas, às vezes, nos salva a vida. Outras vezes, porém, ele se instala como hóspede indesejado, a ocupar espaço demasiado, sufocando sonhos, paralisando passos. É sentimento que todos conhecem, mas poucos compreendem em profundidade. Necessário ou indesejável, há que dele falar, pois isso é como acender uma lamparina no meio da escuridão da alma!
Medo é uma emoção primária, instintiva, que surge diante da percepção de ameaça. É o alarme interno, que prepara o ser para lutar, fugir ou congelar. Ele é parte do sistema de sobrevivência humana, moldado ao longo de milênios. Sem medo, a espécie humana teria desaparecido, teria sido dizimada por predadores, ou se lançado a riscos fatais. O medo, portanto, tem como função a proteção do ser. Mas ele é também traiçoeiro. Quando exagerado, irracional ou persistente, deixa de ser protetor e se torna carcereiro. Ele prende o ser em zonas de conforto, impede-o de tentar, de amar, de mudar, de experimentar. O medo é necessário, mas precisa ser compreendido, dosado e, quando possível, vencido. O medo não surge de repente e em determinada etapa da vida. Não se sabe, mas é provável que o medo acompanhe o ser humano desde o nascimento.
Imagine-se bebê, sendo introduzido neste ambiente, vindo de outro, no qual, em estado confortável, pouco, ou nada, visse; talvez, pouco ouvisse. Do sossego, no isolamento, você se sente lançado em espaço mais amplo, no qual é conduzido, manipulado por seres gigantesco, esquisitos e barulhentos. Essa é ou pode ser a primeira impressão que se tem deste mundo, ao nascer, e, convenha-se, pode ser aterrorizante. Pode o medo ser o primeiro sentimento experimentado pelo bebê, felizmente, logo em seguida, compensado pelo amor sentido nos braços da mãe. Imagine-se, em seguida, como alvo da curiosidade entre os da família e amigos desta; a cada momento, é uma daquelas figuras a se mostrar, diante de seus olhos, ainda mal-acostumados com tanta coisa estranha. Independentemente da estética, uma vez que, como recém-nascido você ainda não absorveu conceitos de beleza e feiura, não importa se bela cara de anjo ou o seu contrário mais grotesco; tudo e todos o assustam nos primeiros dias. Talvez, por isso, muitos bebês passem mais tempo a dormir e, quando não dormem, abrem o berreiro! Dentro de algum tempo, o bebê, já não mais tão bebê, inicia sua integração ao grupo familiar e, aí, mais medo ele conhece; desta vez, para que aprenda a obedecer, a não fazer certas coisas, sob pena de ser castigado. É então informado que no escuro pode estar o “bicho-papão” e outros perigos para as crianças traquinas e desobedientes.
A princípio, o medo é parte da natureza humana, é fator de segurança, alerta contra perigo iminente. Pode ser que ele seja atrelado à personalidade, logo após o nascimento, mas no medo incutido como meio de educar pode estar a causa do medo exagerado e bloqueador, que impede o bem-estar e a plena realização da vida. Entre os tipos de medo, que não são poucos, estão alguns a bloquear oportunidades: medo de mudar, de arriscar, de errar, medo de experimentar e medo de empreender são alguns, que podem travar o desenvolvimento profissional de uma pessoa.
A recente pandemia foi ocasião de muito medo, até certo ponto com muita razão, devido à alta letalidade da doença. Dentro da razoabilidade, o medo tinha, em contraposição, algumas atitudes, entre as quais, mais atenção à com a imunidade, que pede higiene mental, boa alimentação e sono regular, além de cuidados específicos, como afastamento de aglomerações e higiene mais frequente das mãos. Entretanto, ainda que não contraída a doença pandêmica, muitos contraíram outras doenças, em decorrência do medo exagerado, que tornou muitas pessoas reclusas em suas próprias casas, temendo a simples aproximação de qualquer outra pessoa.
Medo, bem dosado, alerta e predispõe o indivíduo a se defender do perigo, ajuda a ter cautela nas decisões, porém se irracional, exagerado, pode levar qualquer pessoa ao desespero, ao descontrole, pior ainda, subjugar-se, ou seja, colocar-se sob o domínio de terceiros.