Diante de uma novidade prazerosa é normal, se não por período prolongado, o desvio da atenção antes concentrada em outras coisas, outras atividades. É o que se poderia chamar síndrome do deslumbramento. É a criança que, ao ganhar um brinquedo, ansiosamente aguardado, passa a desprezar os demais brinquedos e, pior, a negligenciar as atividades escolares; o(a) jovem que, no início de sua vida afetiva, se distancia dos familiares, às vezes, maltratando-os com palavras duras; e o adulto a se concentrar no trabalho e nos negócios, deixando a família sem atenção. Cabe então ao bom senso estabelecer limites para que o novo, ao invés de trazer prazer, conforto, comodidade, bem-estar, passe a prejudicar o bom andamento do dia-a-dia e causar entraves à vida.
No caso da pandemia da COVID-19 está a acontecer algo similar, no sentido inverso, porém a também causar prejuízos à vida. A COVID-19 foi uma novidade, que sacudiu a vida e desviou as atenções de todo o mundo. Como ela não trouxe prazer, mas sofrimento, o desvio das atenções não se deu, obviamente, por deslumbramento, mas, sim, pela síndrome do medo. Logo à chegada da pandemia ao Brasil, critiquei o tom amedrontador de um apresentador de televisão ao falar da doença que se espalhava pelo mundo, porque em clima de pânico toda e qualquer situação se complica.
No caso da COVID-19, nome então, ainda mal decorado, quem deveria dar orientação seria a autoridade médica, e somente ao profissional médico o indivíduo deveria dar crédito. O que menos se necessitava, naqueles momentos, era da opinião de leigos em ciência médica, embora profissionais da comunicação. Mas, o pitaco televisivo já havia efeito estragos, agravados pela politização, oportunista, diga-se de passagem, levando a população ao clima de medo, quando o correto seria o clima de cuidado, acrescido de boa orientação no sentido de não se cultivar o medo e evitar o pânico.
Teve mais sorte o cidadão residente em cidades menores, onde o clima de incerteza diante da desinformação era e ainda é fato, mas a liberdade não chegou a ser ameaçada como em outras comunas, que teve cidadãos presos, algemados, só porque estavam sentados num banco de praça pública, ou, a gozar do ar puro na praia deserta. Foi nesse clima de medo, da doença, das ameaças e das arbitrariedades, que o cidadão passou a não mais se cuidar quanto a outros aspectos da saúde. Deixou de visitar o médico, regularmente, enquanto negligenciava o controle da hipertensão, do diabetes e do colesterol; fechou-se dentro de casa, ligou a usina das ideias mórbidas e só não ficou louco, de vez, porque alguém ao seu lado o chamou à realidade e o fez reagir, mostrando-lhe que o mundo não acabou e a vida continua.
Contudo, o que mais preocupa com relação ao desvio da atenção provocada pela pandemia pode ter consequências, no futuro, quando a COVID-19 talvez já seja uma triste lembrança. A vacinação infantil contra as demais doenças tem sido negligenciada, o que põe em risco a saúde e a vida de muitas crianças, destacando-se aí os prematuros, que costumam ter baixa imunidade, além de um sistema respiratório mais frágil. Segundo análise feita por especialistas da área, menos da metade dos municípios brasileiros atingiu, até abril, a meta estabelecida para nove vacinas. É lamentável que a população esteja a se descuidar com relação a essas vacinas, pois graças a elas reduziu-se, drasticamente a mortalidade infantil e muitas sequelas se evitaram, em razão de as doenças causadoras terem sido extintas.
Enquanto descuidam de si próprias e das crianças, quanto às vacinas em suas idades, essas pessoas buscam, avidamente por vacinas anti-COVID-19 que, a bem da verdade, ainda não têm garantia; são tentativas válidas, à disposição da população, mas são tentativas e não promessas de fim à COVID-19 e fim da pandemia! Compreende-se o anseio das pessoas, mesmo porque isso é parte do instinto de autodefesa, porém melhor seria se sob regência do próprio discernimento, livre de influências estranhas e externas. Com relação a esta pandemia, há muitas coisas obscuras à espera de conhecimento, ainda não aflorado ou não detectado, porque as atenções se voltam para o que não deveria estar presente na situação em curso. Que a busca pela vacina anti-COVID-19 seja feita pelo indivíduo, de forma consciente, de acordo com a própria vontade e conveniência, sem descurar, em momento algum, das vacinas, já conhecidas e consagradas pelo público como defensoras da saúde e da vida de seus filhos!