Ainda dentro do mesmo tema abordado na semana passada, é muito bom que todos estejam atentos às possibilidades da realização do carnaval, em 2022, aventadas nas altas esferas de governos estaduais e municipais. Se democracia é regime em que o governo é exercido pelo povo, por meio de seus representantes, tais governantes nem levantariam tal possibilidade, pois é quase certo que a maioria da população não vê com simpatia e não sente segurança, além de grande parte ainda estar enlutada e impactada com todo o sofrimento e mortes consequentes da pandemia. Considere-se ainda que a pandemia ainda não se extinguiu, apenas arrefeceu sua ação nefasta, deixando suspensa a dúvida quanto ao futuro imediato, a volta ou não à normalidade; gente ainda morre de COVID-19, em número bem reduzido, é verdade, em comparação com ápice da pandemia.
O povo sofreu e ainda sofre, de formas diversas, pela perda de familiares, de amigos; angústia e medo, restrições à sua liberdade; queda na renda por força da redução das atividades ou perda de emprego. Muito há que repor para o retorno à normalidade, e, não é o carnaval o divisor de águas! Que ele seja deixado para depois, quando o perigo houver, de fato, passado!
Se o carnaval ainda fosse, como no passado, uma festa do povo, com o povo e para o povo, é quase certo que o bom senso se faria presente antes de qualquer decisão com relação à sua realização. Mas o carnaval foi oficializado, municipalizado, ficando o povo a reboque da coisa, assim como em tudo mais, não podendo, em alguns casos, nem emitir sua opinião, sem risco de prisão; e ainda dizem ser isso democracia! Diga-se, de passagem, que quando não oficializado, o carnaval era arte e momento próprio para homenagens, críticas e irreverência aos acontecimentos e realizações de destaque, no ano anterior, especialmente no campo político. Deixou de ser tudo isso, para se tornar uma “lambança cultural” a gerar impostos para os cofres públicos!
Curiosamente, depois do Rio, “capital” natural do carnaval, vem de São Paulo/capital a maior pressão pela realização do carnaval/2022, como se paulistanos tivessem tradição carnavalesca, o que não é verdade. Quando o carnaval era festa nitidamente popular, sem ingerência do poder público, que se limitava, corretamente, a dar garantias, mediante espaços abertos à folia e segurança pública, a cidade de São Paulo, praticamente, não tinha carnaval. Por lá tudo funcionava, normalmente, enquanto o restante do país estava totalmente entregue aos folguedos momescos; eram apenas três dias, mas pode-se dizer que todos, de oito a oitenta, brincavam o carnaval durante as vinte e quatro horas do dia! As mais antigas e destacadas escolas de samba paulistanas da atualidade eram, então, bem menores que as de Ouro Preto. Eram elas a única manifestação carnavalesca, em São Paulo, reunindo-se em desfile, unicamente na terça-feira, em bairro afastado, sem qualquer estrutura montada pelo poder público. Sorrateiramente assumido pela prefeitura, assim como em todo o Brasil, o carnaval paulistano pretende concorrer com o carioca; presunção das presunções, vaidade das vaidades, como se carnaval dependesse unicamente de dinheiro e de imposição política. É isso que faz governantes paulistas e paulistanos se assanhar com a promoção do carnaval, esquecendo-se que, não muito longe no tempo, extrapolavam nas restrições incoerentes à população que, ainda não está longe do perigo. Se fecharam até igrejas, por que e para que, agora, o carnaval?
Por ironia da natureza, justamente agora que se esquenta a vontade de realizar o carnaval, o mundo científico anuncia o surgimento da mais recente variante (ômicrom) do novo coronavírus, uma incógnita ainda, mas certamente mais perigosa devido a características especiais. E aí, ainda vão falar em carnaval 2022?
Se fosse uma DEMOCRACIA ABERTA, que dispensa partidos políticos, todas as confusões produzidas em torno da pandemia COVID-19 e todo sofrimento delas decorrentes, não teriam existido. Cientistas e profissionais da saúde teriam tido liberdade e tranquilidade para cuidar do assunto que lhes compete, pois somente eles têm o conhecimento específico e necessário para tal. Mentiras, tretas, mutretas, desvio de verbas da saúde pública, em algumas unidades da federação e a rancorosa CPI da COVID-19 seriam peças de ficção. Políticos querem carnaval? Pois que promovam e nele chafurdem, mas deixem o povo fora! PARTIDOSS POLÍTICOS JÁ FIZERAM MAL DEMAIS À HUMANIDADE!