Nylton Gomes Batista
Vive-se num mundo em que o verniz social brilha mais do que o caráter, em que o aperto de mão firme, o sorriso alinhado e o discurso eloquente são confundidos com honestidade e tudo o mais que caracterizam uma pessoa de princípios.
Cuidado! Cuidado, porque nem toda fachada séria significa integridade moral. Há uma característica sombria por trás de muitos rostos respeitáveis: à falsidade. Ela não faz alarde, não se impõe pela força, ainda que de palavras fortes. Ela sussurra, manipula e se esconde atrás da cortina da confiança.
Este registro constitui apenas um pequeno esboço do que pode ser uma pessoa falsa e do que pode ela fazer, quando se trata de construir seu próprio mundo, um reduto, de onde quer impor sua vontade, se não impedida. Falsidade não é apenas mentir. É viver uma mentira, como se verdade fosse. É vestir a máscara da bondade, para ocultar a malícia. É fingir empatia enquanto se trama a queda alheia. O falso ´e muito mais que um mentiroso; ele constrói uma narrativa inteira para enganar, manipular e se beneficiar.
A falsidade é uma arte sombria, e, os falsos são artistas premiados no teatro da convivência, quando não descobertos e denunciados, pois a plateia pode não ser toda incauta. Eles sabem exatamente o que dizer, como agir, quando sorrir e quando se calar. São estrategistas emocionais, e, muitas vezes, são confundidos com líderes, amigos, parceiros, confidentes. O falso nunca se apresenta como tal; é óbvio. Apresentam-se sob o disfarça do confiável. Pode ser aquele colega de trabalho, aparentemente, sempre disposto a ajudar, sem que a outra parte saiba da sabotagem feita pelas costas. É o “amigo que escuta seus problemas, mas espalha suas dores como fofoca. Não se descarta o familiar, que abraça na frente de alguns parentes e tem comportamento diferente diante de outros. Pode estar, dentro do grupo, a gerar um conflito, do qual sairá favorecido.
Essas pessoas têm um talento especial, pois, sabem construir uma imagem pública, aparentemente impecável. São vistas como sérias, responsáveis e admiradas. Mas por trás dessa fachada mora um ser calculista, que mede cada gesto com a régua da conveniência. Pessoa falsa é mestra da manipulação emocional. Ela sabe exatamente, como provocar culpa, como se fazer de vítima, como inverter situações para parecer a injustiçada. Ela chora sem sentir tristeza, sorri sem alegria, abraça sem afeto. A mentira dessas pessoas não é descarada, porém ardilosa, às vezes, a distorcer fatos, ou, fazendo insinuações maldosas com vistas à destruição de reputações. Quem atua com falsidade escolhe bem seus aliados, aproxima-se de quem pode lhe dar poder, status ou proteção; bajula, elogia e se oferece. Tudo tem o objetivo de subir, dominar, controlar. Não ataca de frente, porém, mina o caminho como, por exemplo: “esquecer” de avisar sobre uma reunião importante, não repassar uma informação crucial. Elogia o seu alvo, em público, critica-o no privado; com um sorriso, empurra sua vítima para o erro. Pessoas falsas são também oportunistas, prontas para roubar ideias. Elogia o idealizador, mune-se de informações, faz ligeiras alterações, para disfarçar, e, lança como se ideia sua fosse. Ele se apropria do esforço alheio e se faz de gênio.
A falsidade é uma praga social, disfarçada de virtude e escondida atrás de uma máscara de seriedade e confiabilidade. Pode-se dizer que ela é parte da diversidade da personalidade humana, talvez como armadilha a ser vencida por personalidades mais fortes e decididas, na busca do direito e da verdade. Ela cumpre função de “ferramenta” a substituir, em uns, a capacidade presente em outros, que tem como obstáculo a ser superado, Diante do falso, ainda que a sofrer abalos, em decorrência de suas atitudes e ações, o melhor é o silencia, o não confronto e, sobretudo, o corte definitivo de qualquer relação. Quem cultiva a falsidade, especialmente os ‘caras-de-pau”, muito comuns dentro da ‘categoria”, tem interesse na manutenção do fio da comunicação. Aos demais, a continuidade da relação seria a abomina falsidade diante da inconfiabilidade!