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Jabuticabeira, um símbolo local II

Ao admirar uma jabuticabeira, considerando sua pujança, robustez, resistência e longevidade, em comparação com a fragilidade de seus frutos e os poucos cinquenta dias destinados à sua produção, chega-se à conclusão que, em alguns aspectos, a vida humana a ela se assemelha. Na jabuticabeira, tudo leva a crer que seus frutos sejam grandes, fortes e duradouros, assim como a matriz que os gera. Ao brotarem-se as minúsculas flores, a partir de “encaroçamento” à semelhança da brotoeja na pele humana, a cobrir-lhe o tronco, desde as raízes até as pontas dos galhos, percebe-se quão seus propósitos contrariam a nossa imaginação. A vida humana também pode se mostrar sob generosos dotes intelectuais e culturais, bem como a ostentar grande poderes políticos e econômicos, em contraste com sua missão, no plano cósmico, que pode aparentar coisa pouca e, praticamente, invisível aos olhos mundanos. Além do mais, tudo na jabuticabeira é diferente entre demais espécies no ramo vegetal. Pouco antes de as pequenas flores se abrirem, as folhas caem, deixando a árvore pelada, como se estivesse seca e pronta para o fogo.
Quando as flores se abrem percebe-se o porquê de a jabuticabeira ficar pelada. Abre-se caminho para as abelhas realizarem seu trabalho; aproximação que estaria dificultada com o obstáculo das folhas. Findo o período da polinização, toda a árvore se refolha. Como é sábia a natureza! Afora os três primeiros dias da floração, destinados à polinização a cargo das abelhas, no restante do tempo dispensa-se o sol, tão requerido por outras frutas, sendo bem vinda a chuva em seu lugar, desde que não em forma de tempestade. A jabuticaba é fruta da chuva, é fruta da água. Se suas raízes alcançam o lençol freático, a produção pode ser mais generosa e repetida em outras épocas do ano. Ao trepar na jabuticabeira há que ter alguns cuidados, entre os quais, o de se certificar onde pisa, pois um pequeno descuido pode levar a um desastre ou mesmo a uma tragédia. Seus galhos são extremamente resistentes, estando verdes, sustentando o peso de uma pessoa apoiada numa forquilha, que não precisa ser das mais grossas.
Entretanto, se estiver seco, não importa a grossura do galho pois, tentar se sustentar nele é risco de queda, na certa. Antes de trocar pontos de apoio para os pés, há que ter os olhos atentos na situação, conferindo se há folhas nas pontas dos galhos; se houver, tudo bem, se não houver, caia fora! Procure outro apoio porque, ao contrário, o chão o espera! Observada essa norma de segurança, quem sobe numa jabuticabeira há que ficar à vontade, misturar–se entre os galhos, como se um deles fosse. Assim não sendo, melhor não encarar a tarefa e deixar que as jabuticabas sejam colhidas por outrem; ou que elas caiam. Finda a curta temporada da jabuticaba, a jabuticabeira deixa de chamar a atenção e assim deve permanecer por s disso, ela se despe de toda a casca. Do tronco até às pontas dos ramos, a casca se solta em pedaços, para que outra tome seu lugar. Nesse fenômeno percebe-se a sabedoria da mãe natureza a determinar curiosa defesa da árvore. A chamada “erva de passarinho”, parasita que abafa qualquer árvore maior, não tem vez com a jabuticabeira. A erva se estende sobre sua copa, mas na troca da casca, perde sustentação e morre. Talvez seja a única árvore que não se deixa dominar pela “erva de passarinho”. Ao escrever passarinho, lembro-me que entre as aves há uma espécie que também aprecia a jabuticaba, tanto quanto nós humanos.
É a maritaca (maitaca ou maracanã em outras regiões), que a esta época sobrevoa Cachoeira do Campo em grandes bandos barulhentos à procura da fruta. O curioso é que, enquanto ocupadas com as frutas, elas permanecem em silêncio total, como se por medo de serem descobertas. Só se escuta o barulho das cascas caindo no chão. Ao se verem descobertas alçam voo na maior algazarra. Ainda bem que elas não descem muito pela árvore. Limitam-se à copa. Se descessem, talvez não sobrasse muita coisa para nós outros. Pois é, gente, as jabuticabeiras estão em vias de desaparecer da paisagem cachoeirense e, quiçá, da região.
Em muito, o número delas já foi reduzido e, dentro de alguns anos, talvez não restem mais que umas poucas para contar a história, se medidas protetivas não forem adotadas. A jabuticabeira pode ser considerado um dos nossos símbolos, por ter aqui o clima ideal para sua existência produtiva, Salvemos as jabuticabeiras!

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