Na esperança de que não venha outra onda, pode-se dizer que, da pandemia novo coronavirus/COVID-19, o pior já passou. Os números já baixaram bastante, o que permite à rede de saúde dar um atendimento mais tranquilo, sem pressões, enquanto se volta também ao atendimento de rotina quanto às demais enfermidades.
Continuemos, então a tratar do entendimento sobre o que sejam o município e o distrito. Infelizmente, a ignorância em torno do assunto é muito grande. O Instituto Estrada Real, por exemplo, tem gravado em seus marcos, dentro da localidade de Cachoeira do Campo: “Cachoeira do Campo – distrito de Ouro Preto”; isso coloca Cachoeira do Campo dentro do distrito de Ouro Preto, em pé de igualdade com a localidade de Botafogo, esta, sim, situada no distrito de Ouro Preto, assim como a localidade de Tripuí e outras. A localidade de Lavras Novas era também integrante do distrito de Ouro Preto, mas se desmembrou, levando parte do território no seu entorno, para formar o novo distrito. A localidade, como sede do novo distrito, ganhou o status de vila.
Por ocasião da tragédia de Bento Rodrigues, entre as muitas bobagens propaladas pela mídia, guardei bem esta: o repórter falava sobre o rompimento da barragem, segundo ele, em Bento Rodrigues, um distrito de Mariana. Nesse ponto, querendo esclarecer, ele disse que, em Minas, as cidades costumam ter vários distritos. Melhor teria sido, se não tivesse se metido a sabichão, pois se revelou um “ignorantão”. Ele deve conhecer, de fato, tão somente distrito policial! Esclareça-se aqui que Bento Rodrigues nem distrito é, mas, sim, uma localidade integrante do distrito de Santa Rita Durão, segundo o site da Prefeitura de Mariana. Devido à confusão em torno do conceito de distrito, não se sabe o quê é o quê, quando a mídia diz, “distrito de A” ou “distrito de B”!
Depois da ignorância, de alto a baixo, vem a vaidade popular a esquentar miolos e agitar neurônios dos menos esclarecidos, que se empolgam com a possibilidade de o seu torrão natal ou de adoção “passar cidade”, como é, vulgarmente, dito. É chique morar na cidade, ainda que ela não tenha condições de se manter por si própria, o que vale dizer “passar necessidade”, desaguando essa vaidade em pancada no lombo do cidadão, que mora em cidade com cara de roça, sem quaisquer dos benefícios, com os quais um dia sonhou. – Ah! mas, os carros terão, na placa, o nome da minha terra! – Nem mais isso, pois o sistema de emplacamento dentro do MERCOSUL aboliu a localidade de origem do veículo.
Todos pensam que “passar cidade” é como um passe de mágica para tudo melhorar! Mas, há razões mais fortes! Na verdade, está no inconsciente coletivo das populações interioranas o desejo de se livrar da pecha “da roça”, epíteto pejorativo e discriminatório tupiniquim dirigido aos não residentes na cidade. Se não residente na cidade, o cidadão é considerado de segunda classe. As atenções são mais voltadas para a cidade e não para o município como um todo. Repare-se que até na propaganda e campanhas oficiais, o foco é a cidade. O restante do município, o que equivale a dizer os demais distritos, é considerado quintal da cidade. Só não vale isso na hora da cobrança de impostos e da catação de votos.
Por cima da ignorância geral, da simplicidade do povo, que tudo aceita e em tudo acredita, está a esperteza política, a chave para a exploração dos sentimentos coletivos. Muitas vezes sem peso para ingressar no jogo político do município, dominado por outro ou outros grupos, o político local, desejoso de alçar voo, investe na vontade simplória, que o povo tem de se emancipar. Se consegue seu intento, a emancipação e sua conversão em novo município são como mais um queijo colocado na mesa para os ratos roerem; isso porque, praticamente, toda a receita será consumida na máquina administrativa e outras tretas, que todo o mundo está cansado de saber.
Em razão do aqui dito, e muito mais não considerado no momento, é que existem tantos “brocotós” com rótulo de cidade, cujo retorno ao status anterior seria um grande benefício para o país e para a própria localidade, integrada a município vizinho com melhores perspectivas. Mas, antes é preciso que se mude a mentalidade.