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Ponto de Vista do Batista
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Livrai-nos do puxa-saco, amém!

Por Nylton Gomes Batista
O ser humano é o fascínio em si mesmo, embora controvérsias hajam por força dos que consideram a espécie perdida, corrompida e capaz de mil vilanias contra o semelhante; talvez uma forma de tentar esconder algo a colocá-los entre os menos recomendáveis. Contudo, essa dissonância, por mais paradoxal possa parecer, confirma o dito antes, pois cabe a cada indivíduo escolher o que SER: situar-se no estreito espaço dos repelidos ou avançar pela ampla faixa dos considerados, variando estes em gradação no sentido à perfeição, ainda que inatingível.
O fato é que a espécie humana, igual na origem transcendental e no destino de igual natureza, distribui-se dentro de tão ampla escala que, em alguns momentos e circunstâncias, duvida-se de indivíduo ser da mesma espécie. Aí está o valor da vida humana, na interação entre indivíduos mesclados numa diversidade infinita, cabendo a cada um se situar em posição de não risco para si e para seu semelhante. Dentro dessa diversidade e independentemente de posição sociopolítico, econômica e religiosa, há pessoas, chatas, agradáveis, generosas, malvadas, dadivosas, mãos-de-vaca e, por aí vai, numa lista infinita de características, não escapando nenhum indivíduo de portar, pelo menos, uma delas. Repare-se que são características interiores, próprias de cada um, passíveis de eliminação, alteração, transformação, substituição, de acordo com a evolução interna.
Pois bem; em meio a essas inumeráveis variedades em personalidade volto a atenção para uma, em especial, que provoca risos, piadas, quando não escárnio de indignação, por força de atitudes, que denotam interesse pessoal.
É a pessoa bajuladora ou, vulgarmente, puxa-saco! Ah, os puxa-sacos, seres admiráveis e suas habilidades artísticas são mais que fenomenais! Note-se que, para falar do puxa-saco até mudei o tom do discurso, porque ele, indo de mestre ao desastre no emprego de palavras, para bajular, muito merece! O que seria do mundo sem esses especialistas em adulação? Ah, permitam-me respirar fundo para contemplar tamanho fulgor… Ou seria melhor dizer “frescor”?
Mistério à parte, que só Freud explica, a personalidade do puxa-saco engendra o cômico, para deleite dos circunstantes, e ele disso nem sabe! Está focado na obtenção de algo e não detendo meios próprios e necessários, rebaixa-se à subserviência melada de palavras vãs. Vai do palhaço ao mágico e ao acrobata, em comportamento hipócrita e interesseiro junto ao eleito como vítima. Por vezes, da palavra melíflua passa a ação, como prestação de “favores” não solicitados, mas executados até com sacrifício.  No entanto, se possível prescrutar seu íntimo, vê-se ali densa nuvem de desonestidade em contrapartida ao largo sorriso e ruidosas gargalhadas à vista de todos. Por trás de cada mostra das canjicas, que podem estar prontas a morder, situa-se um coração disposto a ir mais longe, na obtenção do que pensa ser do seu merecimento Sua adulação não passa de estratagema, uma dancinha para alcançar objetivos junto a alguém, quando ele próprio não é capaz.
Mas, há mais nessa comédia do que apenas o puxa-saco, na tentativa de escalar a pirâmide social e assim obter poder! As causas desse fenômeno são tão intrigantes como charada sem solução! Alguns ousariam atribuir tal comportamento à necessidade visceral de aceitação, uma ânsia tão voraz que consome qualquer vestígio de integridade. O resultado é que o puxa-saco vira alvo de chacotas, perde credibilidade e mais longe fica daquilo que pretende.
Por fim e para marcar posição, esclareço que sou radicalmente contra a pena de morte, que considero uma aberração jurídica. Mas se justa fosse, e, o “puxassaquismo” crime, o puxa-saco deveria ser executado a pedradas!

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