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Ponto de Vista do Batista
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Incúria cultural III

De volta à Cruz dos Monges, há que quanto ao nome corrigir um equívoco, motivado pela falta de informação e por confusão com outro fato, ocorrido em outro local não longe dali e em momento bem mais recente. Como já dito, embora não haja registro oficial, a história oral dá como origem uma cruz, ali fincada por monges, que estiveram de passagem pela região, quando Cachoeira do Campo ainda surgia. História oral é o relato que se faz de fatos, de geração em geração, ao longo do tempo.
Entretanto, no livro “Ouro Preto – Igrejas e Capelas”, há registro, à página 102, que o nome seria homenagem a um monge que, a cavalgar, teria ali morrido, depois de tombar da sela e ser arrastado com um pé preso no estribo. Observe-se como a história oral, embora reconhecida diante da falta de registro oficial, pode se desviar de sua origem e embrenhar por outro curso, misturando-se com outro relato. Cumpre a quem conhece um e outro relato desfazer o equívoco, e, evitar que confusa a história se torne mais à frente. O acidente, de fato, aconteceu com um religioso, não monge, nas proximidades da Cruz dos Monges, mas em momento bem mais recente. A vítima foi José Telles Brandão, irmão leigo salesiano, por isso conhecido como Irmão Brandão que, deixando o Colégio Dom Bosco, dirigia-se à estação ferroviária de Hargreaves (posteriormente rebatizada como Dom Bosco), conduzindo as malas de algumas pessoas que estiveram em visita às Escolas Dom Bosco. Quando os referidos visitantes estavam a caminho da estação, por volta das 5h30, distante algo pouco mais de um quilômetro à frente, ao pé de um morro, viram um cavalo a correr em disparada no sentido contrário. Presa por um dos pés no estribo, uma pessoa era arrastada pelo animal. Contido o cavalo, depois de muito esforço, constatou-se que a vítima era o Irmão Brandão. De acordo com relato da época ele ainda viveu por vinte e quatro horas. Tal tragédia se deu no dia 26 de outubro de 1920. Na antiga estrada que liga Cachoeira à antiga estação Dom Bosco, o local do acidente fica pouco além do antigo colégio, um morro onde a estrada faz curva à esquerda. Devido à tragédia, o povo passou a chamar o local de Morro do Brandão. Os fatos estão relatados, incluindo-se foto do velório, no livro “Memórias dos Cinco Lustros das Escolas Dom Bosco – 1895/1920”, página 283.
Quem conhece a tragédia do Irmão Brandão, ao ler a história da Cruz dos Monges em “Ouro Preto – Igrejas e Capelas” – da Ouro Preto Editora-2016 (organização de Paulo Lemos, texto de Alex Ferreira Bohrer e Mauro Werkema), percebe que o relato foi transposto do momento mais recente, para momento mais distante no passado. Contudo, Cruz dos Monges está aí com nova feição, delineada por uma população laboriosa, crescente, e o grande marco educativo do CAIC Filipe dos Santos. Mediante esses esclarecimentos reivindica-se a denominação Cruz dos Monges, que àquele bairro pertence por herança histórica e, ao mesmo tempo, corrige-se equívoco quanto à origem do mesmo nome. O mais interessante é que a correção do equívoco levou à lembrança de outro fato, uma tragédia esquecida no passado menos remoto, mas que ficou gravado pela toponímia da região.
Tombadouro é outra denominação, que teria sido trocada, se não fosse a forte resistência contra a mudança. O nome a aguçar a curiosidade de muitos, sem que se obtenha uma resposta satisfatória. já teria desaparecido, se não fosse o bom senso de alguns. A resposta à curiosidade pode estar nos dicionários que explicam: tombadouro é “barranco profundo ou qualquer local em uma estrada no qual, tombando, um veículo pode cair”. Sabendo-se que nos fundos dos quintais da Rua Tombadouro e parte da Rua Santo Antônio há ou, pelo menos, havia uma grande fenda, desde o pé do Alto do Beleza até, mais ou menos, a Rua do Ouro, arrisca-se um palpite. Aí pode estar a explicação para a origem do nome da rua, que era a entrada para quem vinha de Vila Rica/Ouro Preto, no período colonial e imperial. A reforçar a tese, existe no outro lado da Rua Tombadouro, também nos fundos dos quintais, um despenhadeiro de grandes proporções. Presume-se que, por isso, os pioneiros deram o nome Tombadouro a esse segmento da primeira rua cachoeirense que, descendo muda para Rua 7 de Setembro e, posteriormente, para Rua Nossa Senhora Auxiliadora, até a Ponte do Palácio.

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