Em todo o país, incluindo-se o município de Ouro Preto, teve início a vacinação contra o novo corona vírus/COVID-19. Muita expectativa em torno dos resultados, ou seja, a imunização do maior número de pessoas e, consequentemente, em nível coletivo, a contenção gradativa da pandemia. Diz-se gradativa porque, ao contrário de sua disseminação rápida como foi, a contenção ainda poderá levar tempo, a partir de uma vacinação eficiente. Quem pensou que a pandemia da COVID-19 não passaria de três meses errou e, agora, quem pensa que a mesma está com seus contados está, novamente, enganado. Se acertado o alvo pelas vacinas, os casos de contaminação entrarão em declínio, mas os cuidados da população ainda deverão persistir, mesmo porque ainda não se conhece bem a natureza do novo coronavírus. Ele ainda poderá causar surpresas! É bom que todos estejamos prevenidos.
Em meio a esse clima de angústia e extremos cuidados para uns e dor para aqueles que perderam alguém próximo, vitimado pela pandemia, ao entrar fevereiro, veio-me à memória cenas de uma terrível tragédia, ocorrida na cidade de São Paulo, mas que alcançou o mundo por sua extensão de dor humana.
Foi na manhã de 1º de fevereiro de 1974, que ardeu em chamas o edifício Joelma. Era sexta-feira, um tanto chuvosa, início da jornada de trabalho no prédio, que abrigava cerca de oitocentas pessoas, maioria constituída por funcionários de instituição bancária, locatária do prédio de vinte e cinco andares, localizado, no centro da cidade. O incêndio teve origem no 12º andar e, como os dez primeiros eram garagem, percebe-se que a grande maioria das pessoas estava situada acima do foco do incêndio, o que motivou a subida e não a descida, a mais lógica forma de escapar do sinistro em arranha-céu. Quem quis descer foi impedido pelo trânsito ascendente de outros a buscar refúgio no topo do edifício. Elevador, naquela situação, não era aconselhável, e, isso foi confirmado ao se descobrirem, num deles, treze corpos totalmente carbonizados. O equipamento não se abriu para que seus ocupantes saíssem. Muitos, em ato de desespero diante do calor e da fumaça, saltaram e morreram no asfalto. Os que alcançaram o terraço perceberam que a opção não foi a melhor e só não se perderam mais vidas, porque bombeiros se arriscaram ao limite e muitos anônimos deram sua contribuição.
Da tentativa ou do efetivo resgate das vítimas no edifício, participaram 14 helicópteros, 39 viaturas do Corpo de bombeiros, muitos carros-pipa particulares e cerca de 1.500 profissionais de áreas diversas! Enquanto o desespero imperava no Joelma, a cidade de São Paulo voltava sua atenção, unicamente, para as vítimas que precisavam ser salvas. No centro, todas as vias ficaram livres para o trabalho dos bombeiros, serviços médicos, polícia e tudo mais que fazia parte da defesa e segurança pública. Chegou a faltar leite no comércio do centro, devido à destinação emergencial desse alimento para o atendimento às vítimas. Nesses momentos de angústia, tanta gente a necessitar de ajuda, é que se vê o lado bom da humanidade. Os maus são minoria, porém fazem muito barulho, daí a impressão de são mais fortes. Nas ruas, muita gente queria ajudar, mas agentes da segurança desaconselhavam, pois o trabalho era para profissionais muito bem preparados. Quem não chorava e se lamentava por não poder ajudar, mantinha-se em silêncio absoluto, como se em choque ou em busca de força interior, para a superação daqueles momentos de sofrimento.
De forma indireta, o público sofreu e, embora possam não ter sido registradas pelas estatísticas, mortes podem ter ocorrido entre pessoas sensíveis ao extremo, a ponto de absorver sofrimento de terceiros. Segundo registros oficiais foram 490 vítimas, das quais 191 morreram no local, não se sabendo quantas morreram nos hospitais. Segundo a perícia, o incêndio foi provocado por curto-circuito em aparelho de ar condicionado. Agora, o mais terrível e revoltante nas constatações da perícia. Toda a instalação elétrica do edifício era precária, mas não por deterioração ao longo tempo, pois a edificação era recente, apenas dois anos de inaugurada. Além disso estava sobrecarregada! O material empregado era de baixa qualidade, não condizente com as normas exigidas para construções daquele porte, especialmente em se sabendo que seria destinada a escritórios. Segundo consta das estatísticas, foi o segundo incêndio do gênero, em devastação, depois do World Trade Center, 09/09/2011, em Nova Iorque.