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Ponto de Vista do Batista
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Estamos todos no mesmo barco XCIX

Por Nylton Gomes Batista
Finalmente, depois de longo recesso forçado pela pandemia, escolares retornaram à escola e às aulas presenciais. Se, para o aprendizado, a escola online pode não ter sido o que se esperava, em razão de fatores diversos, como o preparo prévio sendo substituído pelo improviso e a falta de condições de muitos alunos entre outros, a aula presencial, depois de tanto tempo, requer readaptação. Para muitos é como estar na escola pela primeira vez. 
Com a volta às aulas, deperta-se, também, a nova preocupação com o velho problema, porém visto como novo, a ponto de ganhar nome estranho, nada a ver com a língua tupiniquim e muito menos com a Portuguesa: “bullying”. Como já dito, o problema é velho, mais velho de que a “serra da Mãe Engrácia, como se dizia em Cachoeira, outrora, mas foi, há alguns anos, “descoberto” (assim como o Brasil, por Cabral) e batizado com esse nome besta. 
Atire a primeira pedra quem nunca testemunhou ou foi vítima dessa coisa! Algumas crianças, ou adolescentes, na escola ou em que qualquer lugar onde se reúnem, podem ser alvo de brincadeiras maldosas, depreciativas, humilhantes, assim como podem ter sido seus pais, avós, bisavós e demais ascendentes. Até adultos podem ser vítimas, a depender de seu comportamento diante de situações e circunstâncias. Com exceção de poucos pais/mães e professores, que apontavam o comportamento inadequado e mostravam como reagir, a maioria deixava a coisa correr solta, mas não se sabe de alguma consequência grave causada a qualquer vítima de chacota; sim, chacota é o nome, em Língua Portuguesa, para “atitude ou dito zombeteiro, desdenhoso; chança, escárnio, zombaria”, conforme registra o dicionário Houaiss. 
Na condição de “novo”, o fenômeno determinou até o surgimento de “especialistas” a ditar normas de conduta no como administrar tal comportamento antissocial. Alguns até falam em alunos seriamente machucados como vítimas de chacota. O quê? Estão a confundir alhos com bugalhos! Se sofreram machucados, foram agredidos; e, isso não é chacota (bullying, para quem não entende português), é violência. Violência física é crime, embora, no caso de autor menor de idade, a Lei denomine “infração”. Chacota não envolve agressão física. Como então combater algo que nem sabem definir? Os mesmos “especialistas” insistem na reeducação voltada aos praticantes de chacota, ou chacoteiros. Nada mais improducente! 
O fenômeno sempre existiu e sempre existirá, pois é próprio da natureza humana, cabendo a cada um saber lidar com a situação, de forma a reduzi-la, na prática e nos seus efeitos prejudiciais. Sem apontar o dedo a este ou aquele, ao chacoteiro ou ao seu alvo, a educação contra a chacota deve ser voltada a todos, começando isso dentro de casa, ensinando que a prática é errada e ofende as pessoas. Entretanto, o que pode obter melhores resultados é a não reação à prática da chacota. Crianças e jovens deveriam ser orientados a se manterem passivos, não reagir diante da chacota, pois isso inibe a prática, muito mais que repreensão e repressão. Explica-se: o chacoteiro tem esse comportamento, porque se diverte e sente prazer na reação de sua vítima. Não obtendo reação, ele “perde a graça” e cessa a prática, pelo menos, contra aquele alvo. 
O trote por telefone foi muito comum, enquanto não se inventou o identificador de chamadas, que eliminou anonimato, a principal e covarde arma do trotista.
Quem praticava tal tipo de “brincadeira”, é porque sabia da reação da pessoa chamada. Quando falava e falava suas bobagens, mas, nada ouvia em resposta, em forma de xingamentos e palavrões, o autor da chamada se murchava e se recolhia à sua insignificância. Conheci pessoa que recebia trote telefônico a todo momento. Isso acontecia porque, tão logo percebia ser trote, tal pessoa despejava uma torrente de imprecações e de palavrões dos mais cabeludos contra o autor do trote. Presume-se que, enquanto a vítima se mordia de raiva, do outro lado, sob o anonimato, o trotista ria e se deliciava de prazer. Para quem é vítima, chacota deve ser uma questão de tolerância e desprezo à prática; para quem a prática é uma questão de imposição e de aparecer pelo medo, pela arrogância, por que não tem inteligência para ser de outra maneira. Quando há machucados ou ferimentos, ó cara-pálida, não se trata de chacota (ou bullying, idem), mas, violência. Aí é caso para autoridades da Infância e Juventude, pois é crime… ou, não é?

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