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Ponto de Vista do Batista
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Estamos todos no mesmo barco LXVII

Para sair da mesmice do noticiário televisivo, que “agarrou” na COVID-19 com conteúdo nem sempre confiável, politizado e um viés amedrontador, em lugar da informação e orientação corretas, aguardadas pelo telespectador, para que toque a vida, ainda que com alguma dificuldade, porém com mais confiança para não sucumbir ao pânico, notícia diferente sacudiu o Brasil, nos últimos dias.
Primeiro foi o anúncio de que massa polar atingiria grande parte do território brasileiro, a partir do Rio Grande do Sul. Informava-se que se tratava de fenômeno incomum, que faria baixar a temperatura até vinte graus negativos, em cidades mais ao sul, trazendo muita geada e, possivelmente, neve. Sabe-se que em invernos mais rigorosos há ocorrências de neve, em algumas cidades do sul, especialmente na serra catarinense, fraquinha, é verdade, mas suficiente para atrair turistas internos, que nunca viram o fenômeno. Metade do país entrou em estado de alerta, por motivos diversos, uma vez que frio tão intenso a jogar para baixo dados estatísticos relativos a temperatura, no inverno, mexe com vários setores; turistas bem agasalhados e com dinheiro no bolso assanham-se na organização de viagens, para ver neve, pela primeira vez, ou repetir a dose; agricultores têm que se prevenir contra ou para que maiores não sejam os inevitáveis prejuízos; governos, entidades socio-filantrópicas e pessoas altruístas passam a ter como alvo de preocupação as camadas mais vulneráveis da população, sobretudo aquela em situação de rua.
Nas redes sociais, nos encontros distanciados e contatos telefônicos, o assunto mais abordado passou a ser a onda de frio, que vinha para marcar época em concorrência com a COVID-19. Aqui, sou levado a fazer um paralelo, inevitável para quem já viveu, vive e pretende ainda viver muitas transições.
Nascido na primeira metade do século vinte e tendo aprendido a garatujar as primeiras letras numa lousa portátil de ardósia; vivido a infância em casa de piso de terra batida, sem luz elétrica e sem água encanada, época na qual deslocamento de Cachoeira a Ouro Preto era considerável viagem, entrei no século vinte e um com a sensação de ter nascido na era das cavernas. Diante de tantas transformações e conquistas humanas, entre as quais se inseriam as minhas de natureza pessoal, a sensação não poderia ser outra. Em minha infância e juventude, fenômenos naturais como chuva, leve ou tempestuosa, ondas de frio e de calor, pegavam a todos de surpresa, com riscos de prejuízos, morte e tudo o mais. Como ainda não havia poluição, a geada ocorria com mais frequência, cobrindo de branco o centro de Cachoeira; chuvas persistentes, então chamadas “invernadas” duravam semanas, para desespero das donas-de-casa, que precisavam secar a roupa e ter a lenha também seca, para cozinhar. O Maracujá, que podia ser chamado “rio” de águas límpidas e piscosas, saltava do leito, pelo menos, duas vezes por ano, a lamber tudo, algo bem distante de suas margens. Por isso, podia-se dizer que Cachoeira tinha até praia de areia branquíssima e fina, formada pelo Maracujá. Tudo isso acontecia sem que houvesse aviso prévio! Hoje, sabe-se tudo com antecedência e precisão! Só não se sabe, o que vai na cabeça de seu semelhante, simploriamente considerado amigo! 
Depois do anúncio veio a confirmação. O Rio Grande do Sul parecia ter sido engolido por frigorífico gigante, com precipitação de neve em cerca de trinta cidades, tendo Santa Catarina e o Paraná como acompanhantes na mesma situação. A reação dos produtores rurais deverá vir depois, também não se viu a dos pobres desvalidos, mas, imagina-se a dos hoteleiros a rir de satisfação pelo dinheiro a entrar e das bobices dos turistas tupiniquins diante da neve a cair. Destes últimos vi a reação por meio de vídeos por eles mesmos postados. Meu Deus! Quanta basbaquice! Confirma-se o que a mamãe dizia: quem nunca comeu melado, quando come se lambuza! Imagine-se a reação do norte-americano, do europeu e mesmo do vizinho ao sul a ver esses vídeos! Por mim, pode cair até neve colorida, cintilante ou saborosa tal como os doces que mais aprecio! Tô fora! Não tenho vocação pra pinguim!

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